Os dados constam de um inquérito da Organização Mundial da Saúde (OMS) hoje divulgado e que, a nível europeu, concluiu que um em cada três médicos e enfermeiros reportaram depressão e um em cada 10 pensamentos suicidas passivos.
Segundo este estudo, o maior estudo realizado pela OMS sobre a saúde mental dos médicos e enfermeiros, Portugal apresenta uma prevalência de depressão dos profissionais de saúde de 44%, só superada pela Letónia e pela Polónia (ambos com 50%), e muito afastado do país com a percentagem mais baixa, a Dinamarca, com 15%.
Em relação à ansiedade dos médicos e enfermeiros, o inquérito concluiu que Portugal está também no terceiro pior lugar, com uma prevalência de 39%, abaixo da Letónia (61%) e de França (41%).
Quanto à provável dependência do álcool, Portugal encontra-se no grupo de países com melhores percentagens, com apenas 1%, com as taxas mais elevadas registadas em França (7%).
O estudo refere ainda que 84% dos profissionais de saúde portugueses foram expostos a um tipo de violência no local de trabalho, estando acima da média de 77,6% do conjunto dos países, e com uma percentagem idêntica à de Espanha e da Croácia.
As situações de `bullying´ (41%) e de agressividade dos pacientes e familiares (74%) foram as mais reportadas pelos profissionais de saúde portugueses, seguindo-se os casos de violência física, ameaças violentas e assédio sexual.
O estudo concluiu também que 27% dos médicos portugueses trabalham 50 ou mais horas por semana, ligeiramente abaixo da média europeia de 28%, enquanto nos enfermeiros este indicador é de 9%.
O inquérito apurou que 4,6% dos médicos e 12,9% dos enfermeiros manifestaram intenção de deixar as suas profissões, valores que estão abaixo das médias de 9,1% e 15,4% do estudo que contou com mais de 90 mil respostas analisadas nos 27 países da União Europeia, além da Noruega e da Islândia.
Na análise global aos dados recolhidos, a OMS concluiu que, no último ano, um em cada três médicos e enfermeiros sofreu `bullying´ ou ameaças violentas no trabalho e 10% foi alvo de violência física ou assédio sexual.
Além disso, um em cada quatro médicos trabalha mais de 50 horas por semana e quase um terço (32%) dos médicos e um quarto (25%) dos enfermeiros têm contratos de trabalho temporários, o que está "fortemente ligado ao aumento da ansiedade em relação à segurança no emprego", alerta a organização.
"Com a Europa a enfrentar uma escassez de quase um milhão de profissionais de saúde até 2030, não nos podemos dar ao luxo de os perder devido ao esgotamento, ao desespero ou à violência. O seu bem-estar não é apenas uma obrigação moral, é a base de cuidados seguros e de alta qualidade para todos os doentes", salientou Kluge, diretor da OMS para a Europa.
O relatório aponta para ações urgentes que os países devem adotar para melhorar as condições de trabalho e alterar as culturas organizacionais, realçando que todas podem ser alcançadas através da reorientação dos já recursos existentes e defende a tolerância zero à violência de qualquer tipo, uma melhor previsibilidade e flexibilidade dos turnos, uma gestão das horas extraordinárias de forma justa, uma análise à carga de trabalho excessiva, o reforço do acesso à saúde mental e monitorização regular do bem-estar dos profissionais de saúde.
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