"Há um imperativo de reduzir a capacidade de carga da ilha para evitar o excesso de visitantes em algumas alturas, mas queremos chegar a uma solução que não prejudique os interesses económicos, mas antes concilie todos os interesses", afirmou à agência Lusa Maria de Jesus Fernandes, diretora dos parques e reservas geridos pelo ICNF na área de Lisboa e Vale do Tejo, sem avançar prazos.
A responsável falava à margem das I Jornadas do Conhecimento da Reserva da Biosfera das Berlengas, que decorrem hoje na Escola Superior de Turismo e Tecnologia do Mar de Peniche.
Durante as jornadas, foram apresentados dados de monitorização da visitação que apontam para uma presença média de meio milhar de turistas, "significativamente maior" do que a capacidade máxima estipulada de 350.
O estudo do Centro Interdisciplinar de Ciências Sociais da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, da Universidade Nova de Lisboa, coordenado por Carlos Pereira Silva, concluiu que visitam anualmente a ilha da Berlenga mais de 65.650 pessoas, das quais 43.250 na época alta (meses de verão) e 22.400 na baixa.
Por dia, os visitantes chegam aos 687 na época alta e 400 na época baixa.
Baseado na observação de visitantes, mas também em inquéritos aos mesmos, o estudo conclui que 61% visita a ilha pela primeira vez, 70% diz que o que visitou corresponde às expetativas e 90% tenciona voltar.
Em setembro de 2014, ano em que as Berlengas comemoraram os 33 anos como reserva natural, a associação ambientalista Quercus alertou para a "crescente pressão turística" na ilha, nos meses de verão.
O estudo, cujos resultados continuam a ser investigados e vão ter uma campanha em 2016, está a ser desenvolvido no âmbito do "Life Berlengas", um projeto de recuperação e conservação dos valores naturais do arquipélago que foi iniciado em 2014, juntando várias entidades e um investimento de 1,4 milhões de euros.
Nas jornadas, o investigador Vítor Paiva, da Universidade de Coimbra, que estudou a população de cagarras das Berlengas a partir de resultados de geolocalizadores instalados nas aves, concluiu que elas passaram a deslocar-se, à procura de alimento, para zonas mais distantes, chegando até aos Açores, entre 2005 e 2014, anos em que o stock de sardinha, a sua preferida entre as espécies pelágicas, foi diminuindo na costa de Portugal continental.
As Berlengas apresentam desde características geológicas únicas a um relevo escarpado em que são comuns a formação de grutas e fendas terrestres e submarinas.
A sua localização contribui para a produtividade e diversidade de espécies e de habitats marinhos, bem como para uma paisagem única na região.
Nas ilhas nidificam seis espécies de aves marinhas: duas espécies de gaivotas, a cagarra (ou pardela), o corvo-marinho, o airo e o roque-de-castro.
O arquipélago foi classificado em 2011 como Reserva Mundial da Biosfera pela UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura) e tem estatuto de reserva natural desde 1981.
A importância da conservação desta área natural à escala europeia foi reconhecida em 1997, ao ser classificada como Sítio da Rede Natura 2000 ao abrigo da Diretiva Habitats.
Em 1999 foi classificada como Zona de Proteção Especial para as Aves Selvagens ao abrigo da Diretiva Aves e está também classificada pelo Conselho da Europa como Reserva Biogenética.