O Ministério Público (MP) está a investigar a denúncia de Miguel Zorío, ex-presidente do Valência CF, contra o próprio clube e a SAD Benfica, alegando que ocorreram crimes nas contratações dos jogadores Rodrigo Moreno e André Gomes, em 2014.
A informação é avançada pelo jornal espanhol Levante-EMP, e confirmada pelo Notícias ao Minuto junto de fonte oficial do MP.
"Confirma-se a receção de uma denúncia, a qual foi encaminhada para investigação".
Em causa estão alegados crimes de administração danosa, corrupção empresarial, branqueamento de capitais e fraude fiscal contra os dois clubes, mas também contra o empresário Jorge Mendes e o acionista maioritário do Valencia, Peter Lim, assim como vários outros dirigentes.
O próprio denunciante terá revelado ao jornal o estado do processo na Justiça portuguesa, após receber autorização por escrito, por parte do MP, para divulgar uma reunião que teve com as autoridades, a 11 de julho, na sede da Procuradoria-Geral da República.
No encontro estiveram dois procuradores do Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP) e dois inspetores especialistas em crimes económicos.
"Estão a investigar possíveis delitos de corrupção internacional cometidos por Peter Lim [dono do Valência através da Meriton Holdings], Jorge Mendes, Layhoon [ex-presidente do Valência] e os executivos do clube valenciano, nas contratações dos jogadores do Benfica que chegaram ao Valencia com um preço exorbitante e comissões absolutamente ilegais", afirmou em declarações ao mesmo jornal.
Perante os oficiais de justiça, Zorío apresentou a documentação, que já tinha enviado, que teria como base relatórios financeiros do Benfica submetidos à CMVM.
"Demonstra categoricamente que grande parte do dinheiro pago pelo Valencia CF, a título de transferências, nunca chegou ao clube de Lisboa", defendeu Zorío.
Na mesma reunião, o antigo presidente do Valencia, salientou também a sentença do Tribunal Arbitral do Desporto (TAS), em maio de 2021, "na qual não só condenaram a Meriton pela contratação de Rodrigo Moreno e André Gomes para o Benfica, como também demonstraram (dado que tinha passado despercebido até agora) que a empresa do singapurense [Peter Lim] tinha uma posição monopolista na dupla operação Benfica/Meriton e Meriton/Valencia/Benfica".
Nessa mesma sentença, recorda Zorío, os juízes consideraram que ficou demonstrado que "a Meriton cobrou ao Benfica 5% ao ano do valor das contratações de Rodrigo Moreno e André Gomes, que no total custaram 45 milhões de euros mais 10 milhões em variáveis".
"O Valencia pagou 85 milhões de euros pelos quatro jogadores [João Cancelo, Rodrigo Moreno, André Gomes e Enzo Pérez], mais 10 milhões em variáveis por Rodrigo Moreno. A operação serviu para injetar dinheiro nos delicados cofres do Benfica e nas importantes contas da Meriton, roubando o Valencia", acusou.
"Peter Lim sempre teve uma posição de força: dominava o clube vendedor (SL Benfica), também o clube comprador (Valencia CF) e, presumivelmente, cobrava dos dois. Pode constituir um presumível crime societário por falsificação contabilística, tanto no Benfica como no Valencia, e um presumível crime de corrupção internacional entre particulares e crime contra as duas administrações fiscais", considerou Zorío.
"O mais estranho de tudo é que, por exemplo, das contratações de Cancelo, André Gómez, Enzo Pérez e Rodrigo, que custaram 85+10 milhões de euros ao Valencia CF, e quase metade foi parar às mãos dos agentes envolvidos - despesas de contratação, como o Benfica as denomina na documentação que apresenta à CMVM. O Benfica salvou-se assim sua falência económica e recebeu assistência financeira de Peter Lim e Jorge Mendes às custas do Valencia CF", alega o ex-presidente do clube.
Zorío acrescenta ainda que "Jorge Mendes já teve de prestar declarações sobre os factos que estão a ser investigados".
Leia Também: Rui Costa: "Não caí aqui de paraquedas e não sou benfiquista de ocasião"