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Coimbra: Preconceito contra alunos lusófonos no arrendamento é pontual

Na hora de escolher um quarto em Coimbra, estudantes brasileiros e africanos podem deparar-se com situações de discriminação por parte de senhorios. A situação não é generalizada, mas há registos de vários casos, alertam associações.

Coimbra: Preconceito contra alunos lusófonos no arrendamento é pontual
Notícias ao Minuto

12:19 - 11/09/16 por Lusa

País Reportagem

Coimbra é uma cidade marcada pela sua universidade, que se mostra aberta e orgulhosa da sua diversidade e procura todos os anos aumentar o contingente de estudantes internacionais.

No entanto, algumas das associações de estudantes de países lusófonos contactadas pela agência Lusa falam de alguns casos de discriminação no momento de se escolher um quarto, deparando-se com senhorios preconceituosos.

"Não alugo a negros" ou "só alugo a nacionais" foram algumas das respostas que estudantes de países lusófonos já ouviram quando procuravam um quarto numa cidade onde por esta altura pululam os anúncios de apartamentos a arrendar.

Élida Brito, cabo-verdiana a estudar em Coimbra desde 2008, ouviu ao longo dos anos relatos de colegas seus a falarem de casos de senhorios racistas: "Achava que os meus colegas exageravam".

Depois de ter estado numa casa em que tinha uma relação "muito boa com a senhoria", a estudante de Engenharia Eletrotécnica deparou-se com a primeira situação de discriminação este ano.

"Encontrei uma casa que era do meu interesse e, primeiro, disseram que sim". Porém, mais tarde, foi-lhe dada a resposta de que "não preenchia os requisitos" por causa da cor da sua pele.

Há situações não tão diretas, constata, referindo casos de colegas em que o senhorio apenas diz que a casa não está disponível na hora de assinar o contrato, mas, contactado posteriormente, "a casa continuava disponível".

Todavia, Élida Brito ressalva que esta não é uma regra geral. Depois de se deparar com uma "situação de racismo tão direta", passou a avisar os senhorios que contactava que era "de cor" e "nenhuma pessoa se mostrou preocupada com isso".

Também com os estudantes brasileiros já houve casos de discriminação na hora de procurar um quarto em Coimbra, disse à Lusa o presidente da Associação de Estudantes e Pesquisadores Brasileiros em Coimbra, Eduardo Monteiro.

"Não é algo generalizado, mas acontece", observa, sublinhando que, para além do preconceito em torno do brasileiro, as probabilidades de discriminação aumentam quando este é "negro ou mulher".

Muitas vezes, a discriminação é feita de forma indireta ou "por medo" e não tanto a partir de uma posição "arrogante", explana, realçando que, apesar dos casos que vão sendo relatados, Coimbra é "uma cidade recetiva" e que nota que tem vindo "a mudar".

Para além destas questões, Eduardo Monteiro repara que também há alguns senhorios que têm a ideia de que os brasileiros que estudam em Portugal, porque estão cá, "têm dinheiro" e tentam explorar, pedindo mais do que o acordado.

Henrique Pinhel é o presidente da Associação de Estudantes da Guiné-Bissau em Coimbra e já sentiu "na pele" o racismo.

Ao procurar casas para acolherem estudantes da Guiné-Bissau na cidade universitária, Henrique ouviu justificações como os africanos "fazem barulho" ou "só arrendo a portugueses".

"Somos todos estudantes. Não se pode estar a diferenciar pela cor da pele de cada um", comenta o estudante de Direito.

Já Osvaldo Kidi, presidente da associação de estudantes angolanos em Coimbra, não tem conhecimento de qualquer situação e entende Coimbra como uma "cidade aberta e acolhedora de um modo geral".

No caso da associação de estudantes moçambicanos, também não há registo de recusas por parte de senhorios, conta o presidente Olímpio Machachane.

Porém, enfatiza, existe "um certo preconceito dos senhorios", que arrendam, mas ficam de pé atrás.

"Ficam desconfiados e temem que o estrangeiro vá estragar a casa", aponta.

Demicy Vaz, há sete anos em Coimbra e presidente da associação de estudantes cabo-verdianos, acredita que não é uma situação generalizada, mas deverá acontecer "todos os anos, nesta altura".

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