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'Palavras Inquietas' abre segunda casa para sem-abrigo no Porto

A associação 'Palavras Inquietas', do Porto, arrendou uma casa para albergar um ex-toxicodependente, uma antiga emigrante e um operário desempregado, todos sem-abrigo, e prepara-se para abrir outra até ao final do ano, disse hoje fonte envolvida no projeto.

'Palavras Inquietas' abre segunda casa para sem-abrigo no Porto
Notícias ao Minuto

10:35 - 17/09/16 por Lusa

País Associação

Organização sem fins lucrativos, a "Palavras Inquietas" nasceu em fevereiro de 2015 e, corporizando o mote de "transformar vidas", arrendou uma casa no final desse ano na zona de Paranhos, no Porto e já conseguiu emprego para um deles.

Catarina Torres, técnica social e responsável pelo projeto, explicou à Lusa que foi através da "contribuição de empresas, privados e de amigos" que a instituição conseguiu a verba para a casa onde alojou três pessoas que viviam nas ruas do Porto, incluindo Daniel Marques, de 34 anos.

A "procura ativa de emprego" que foi feita permitiu já a Daniel começar a trabalhar como empregado de armazém, depois de um percurso que o fez sair de casa aos 5 anos, passando depois por um orfanato, um colégio de alta segurança até ser preso, aos 16 anos.

Toxicodependente, esteve três vezes preso, somando sete anos atrás das grades, mas foi na rua, disse à Lusa que passou mais tempo, "entre 12 e 14 anos".

Passar a viver na casa-abrigo deu-lhe novos horizontes e o emprego, uma nova disciplina de vida.

"Se pudesse teria mudado tudo o que fiz, mas agora só penso em ter a minha casa, o meu carro e uma família", disse o mais jovem dos três residentes.

Ricardo Carvalho, de 43 anos, viveu até aos 25 anos com a família, mas uma relação conflituosa com o padrasto fê-lo sair de casa e hospedar-se numa pensão "enquanto durou o pé-de-meia".

Operário da construção civil viu a crise tirar-lhe "os biscates que ia fazendo" e os primeiros três meses na rua "foram a pão e água", diz este amigo de Daniel Marques, através de quem chegou à casa que agora habitam.

"Nunca perdi a esperança. O que não é hoje, amanhã vai ser. E conseguirei os meus objetivos", disse, esperando agora um emprego "para estabilizar a vida".

Ermelinda Lopes, de 53 anos, e natural de Avintes, teve também uma vida atribulada e as necessidades da vida fizeram-na emigrar, mas não se adaptou e decidiu regressar, juntando-se a um homem antes de, aos 40 anos, "acabar na rua ou em casa velhas".

Durante este tempo, teve dois acidentes vasculares cerebrais e uma parte de si "começou a perder-se" até que, por frequentar a Associação Benéfica Previdente chegou à "Palavras Inquietas", onde, numa casa com três quartos e zonas comuns, encontrou nova família.

"Não tive qualquer problema em habitar esta casa com estas duas pessoas, pois já as conhecia", disse Ermelinda Lopes, que ocupa uma parte do seu tempo livre com trabalhos manuais na associação onde foi descoberta.

Catarina Torres revelou à Lusa que a associação "Palavras Inquietas" está num processo de "angariação de fundos para abrir uma segunda casa em Ramalde até ao final do ano", num esforço que dita também a abertura, "muito em breve", de uma loja social.

Para poder arrendar até ao final do ano uma segunda casa de que ainda procura, a "Palavras Inquietas" espera reunir "entre quatro e cinco mil euros", pois, segundo a técnica social "continuam a chegar pedidos de ajuda".

Paralelamente, aquela associação vai levar a cabo entre setembro e outubro uma recolha de agasalhos e de cobertores no distrito do Porto para distribuição pelos sem-abrigo.

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