“Junto das comunidades cristãs está mesmo a aumentar de uma forma estranha: apercebemo-nos de pessoas equilibradíssimas, mas que perderam o seu projecto de vida e que não falam em destruição da vida, mas de procurar uma vida melhor, para além da própria morte”, revelou.
O padre sublinhou que não pretende cingir-se “à relação do suicídio com a crise actual”, mas admitiu que “este é um factor que contribuiu hoje para que as pessoas cheguem a situações limite, ao perderem o seu projecto de vida e a braços com depressões muitas vezes mal tratadas”.
Feytor Pinto frisou que a dimensão social do ser humano que, contudo, está a ficar isolado e desamparado e o problema da solidão é, por isso, preocupante.
“Só na paróquia de Campo Grande [Lisboa] temos 900 pessoas que vivem sozinhas e com as quais temos procurado reforçar as redes de vizinhança e proximidade”, exemplificou.
O coordenador Nacional da Pastoral da Saúde, ligada à Igreja Católica, defendeu que estas duas situações, as dificuldades económicas e a solidão “dão origem a depressões, a enfermidades e à debilidade psicológica e física, e por isso se trata de uma questão de saúde pública”.
A Direcção-Geral da Saúde (DGS) colocou em discussão pública o “Plano Nacional de Prevenção do Suicídio 2013-2017” até ao próximo dia 30 de Abril.
Segundo a DGS, o plano “é uma necessidade premente do país tendo em conta o impacto do suicídio na saúde pública, o aumento das taxas de suicídio registado pelo INE na última década”, bem como a subnotificação dos suicídios, que oculta a verdadeira dimensão do fenómeno”.
Os últimos números apontam que em Portugal a taxa de suicídios por 100.000 habitantes foi de 10,3, superior à de quaisquer outras mortes violentas, nomeadamente por acidentes de viação e acidentes de trabalho e ultrapassa a média europeia.
Portugal é, de resto, o terceiro país da Europa onde o suicídio mais cresceu nos últimos 15 anos, estimando-se que morram mais de cinco pessoas por dia, revelou em Março um relatório europeu, dados que constam do projecto OSPI-Europe.
Na Europa, além de Portugal, este fenómeno de aumento só se verifica em Malta, na Islândia e na Polónia. As doenças mentais comuns afectam quase 23% dos portugueses adultos (mais de dois milhões por ano) e a depressão afecta 7,9% dos adultos (400 mil pessoas), sendo o suicídio uma complicação médica resultante destas perturbações mentais, em particular da depressão.
Em Portugal morrem por ano cerca de duas mil pessoas por suicídio, sendo mais de mil registadas como suicídio e outras tantas como mortes violentas indeterminadas, estimando-se que mais de 75% destas sejam suicídios escondidos.