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Elas estão num mundo que (supostamente) é para eles

Os exemplos que se seguem provam que não “existem empregos para mulheres e empregos para homens. Existem empregos para as pessoas que demonstram um perfil mais adequado para os ocupar”.

Elas estão num mundo que (supostamente) é para eles
Notícias ao Minuto

09:40 - 08/03/16 por Andrea Pinto

País Género

No Dia Internacional da Mulher, damos-lhe a conhecer a história de duas mulheres que não pensaram duas vezes quando decidiram entrar num mundo predominantemente masculino e construir uma carreira de sucesso.

Marisa Lúcio e Carla Ferreira trabalham, respetivamente, na área da construção civil e da programação informática. Cientes de que fazem parte de um nicho de mulheres que optam por estas áreas, ambas revelam que nem pensaram nisso quando decidiram o que queriam ser 'quando fossem grandes'. Em entrevista ao Notícias Ao Minuto, defendem que não é o seu género que dita a forma como têm sido (bem) sucedidas nas suas funções.

Uma mulher de capacete sem medo de se impor

O gosto pela área e uma forte possibilidade de arranjar emprego foi o que levou Marisa Lúcio a seguir a área da construção civil. Ciente de que iria entrar num mundo de homens, esta jovem de 32 anos nunca considerou que isso lhe fosse causar algum "transtorno". E hoje, tem a certeza disso.

"Tenho um cargo de autoridade, sempre fui respeitada e nunca senti qualquer tipo de dificuldades ou sentimento de inferioridade", afirma a licenciada em Saúde Ambiental, que se especializou posteriormente como técnica superior de Higiene e Segurança no Trabalho.

Marisa, que conjuga o seu emprego com o de maquilhadora, sabe bem que os dois mundos podem ser muito diferentes. Se nas obras a veem como “a chata da fiscal que passa não conformidades e chama a atenção dos erros sucedidos”, em frente aos espelhos é “a fada que transforma o mulherio em princesas”. A diferença de tratamentos “exige inevitavelmente” o assumir de diferentes posições.

Apesar disso, considera que as únicas dificuldades que encontra "são mesmo as relacionadas com o trabalho e com a responsabilidade que lhe é intrínseca".

Uma professora num ambiente “combativo e intimidante”

Quando escolheu enveredar pelo curso de Matemática e Ciências de Computação, Carla Ferreira deu literalmente "um tiro no escuro".

"Não fazia ideia do que era a informática, mas era algo novo e aliciante", afirma esta professora universitária, que lembra que, "na altura, a informática não era conhecida por garantir emprego".

Talvez por isso nunca lhe tenha "passado pela cabeça" que esta seria uma área maioritariamente masculina, embora isso nunca a tenha incomodado pois “vem de uma família em que constantemente presenciava o importante papel das mulheres, bem como o respeito dos homens pelas suas opiniões e decisões".

Hoje, porém, tem a noção de que "os ambientes masculinos têm tendência a ser mais combativos e podem ser intimidantes". Por isso, ciente de que "por vezes é uma representante do género", sente uma grande responsabilidade.

"Num ambiente maioritariamente masculino as mulheres tendem a ser extremamente críticas e exigentes consigo próprias. Sentem um certo medo de errar o que leva à necessidade de só expressar opiniões, ou tomar decisões, com fundamentos muito fortes", afirma a docente da Faculdade de Ciências e Tecnologia, da Universidade Nova de Lisboa, revelando que tenta evitar "ativamente trabalhar com pessoas retrógradas e misóginas".

Olhar para um emprego pelo perfil e não pelo género

“A entrada de mulheres em áreas ou cargos em que tradicionalmente predominavam os homens revela, mais do que uma necessidade de afirmação das mulheres, a consciência de que nada as impede de aceder a esses cargos”.

A afirmação é de Fátima Duarte, presidente da Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género, que em declarações ao Notícias Ao Minuto, considera que aquilo a que ainda hoje se assiste é à “segregação sexual do mercado de trabalho, que se traduz numa maior orientação de mulheres para determinadas profissões ou áreas de atividade, que tradicionalmente são consideradas mais ‘adequadas ao sexo masculino”. Isto, embora “a lei portuguesa garanta o acesso de mulheres e de homens a todos os cargos e funções profissionais”.

Apesar disso, defende Fátima Duarte, é preciso continuar a “combater a ideia de que existem empregos para mulheres e empregos para homens”. Existem, sim, “empregos para as pessoas que demonstram um perfil mais adequado para os ocupar, seja em termos de preparação académica ou profissional, seja pelas suas características pessoais”.

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