Às portas da cidade de Coimbra, quase só se via água hoje à tarde na planície aluvial que acompanha o Mondego até à Figueira da Foz, onde desagua, com o rio a invadir campos agrícolas e a inundar estradas.
Em Alfarelos, um funcionário da CP, que trabalha naquela estação há cerca de 30 anos, diz à agência Lusa que não via umas cheias "assim" desde 2001. No entanto, na altura, foram mais de 600 metros de linha ferroviária que ficaram submersos, recorda.
Passou o dia a responder a perguntas de passageiros e a prestar informações de pessoas que queriam trocar os bilhetes ou o reembolso de títulos comprados, face à interrupção da circulação entre Coimbra B e Pombal.
Na estação, vai-se ouvindo a "Marta", nome dado pelo funcionário à voz gravada da CP que normalmente anuncia atrasos, chegadas e partidas. Desde as 14:00 de sábado "que está nisto" - a pedir desculpa "pelos incómodos causados".
"Chega ao fim do dia cansadinha, coitada", consta o funcionário, rindo-se.
Circular de carro entre Coimbra, Soure e Montemor-o-Velho, também se revela hoje uma tarefa difícil, repleta de inversões de marcha e desvios, devido ao elevado número de estradas cortadas - o Comando Distrital de Operações de Socorro (CDOS) de Coimbra aponta para cerca de 30 vias interditas à circulação.
Maria Ângelo, de 54 anos, que "só em 2001" é que viu algo igual, ajudava hoje à tarde a dar indicações aos automobilistas na pequena localidade de Ribeira da Mata, ao pé de mais uma estrada cortada. "Estou quase a funcionar como guia", admitiu.
Joaquim Redondo, de 67 anos, morador na mesma aldeia, tem a água perto da sua casa, mas sem ameaçar entrar, como lhe aconteceu em 2001. Pior sorte teve uma vizinha sua que viu a casa inundada.
"A gente ainda ajudou e tentou salvar algumas coisas, mas tem lá um prejuízo valente", afirmou.
Apesar de ter dois ou três campos de cultivo alagados, a preocupação de Joaquim não é muita. "Só para março é que é a sementeira", aclara.
Em Montemor-o-Velho, a abertura de um dique desfez parte de uma estrada agrícola, sendo possível ver a água a invadir os campos, de forma a aliviar o leito do rio Mondego.
De acordo com fonte do CDOS, apesar das estradas cortadas, "não há populações isoladas".
Durante sábado e hoje, o mau tempo fez-se sentir na zona da bacia do Mondego, com Coimbra a ser uma das áreas mais afetadas, com o Mosteiro de Santa Clara-a-Velha a ser de novo inundado pelas águas do Mondego, que submergiram também as esplanadas do Parque Verde e ameaçaram a localidade de Cabouco, nas margens do rio Ceira.