Em declarações à agência Lusa, Edgar Carvalho, da Associação de Moradores do Zambujal, bairro do concelho da Amadora onde residia o jovem baleado pela PSP no ano passado, explicou que o objetivo do evento é também "sensibilizar para os problemas que afetam a comunidade".
Edgar Carvalho explicou que a iniciativa, com início às 15:00, inclui a inauguração de um mural no bairro, concertos de artistas locais e amadores, a gravação de um 'minipodcast' com os moradores e bancas de gastronomia.
"É uma iniciativa para mostrar os vários pontos que o bairro tem de problemático. A maneira como a polícia chega ao bairro, os problemas de saúde, os problemas de habitação. Não são resolvidos e queremos impactar essas situações", justificou.
Este evento contará também com a participação de algumas figuras públicas como o modelo Cláudio Gonçalves e o cantor cabo-verdiano Dynamo.
Odair Moniz morreu na Cova da Moura, também no concelho da Amadora (distrito de Lisboa), vítima de dois tiros disparados por um agente da PSP a 21 de outubro de 2024, numa perseguição policial.
A PSP referiu na altura que o homem se pôs "em fuga" de carro depois de ver uma viatura policial e "entrou em despiste" na Cova da Moura, onde, ao ser abordado pelos agentes, "terá resistido à detenção e tentado agredi-los com recurso a arma branca".
Segundo a acusação do Ministério Público, o cabo-verdiano de 43 anos tentou fugir da PSP e resistir à detenção, mas não se verificou qualquer ameaça com recurso a arma branca, o que contraria o comunicado oficial da polícia.
O julgamento do agente suspeito do homicídio estava marcado para quarta-feira, mas foi adiado para 22 de outubro por motivos de saúde de um advogado.
O agente reconheceu durante o primeiro interrogatório na Polícia Judiciária que não foi ameaçado com uma arma branca, ao contrário do que escreveu no auto de notícia.
Nos dias seguintes à morte de Odair registaram-se tumultos no Zambujal e noutros bairros da Área Metropolitana de Lisboa, onde foram queimados e vandalizados autocarros, automóveis e caixotes do lixo, somando-se cerca de duas dezenas de detidos e outros tantos suspeitos identificados. Sete pessoas ficaram feridas, uma das quais -- um motorista de autocarro - com gravidade.
O caso colocou na agenda o problema do racismo estrutural e sistémico, as condições de vida nos bairros e as políticas públicas implementadas nesses territórios, a relação entre as forças de segurança e as comunidades e as condições de atuação da própria polícia.
Em 26 de outubro de 2024, milhares de pessoas desceram a Avenida da Liberdade, em Lisboa, respondendo à manifestação convocada pelo movimento Vida Justa para homenagear o cidadão cabo-verdiano, denunciar a violência policial e clamar que "sem justiça não há paz".
Uns dias depois, o Governo convocou associações representativas das comunidades da área de Lisboa "para dialogar" e ouvir as suas propostas de combate ao racismo e à violência policial.
Sem apresentar medidas concretas, o executivo prometeu apoios para habitação, saúde e educação, para melhorar a vida concreta das pessoas dos bairros.
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