Moradores de bairros lisboetas queixam-se de ter "mini Cais do Sodré" à porta
Moradores dos bairros lisboetas de Campo de Ourique, Príncipe Real, Santa Catarina e Arco do Cego queixam-se de barulho e sujidade devido à atividade noturna nestas zonas, problemas de que os residentes no Cais do Sodré há muito reclamam.
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País Reclamações
Há 15 anos, quando Nelson Calvinho se mudou para Campo de Ourique fê-lo "por causa do sossego" daquele bairro. Hoje, considera ter um "mini Cais do Sodré" no seu quarteirão, graças ao ruído proveniente do mercado.
Com a renovação do espaço, há dois anos, surgiram concertos à noite. O problema, segundo Nelson Calvinho, é o mercado "não ter condições de acústica para isso".
"Estou em casa, na minha sala, com o som da televisão altíssimo, e a música do mercado sobrepõe-se", contou à Lusa.
A par desta situação, há o fenómeno do 'botellón' -- termo espanhol usado para descrever a ingestão de álcool na via pública --, "impensável em Campo de Ourique há uns anos", assinalou.
O morador está a preparar uma queixa para enviar à Câmara, o que Rute Mendes, moradora na Calçada do Combro (Santa Catarina), já fez diversas vezes, sem sucesso.
Também aqui há problemas com o ruído, de acordo com a munícipe, devido à atividade de um bar ao ar livre no topo do parque de estacionamento, que funciona até às 02:00, e aos "molhos" de gente que vai a pé do Bairro Alto para Santos ou Alcântara.
Com dois filhos de 17 e cinco anos, Rute Mendes admitiu nunca ter estado "tão cansada como agora". Além do barulho, o trânsito fica frequentemente congestionado na Calçada do Combro e há pessoas a urinar na rua, referiu.
O Príncipe Real "não é o pior dos sítios, mas está em vias de se tornar" porque "estão a abrir cada vez mais bares", disse à Lusa o morador Jorge Pinto.
Já no jardim França Borges "juntam-se grupos que extravasam" os limites de ruído, observou o membro dos Amigos do Príncipe Real.
Acresce que "deixou de haver horas de pontas" naquela zona, com engarrafamentos de trânsito "até altas horas da noite".
No Arco do Cego, o problema começou há três anos quando o Instituto Superior Técnico proibiu a venda de bebidas alcoólicas no interior.
"Os estabelecimentos em redor, ao aperceberem-se da elevada procura que iriam ter e com o apoio das cervejeiras, começaram a vender a cerveja a baixo preço. Chega a custar 40 cêntimos", disse o presidente da Associação de Moradores das Avenidas Novas, José Soares.
Estudantes de toda a cidade começam a juntar-se ali por volta das 14:00 e ficam até de madrugada, pelo que "passar com uma cadeira de rodas [na Rua D. Filipa de Vilhena] ou carrinho de bebé é impossível", afirmou.
Além do ruído e da sujidade, José Soares alertou que há "situações de jovens a entrar em coma", com ambulâncias ali a passar todos os dias.
Estes problemas são conhecidos dos moradores do Cais do Sodré. Isabel Sá Bandeira, da associação Aqui Mora Gente, revelou que "se a situação era possível piorar, piorou" nos últimos meses, além de ter "havido um aumento enorme da criminalidade, com pessoas assaltadas todos os fins de semana".
"A polícia não atua", lamentou a responsável, que defende também a proibição de beber álcool na rua entre as 22:00 e as 07:00.
No Bairro Alto, berço da vida noturna da cidade, tem-se assistido a "alguma redução" de afluência, já que "o público jovem muito barulhento" que ali costuma ir se está a deslocar para o Cais do Sodré, indicou Luís Paisana, da associação de moradores.
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