A reunião extraordinária para atualização das informações sobre o acidente com o Elevador da Glória, em Lisboa, que provocou 16 mortos e fez mais de 20 feridos, no passado dia 3 de setembro, ocorreu na segunda-feira, 13 de outubro, um dia depois das eleições autárquicas.
Aos jornalistas, no final do encontro - que também contou com a presença do presidente da autarquia, Carlos Moedas -, o vice-presidente, Filipe Anacoreta Correia do CDS-PP, disse que "este decorreu num ambiente muito tranquilo".
"É mesmo a tónica e o tom que se impõe para avaliar uma tragédia desta dimensão, longe de aproveitamentos eleitorais e de partidarizar esta questão. É preciso calma. Realmente, a tragédia continua a ser uma questão por nós entendermos. Não podia ter acontecido o que aconteceu, mas agora vamo-nos empenhar em tentar perceber o que é que se passou e esse empenho é total, num contexto já mais tranquilo", afirmou, destacando o facto desta ter ocorrido "longe de aproveitamentos eleitorais".
"Postura de rolha"
Contudo, os vereadores da oposição consideraram que a reunião extraordinária de ontem sobre o acidente "muito pouco" adiantou de esclarecimentos.
Defendendo uma postura de esclarecimento e transparência total sobre o acidente, o vereador do PS Pedro Anastácio criticou a liderança PSD/CDS-PP, bem como a Carris, por "uma postura de rolha, de não-divulgação de informação", considerando que "isso é negativo, porque atrapalha aquilo que é o restabelecimento da cidade, da confiança da cidade nas infraestruturas de transporte público da Carris".
Acidentes anteriores? "Ninguém os quis incumbir"
Sobre os novos dados no âmbito do elevador da Glória, inclusive dois acidentes que ocorreram antes da tragédia de 3 de setembro, mas que não foram devidamente registados pela Carris, o vice-presidente da Câmara assegurou que "ninguém os quis incumbir ou não os trazer a público", explicando que esses episódios se deveram a falha humana e "não têm qualquer paralelo" com a dimensão do acidente, "que remete para questões estruturais da própria segurança dos elevadores".
"Da parte da Carris e da parte da Câmara, há um empenho total em esclarecer tudo o que tenha a ver e que nos ajude a compreender o que é que se passou. Não está ninguém à defesa ou preocupado em encobrir ou não trazer a informação, mas numa gestão muito difícil, que é uma gestão decorrente de um acidente que nos deixou a todos muito perturbados, eventualmente poderá haver falhas de comunicação", justificou Anacoreta Correia, reforçando que o empenho total é para perceber o que se passou "para que não volte a acontecer".
Dever da Câmara "era matar imediatamente essa polémica"
Para o socialista Pedro Anastácio, o dever da Câmara de Lisboa "era matar imediatamente essa polémica", com "um esclarecimento cabal disso". "Lamentamos que não tenha sido essa opção", apontou o vereador do PS.
Quanto aos alertas sobre o funcionamento do elevador, Pedro Anastácio disse que a informação transmitida é que eram "genéricos relativamente à manutenção, nunca foram específicos relativamente ao elevador da Glória".
"Ainda falta esclarecer muitos aspetos, nomeadamente perceber o que é que aconteceu e o que é que falhou", insistiu o socialista, aguardando o relatório final sobre o acidente para perceber o que falhou, quem falhou e de quem é a responsabilidade.
A vereadora do PCP Ana Jara disse que "esta reunião, de certa forma, não teve qualquer efeito", indicando que "não foi dado um esclarecimento cabal" sobre a implementação da proposta comunista de avaliar o estado de conservação dos elevadores, inclusive a externalização da manutenção, bem como quanto ao estudo da carga turística.
Dos Cidadãos Por Lisboa (eleitos pela coligação PS/Livre), Paula Marques sublinhou que "não houve propriamente grandes esclarecimentos", referindo que várias questões não foram respondidas por PSD/CDS-PP, nomeadamente sobre a responsabilidade que a Carris tem no acompanhamento da empresa de manutenção.
Também o vereador do Livre Carlos Teixeira, em substituição de Rui Tavares, manifestou-se insatisfeito com os esclarecimentos, nomeadamente quanto a "questões relativamente ao passado, ao presente e ao futuro de toda esta situação", destacando o processo de modernização dos elevadores.
