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Reality shows: "Escravos da imagem" ao serviço do voyeurismo

Já passaram 16 anos desde que estreou em Portugal o primeiro reality show televisivo. Depois de sete edições de 'Big Brother', de cinco 'Casa dos Segredos' e, mais recentemente, de três 'Love on Top', por que razão se continua a apostar nestes programas?

Reality shows: "Escravos da imagem" ao serviço do voyeurismo
Notícias ao Minuto

09:17 - 25/09/16 por Patrícia Martins Carvalho com João Oliveira

País Balanço

Após a estreia do primeiro Big Brother, em 2000, foi notória uma aposta cada vez mais arrojada no conteúdo que se quis dar ao telespectador. O quotidiano normal de pessoas anónimas deu lugar a pessoas com segredos por revelar ao país. Mais tarde, o propósito passou a ser a criação de climas propícios à formação de casais. 'Love on Top' foi o primeiro programa de 'bolinha vermelha' a ser transmitido no horário nobre da televisão portuguesa.

As três edições do 'Love on Top', contudo, não tiveram o retorno esperado em níveis de audiência e levaram a estação de Queluz de Baixo a voltar a jogar pelo seguro, fazendo regressar no passado dia 11 a 'Casa dos Segredos', que já vai na sexta edição.

Esse novo capítulo, curiosamente, teve o share mais baixo de todas as edições anteriores (29,7%), tendo sido visto, ainda assim, por mais de um milhão de telespectadores. Mas o que explica que, volvidos 16 anos, este tipo de programa continue a conquistar espaço na programação televisiva nacional?

A "tendência naturalmente voyeurista do ser humano"

Marta Cardoso, que participou no primeiro 'Big Brother', justifica este facto com a “tendência naturalmente voyeurista do ser humano”. "Não é uma questão de idade ou de estrato social. Apenas faz parte da natureza humana", explicou a participante ao Notícias ao Minuto.

Para a ex-concorrente, que ficou conhecida pela relação amorosa com outro concorrente (Marco Borges) com quem viria a casar e a ter um filho, a “geração que hoje concorre” não é a mesma que concorria há 16 anos.

A mediatização, admite, é um dos fatores que leva tantas pessoas a quererem entrar neste tipo de programa. O que, na sua opinião, é “tão legítimo” como qualquer outro motivo. Mas, embora “legítima”, esta busca pelos 15 minutos de fama torna os concorrentes, na ótica de Marta Cardoso, “escravos da imagem” o que faz com que “não aproveitem a experiência a 100%”.

"Há muita gente que procura ridicularizar os reality shows dentro da própria TVI"

Opinião bem diferente e mais assertiva é a de Wilson Teixeira, antigo concorrente da terceira edição da 'Casa dos Segredos' que, defende, foi o programa com mais sucesso devido a um aglomerado de fatores. Wilson, que se inscreveu no programa "por brincadeira", acredita que, tal como ele, muitos veem nos reality shows um atalho para a projeção pessoal.

A crise no país, a dificuldade de os jovens encontrarem um emprego. As pessoas veem aquilo como uma oportunidade de abrir portas profissionais e terem uma ocupação onde ganham algum dinheiro naquela aventura. Essa parte financeira é um dos fatores que leva tanta gente a concorrer. Depois é a curiosidade. Vivemos num mundo recheado de atenções. Cada vez mais as pessoas gostam de ser o centro das atenções e fazem de tudo para ter likes nas redes sociais

Ao Notícias ao Minuto, o ex-concorrente confessa que a sua participação lhe abriu portas a nível profissional, mas nem tudo foi um mar de rosas, e não foi só para ele.

"Fico um bocadinho magoado com o que a TVI faz aos concorrentes da 'Casa dos Segredos'. Há ali muita inveja e preconceito com os concorrentes de um reality show. Há muita gente que procura ridicularizar os reality shows dentro da própria TVI. Por exemplo, nas manhãs da TVI, os apresentadores, quando falam na 'Casa dos Segredos', parece que estão a fazer um frete. Mesmo nos próprios corredores. Se nós passarmos na zona da informação, dizemos boa tarde às pessoas e elas viram-nos a cara", desabafa Wilson Teixeira.

O polémico participante conta, inclusive, que na festa de aniversário da TVI foi-lhe recusada a entrada no recinto. "Amigos meus que estavam comigo entraram na festa e a mim não me deixaram entrar. A mim e a mais dois concorrentes dos reality shows. Disseram-me que o meu nome não estava na guest list, mas os meus colegas também não tinham o nome na guest list e entraram. Não percebo porquê. Nós somos seres humanos, não somos nenhuns bichos".

Apesar de todo este 'jogo de bastidores' que fica fora do pequeno ecrã, Wilson garante que voltaria a inscrever-se, porque as amizades que se criam e o desafio que se supera justificam as muitas obrigações a que os concorrentes se submetem.

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