"Está a haver uma intensificação muito relevante das relações entre Portugal e a Turquia", afirmou Paulo Rangel, em declarações à Lusa por telefone a partir de Ancara, após um encontro com o homólogo turco, Hakan Fidan.
Em poucas semanas, deslocaram-se à Turquia o ministro das Infraestruturas e Habitação, Miguel Pinto Luz, o ministro dos Negócios Estrangeiros, hoje, e na próxima semana o ministro da Economia, Manuel Castro Almeida, o que mostra, considerou, "uma intensa troca de agendas nos domínios económico, cultural e político".
Paulo Rangel sublinhou que o encontro com Hakan Fidan "foi bastante importante para dar uma nova dinâmica às relações entre a Turquia e Portugal".
Um dos pontos em agenda no encontro bilateral, seguido de um almoço de trabalho, foi a preparação das comemorações dos 100 anos de relações diplomáticas entre Lisboa e Ancara, que podem incluir "um encontro de governos ao mais alto nível", no próximo ano, avançou.
O também ministro de Estado português realçou que, apesar de distantes, Portugal e Turquia têm algo em comum: são dois países da periferia europeia.
"Há uma proximidade que tem a ver com o facto de os dois serem portas de entrada e saída da Europa, um para a frente euro-asiática e outro para a frente euro-atlântica", afirmou, destacando o papel de ambos os países na "ligação da Europa ao resto do mundo".
Ainda a nível bilateral, Rangel referiu que a relação económica é neste momento "desvantajosa para Portugal", mas "tem vindo, de facto, a aumentar muito na sua intensidade e tem todas as condições para melhorar bastante".
As ligações aéreas diárias entre os dois países têm permitido "um aumento muito relevante do turismo recíproco", estando previstas novas ligações, por exemplo, para Izmir, terceira cidade turca, e para a capital, Ancara.
Há também oportunidades de cooperação na Defesa entre os dois países, ambos membros da NATO, quando os países da Aliança Atlântica têm previsto aumentar o investimento no setor.
Outra área é a cooperação em África, adiantou o ministro, destacando que a Turquia tem vindo a alargar a presença naquele continente, no qual Portugal tem "uma presença relevante", pelo que Lisboa e Ancara estão a analisar como poderá fazer-se cooperação triangular "em projetos luso-turcos em diferentes países de África, naqueles de expressão portuguesa, mas não só".
Além disso, Turquia já é observador da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP).
A nível cultural, Portugal quer fomentar o ensino do português, que abrange atualmente 162 estudantes turcos.
Sobre a adesão da Turquia à UE, há anos num impasse, o ministro referiu que o Governo turco espera "os bons ofícios" das autoridades portuguesas para "ajudar a fechar dossiês" em matérias como vistos, fiscais ou o acordo de união aduaneira UE-Turquia, "independentemente da velocidade do processo".
A nível multilateral, os dois ministros discutiram o "papel relevantíssimo" de Ancara nas negociações, juntamente com Qatar e Egito, "para levar o [movimento islamita] Hamas a aceitar as condições" do chamado 'plano Trump' para o cessar-fogo em Gaza, em vigor desde sexta-feira passada, e quando se prepara a segunda fase.
Rangel acentuou ainda o papel de mediação da Turquia no conflito entre a Ucrânia e a Rússia, "o único que teve sucesso até agora", e que permitiu essencialmente a troca de prisioneiros e de corpos de soldados, outro tema abordado durante o encontro de hoje.
Leia Também: Rangel vai ser ouvido no Parlamento sobre F-35 que pousaram nas Lajes