Nas alegações finais, que decorreram durante a manhã, a procuradora Marianela Figueiredo considerou existir "prova inequívoca" de que os arguidos cometeram os crimes pelos quais estão acusados.
A procuradora referiu-se ainda ao perigo que estas corridas representam, adiantando que "o desprezo pela vida alheia neste tipo de corridas é absolutamente assustador".
"Podíamos estar perante a perda de vidas humanas", disse a procuradora, lembrando o depoimento de uma testemunha de acusação, interveniente num acidente de viação onde esteve envolvido um veículo referenciado nas corridas. Essa testemunha contou "de que forma foi colhida e como viveu essa experiência", realçou.
Marianela Figueiredo censurou ainda a postura dos arguidos, que se remeteram ao silêncio durante o julgamento, e de várias testemunhas de acusação que, no seu entender, "faltaram à verdade".
Face às contradições dos depoimentos feitos aquando do inquérito com as declarações prestadas em tribunal, o Ministério Público mandou extrair várias certidões para a instauração de processo-crime por falsas declarações.
A defesa foi unânime a pedir a absolvição dos arguidos por entender não haver provas de que os mesmos estariam ao volante dos veículos que participaram nas corridas, um facto que levou alguns advogados a dizer que parecia que o tribunal estava a julgar carros e não pessoas.
O advogado César Sousa aludiu também ao facto de esta corrida, conhecida vulgarmente como ‘street racing', só ter sido penalizada criminalmente após 15 de Setembro de 2007, concluindo que nos casos referidos nos autos, antes dessa data, "não houve crime".
Marisa Macedo, advogada do arguido interveniente no acidente e o único que chegou a ser identificado, também pediu a absolvição do seu cliente, argumentando que o mesmo "não pode ser condenado por ele próprio, sozinho, ter feito estas corridas na auto-estrada".
Os 17 arguidos estão acusados de condução perigosa, dois dos quais por autoria moral, e incorrem numa pena até três anos de prisão. Um dos arguidos está ainda acusado de um crime de condução sem habitação legal.
Segundo a acusação, os suspeitos participaram em "corridas ilegais" que, durante dois anos, se fizeram entre os nós de Estarreja e Albergaria-a-Velha da A1, com carros transformados, que atingiam altas velocidades.
Os arguidos foram identificados em Novembro de 2007 pela GNR, que apreendeu 13 automóveis transformados para aumentar a potência, após ter montado uma operação de vigilância com carros descaracterizados, que eram ultrapassados pelos "corredores" a uma velocidade superior a 200 quilómetros por hora.
As corridas realizavam-se habitualmente nas noites de domingo e juntavam centenas de espectadores, o que alertou a GNR, dado o movimento anormal na área de serviço de Antuã e na praça de portagens de Albergaria-a-Velha.
Numa das corridas, alguns dos arguidos chegaram a provocar um acidente de viação envolvendo uma viatura estranha à competição, na qual seguia um casal de ocupantes, segundo a investigação do caso.
Deste acidente não resultaram consequências graves para a integridade física dos intervenientes.
Todos os arguidos são conhecidos entre si, conduziam ao despique ou facultavam as suas viaturas para que terceiros, seus conhecidos, competissem.