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Alemanha tem sido o único país dos "três grandes" a valorizar a UE

O ex-presidente da Comissão Europeia, Durão Barroso, considerou hoje que a Alemanha é o único país "dos três grandes" que tem "valorizado" a União Europeia (UE) e sublinhou o papel de Portugal no espaço europeu.

Alemanha tem sido o único país dos "três grandes" a valorizar a UE
Notícias ao Minuto

20:54 - 28/06/16 por Lusa

País Durão Barroso

"Quando os principais acionistas desvalorizam a sua sociedade, cai o valor das ações dessa sociedade. É que se está passar", referiu o ex-responsável da Comissão, um cargo que ocupou durante dez anos (2004-2014), ao intervir numa sessão no Estoril em torno dos desafios da UE e os resultados e consequência do referendo britânico, organizada pelo Estoril Political Forum e o Instituto de estudos políticos da Universidade Católica, em associação com o International Forum for Democratic Studies (Washington DC).

"Dos três grandes países", assinalou numa referência ao Reino Unido, França e Alemanha, "o único que tem no essencial valorizado a UE tem sido a Alemanha, nomeadamente a chanceler (Angela) Merkel, com quem trabalhei, e verifiquei que ela investia na UE. Esse ponto é essencial", disse.

O também antigo primeiro-ministro português (2002-2004) assinalou que o Reino Unido "tem sistematicamente desvalorizado a UE", colocando o agora demissionário primeiro-ministro britânicos David Cameron numa situação paradoxal, por ser "muito difícil, apesar da sua qualidade e esforços, em dois meses dizer o contrário do que andou a dizer 20 anos".

E insistiu: "O primeiro-ministro Cameron andou 20 anos a atacar a UE e queria convencer os ingleses em dois meses de que a UE era uma coisa boa", sem deixar de frisar que o resultado do referendo de quinta-feira sobre o 'Brexit' "necessita de uma análise sociológica e política do voto".

As críticas foram extensíveis à França, o país que juntamente com a Holanda provocou a primeira crise institucional no mandato de Durão Barroso, ao rejeitarem por referendo o Tratado Constitucional, antes da crise ucraniana e do início da vaga de imigrantes e refugiados.

"Disse isto ao Presidente Chirac quando foi o referendo em França. Não podes atacar a Europa de segunda a sábado e dizer às pessoas para votarem na Europa no domingo", recordou.

Uma questão central que o ex-responsável da Comissão Europeia insistiu em recordar: "a minha sinceridade tem aumentado cada dia que passa, não por contradição com o que dizia antes, mas porque estou mais à vontade".

"O mesmo se passa em França, com outro tipo de euroceticismo, porque a França em vez de querer uma França europeia está talvez a querer uma Europa francesa, e continua sistematicamente a criticar a UE, mas pelas razões opostos do Reino Unido".

Nesta radiografia do "Estado da União", uma referência outros países do bloco mais pequenos, onde incluiu Portugal.

"Também tem a sua palavra a dizer porque a maioria dos países são de dimensão igual ou inferior a Portugal. Não há que ter complexos de ser pequeno. Portugal e os outros países têm de ver a UE não como uma potência externa mas como eles sendo parte ativa da UE. Se continuarmos sistematicamente a usar a UE como bode expiatório não vamos a lado nenhum".

Na perspetiva do ex-chefe de Governo e antigo dirigente do PSD, o maior risco para a União Europeia, na sequência do resultado do referendo de quinta-feira no Reino Unido que vai implicar a saída do país do espaço comunitário ('Brexit'), é a desintegração, e as tentativas em "criar um precedente" para novas deserções.

"Por isso estou convencido que os líderes mais responsáveis da União, e temos de contar sobretudo com a senhora (Angela) Merkel, que hoje em termos de liderança é o ponto de equilíbrio essencial na UE, vão procurar minimizar riscos e procurar formas de consenso para que a União se mantenha e reforce mesmo sem a presença do Reino Unido", considerou.

Durão Barroso centrou a atual crise na esfera essencialmente política, e estabeleceu comparações.

"Nenhum projeto político tem sucesso se os seus principais acionistas não investem nele. E o que se passa na UE essencialmente é isto. Os principais acionistas, em vez de investirem na sua sociedade são os primeiros a desvalorizar a sua sociedade", referiu perante uma plateia composta sobretudo por académicos, diplomatas e estudantes.

"Se continuarmos a europeizar os fracassos e a nacionalizar os sucessos, como fazem os políticos nacionais na maioria parte dos casos, quando as coisas vão bem é o êxito deles, quando vão mal a culpa é de Bruxelas, esquecendo-se ou escondendo às pessoas que as decisões foram tomadas por eles em Bruxelas, mas foram eles que as tomaram", sustentou.

E ao recuperar alguns dos momentos dos quais foi protagonista, recordou: "As decisões em relação ao euro foram tomadas por unanimidade em todos os Estados-membros. Mas depois vêm para as suas capitais dizer que têm de questionar Bruxelas, de fazer referendos contra Bruxelas".

No decurso de uma intervenção com mais de 20 minutos, à qual se seguiu um período de questões e uma declaração final, o ex-chefe do governo português definiu o "problema essencial da UE" como um "sentimento de pertença, de responsabilidade", sem deixar de admitir uma "quota-parte de responsabilidade" das instituições europeias, que por vezes "mostram um estranho alheamento em relação à realidade dos cidadãos nos seus países, vivendo quase num mundo à parte".

Mas precisou que o cerne do problema não reside na questão institucional.

"Não é com mais medidas institucionais nem com mais tratados que se vai resolver o problema. É um problema político, que exige da parte dos responsáveis a nível nacional um comprometimento verdadeiro com o projeto europeu", adiantou.

Durão Barros disse detetar neste "compromisso" uma oportunidade.

"Espero que haja inteligência e sentido de responsabilidade suficientes para que os líderes europeus agora em vez de avançarem para situação de ressentimento ou de revanchismo, em vez de avançarem para o pessimismo e negativismo, procurarem encontrar o que pode ser a base para um novo acordo político positivo para a Europa, em vez de sistematicamente procurarem desvalorizar as instituições europeias".

O rescaldo da votação do referendo, que implicou uma crise política interna em Londres com resultados ainda imprevisíveis, voltou a dominar o final da intervenção.

"Como se verificou agora com o primeiro-ministro britânico, quando se ataca a Europa normalmente acaba-se mal. Disse-lhe, eu e Merkel, quando resolveu sair do Partido Popular Europeu, que era um erro enorme, que ia criar um fenómeno progressivo de afastamento do centro da UE, em que cada vez mais o partido conservador britânico se iria identificar com o UKip", salientou, referindo-se ao partido eurocético, xenófobo e anti-imigração liderado por Nigel Farage.

"Foi o que aconteceu exatamente. Um erro que lhe custou caro, e custou a todos nós na Europa. Temos de mitigar os efeitos negativos e valorizar aquilo que podemos fazer em conjunto", defendeu.

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