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Hernâni deixou tudo por um sonho. Diz-se "sem-abrigo" em viagem

Hernâni Cardoso é um ex-militar da Força Aérea que deixou tudo para trás e partiu em nome de um sonho: Dar a volta do mundo em bicicleta. O português se auto-intitula de "sem-abrigo em viagem" conversou com o Notícias ao Minuto sobre a sua aventura que já dura há dois anos.

Hernâni deixou tudo por um sonho. Diz-se "sem-abrigo" em viagem
Notícias ao Minuto

08:50 - 29/05/16 por Andrea Pinto

País Aventura

Hernâni Cardoso, de 56 anos, é um apaixonado por bicicletas. Uma paixão que começou aos 15 anos quando regressou a Portugal, vindo de Angola, e teve conhecimento de revistas "de cicloturismo alemãs". Desde então, colecionou revistas e percursos feitos por ele próprio, acalentando o sonho de um dia percorrer o mundo em bicicleta.

Há dois anos, decidiu tornar o sonho realidade. Vendeu tudo o que tinha e de lágrima no olho partiu numa viagem que já dura há dois anos e que chegará ao fim apenas quando esta se "tornar num martírio e não num prazer".

Um sonho que o fez perder "o seu porto de abrigo"

A ideia de partir à aventura surgiu "após 32 anos a trabalhar" e numa tentativa de arranjar "a melhor forma de ocupar o tempo de reforma", pois, diz Hernâni, esta é a melhor altura para "realizar os nossos sonhos", ao invés de "ficar à espera que a morte chegue".

Para isso, contudo, teve de tomar uma decisão arriscada.

"Vendi tudo para poder viajar. Pode-se dizer que sou um sem-abrigo em viagem pois não tenho casa", afirma em entrevista ao Notícias ao Minuto, defendendo ainda que "quando se quer, faz-se".

Partir não foi uma decisão fácil. Ter de dormir a última noite no chão, depois de "ter vendido tudo", fê-lo sentir-se "perdido". O dia da partida, confessa, foi "um dia muito dificil", tendo chegado ao aeroporto de Lisboa de "lágrima no olho". Só quando entrou no avião com destino ao Porto, para depois rumar a Guimarães, onde ia iniciar a aventura, é que recuperou.

"O que raio estou aqui a fazer". A questão que quase o levou a desistir

Apesar de se tratar de um sonho, Hernâni teve de se preparar bem para o desafio, sobretudo a nível psicológico.

"Tenho de pedalar todos os dias, não sabendo muitas vezes onde irei dormir, como irei comer e estar mentalizado que mesmo que durma em campismo selvagem, no dia seguinte terei de pedalar", refere, lembrando também que existe "uma nessidade de manter a saúde estável", o que nem sempre é fácil, quando se fala, por exemplo, em países como a Índia ou Idonésia, devido "à falta de cuidados higiénicos".

Foi precisamente em Sumatra (Indonésia) que este português viveu um dos momentos mais complicados da viagem e que o levou a pensar em desistir. Quando "me sentia mal pelo calor e fraqueza e via as motorizadas a passar por mim, e eu num esforço desmedido, e eles sentados e a esforçar ligeiramente o punho", recorda.

Mas tudo mudou depois de ter recuperado em Singapura, enchendo-se de força para continuar a pedalar por um percurso que é marcado pela história de Portugal.

Lembrar aos jovens o legado português

O percurso de Hernâni foi definido com base no legado português. O ex- militar da Força Aérea tem dois objetivos nesta viagem, sendo um deles "mostrar à juventude que para estudar História de Portugal temos de sair do nosso país".

"A juventude nascida após o 25 de Abril foi instruída com uma versão da nossa história segundo a qual os feitos dos nossos antepassados não são valorizados e deveríamos ter vergonha dela", afirma, considerando que "até ao Europeu de Futebol de 2004, era uma vergonha cantar o hino nacional, usar a bandeira ou qualquer símbolo nacional".

Assim, e por forma a mostrar um país de 900 anos de história do qual muito se orgulha, Hernâni decidiu em todos os seus destinos visitar locais onde antepassados portugueses fizeram história.

Outro objetivo é entregar a um cidadão chinês de Kunming uma bicicleta que lhe foi roubada em Portugal quando viajou até ao Cabo da Roca para homenagear o Infante D. Henrique.

"Na altura ajudei-o, emprestei-lhe uma bicicleta e dei-lhe alojamento em minha casa. Quando a bicicleta foi encontrada pela GNR de Silves, decidi entregar-lha em mão, e viajei nela até Calcutá, na Índia", conta. Hernâni acabou por ter um acidente com um camião do exército indiano, que destruiu a bicicleta, não conseguindo cumprir o seu desejo. Não obstante, enviou a bicicleta destruída para que o homem a pudesse arranjar. Agora, será utilizada nos "últimos 100 Km" antes de chegar a Kunming, onde se encontrará com o amigo.

Continuar até que a viagem deixe de ser "um prazer"

Em viagem de 20 de maio de 2014, Hernâni guarda na memória, bem como no site que criou, várias momentos marcantes.

Entre eles estão, por exemplo, aquele em que esteve "presente na Missa do Galo na Igreja da Natividade", "a receção no Sultanado de Omã" ou ainda a noite em que dormiu "num quarto da casa onde viveu e morreu Vasco da Gama".

"Bem, nem consegui dormir. Na realidade tive o meu mp3 a tocar música portuguesa a noite toda", conta.

A viagem está longe de acabar, faltando, em princípio, mais quatro anos de pedaladas.

"Como não tenho satisfações a dar a ninguém, a aventura continuará até ao momento em que ela se tornar num martírio e não num prazer", refere.

Certo é que, para já, Hernâni, que muitas vezes se questiona se o que está a viver "é realmente real ou um sonho", pode orgulhar-se de uma coisa. "Mesmo que morra agora, morro satisfeito", enfatiza.

"Estou a realizar o meu sonho de vida, sonho que tinha desde criança. Quantos de nós podem dizer isso?", pergunta, em jeito de remate. 

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