Câmara de Lisboa ainda não constituiu fundo de apoio às vítimas
Entretanto, a agência Lusa revelou que a Câmara de Lisboa ainda não constituiu o fundo municipal de apoio às vítimas do acidente com o Elevador da Glória, porque neste momento as despesas estão a ser suportadas pelas seguradoras.
"O fundo é para fazer face a despesas das pessoas que foram vitimadas pelo acidente e aquilo que foi dito de uma forma inequívoca por parte do presidente da Câmara, e também pela minha parte, é que há disponibilidade total para constituir o fundo para despesas que sejam necessárias", afirmou Filipe Anacoreta Correia.
A reunião de ontem foi agendada a pedido dos vereadores de PS, Livre, BE e Cidadãos por Lisboa (eleitos pela coligação PS/Livre), para obter "esclarecimentos sobre falsidades, omissões e incongruências".
O pedido era para uma reunião no dia 25 de setembro, mas o presidente da Câmara decidiu agendá-la para ontem, dia seguinte às eleições autárquicas, "para não partidarizar um tema que deve merecer todos os esclarecimentos técnicos".
Depois desta terceira reunião extraordinária da Câmara de Lisboa sobre o acidente, que contou com o presidente da Carris, Pedro Bogas, o vereador do PS Pedro Anastácio destacou a prioridade de assegurar o apoio às vítimas e familiares.
"O que nós queremos é garantias que está a haver esse compromisso total de apoiar as vítimas e os seus familiares e o que nos foi dito é que esse fundo não avançou, não sendo negada a vontade de ainda o implementar. O que foi dito é que, até ao momento, a seguradora tem assumido o pagamento de todas as despesas", declarou o socialista, considerando "positivo" que o apoio esteja a chegar às pessoas afetadas.
O vice-presidente da Câmara reforçou que as seguradoras têm manifestado "uma disponibilidade total e um empenho grande" de responder às vítimas, afirmando que "não há aqui qualquer ponderação económica ou financeira ou contratual por parte das seguradoras" e que a seguradora principal, a Fidelidade, tem assumido a responsabilidade.
"Aproveito para dizer que a cobertura por lei exigida a Carris são 7,5 milhões de euros de euros, mas a Carris tem contratualizado, porque pagou para isso, uma cobertura até 50 milhões de euros, portanto temos uma cobertura ampla. Todas as despesas das pessoas estão asseguradas. Vai ser assegurada uma indemnização, naturalmente percorrendo os passos que forem necessários, mas sei que nalguns casos já estarão até a ser diligenciadas possibilidades de acordo", adiantou Filipe Anacoreta Correia.
"O importante é que efetivamente o apoio chegue a todas as famílias"
O autarca do CDS-PP sublinhou ainda que, até ao momento, as companhias de seguros estão empenhadas em garantir o pagamento de todas as despesas e a fazê-lo "o mais rapidamente possível", insistindo que não se verifica, para já, a necessidade de o município criar um fundo de apoio.
"Nós não devemos poupar dinheiro às seguradoras. Era o que faltava, é o dever delas corresponderem a essas necessidades", salientou.
Sem dados sobre as despesas contabilizadas até ao momento, o vice-presidente da autarquia disse ter "a garantia inequívoca de que, independentemente do valor, todas as despesas são absolutamente garantidas por parte da seguradora".
Perante a informação de que o fundo de apoio ainda não foi constituído devido à função primeira das seguradoras, a vereadora dos Cidadãos Por Lisboa Paula Marques considerou que "o importante é que efetivamente o apoio chegue a todas as famílias", enquanto o vereador do Livre Carlos Teixeira (em substituição de Rui Tavares) ressalvou que "a Câmara continua disponível para qualquer custo que seja necessário cobrir".
A vereadora do PCP Ana Jara considerou que "há contradições no apoio às vítimas" e que "as respostas da Câmara não foram satisfatórias" para esclarecer sobre isso, assim como o contacto com as vítimas e famílias.
Contudo, o vice-presidente da Câmara reforçou que foram contactadas todas as pessoas afetadas.
O vereador do PS acrescentou ainda que "foi possível, assim, esclarecer uma controvérsia na campanha eleitoral", admitindo que é preciso perceber se foi ou não mesmo assim, "porque na verdade continuam a existir testemunhos que são contraditórios com aquilo que foi dito".
Recorde-se que o descarrilamento do elevador da Glória, sob gestão da empresa municipal Carris, ocorreu no dia 3 setembro e provocou 16 mortos e duas dezenas de feridos, entre portugueses e estrangeiros de várias nacionalidades.
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