Em declarações à Lusa, no âmbito do Dia Mundial da Dislexia, celebrado na sexta-feira, a especialista disse que "a dislexia afeta uma em cada 10 crianças", sendo, por isso, essencial distinguir entre perturbações específicas do neurodesenvolvimento e simples imaturidades que podem ser corrigidas com treino adequado.
"Algumas perturbações da leitura podem estar mascaradas como sendo dislexia, no entanto, podem não estar relacionadas com essa perturbação do neurodesenvolvimento. Com o devido treino atempado, tudo isso pode evoluir muito bem", explicou Helena Serra.
A presidente da Dislex sublinhou que a prevenção deve começar no pré-escolar, por volta dos cinco anos, fase em que as crianças podem ser observadas quanto a competências fundamentais para o sucesso na leitura e escrita.
"O antes de entrar na leitura é por volta do último ano do pré-escolar. O que estamos a querer alertar é para a importância da obrigatoriedade de, nas salas de todo o país, as crianças serem devidamente trabalhadas nas suas competências fonológicas, de memória auditiva e visual, lateralidade e orientação no espaço e no tempo", defendeu.
Essas capacidades, conhecidas como competências facilitadoras ou pré-requisitos das aprendizagens simbólicas, incluem a perceção visual e auditiva, a orientação espacial, a sequenciação de sons e o reconhecimento de letras e fonemas.
Quando não estão desenvolvidas, segundo Helena Serra, as crianças começam a confundir símbolos como o B e o D, o F e o T, ou trocam sons semelhantes como G e Q, o que pode gerar perturbações persistentes.
"A criança, se não tiver prontidão no reconhecimento da orientação espacial e também na perceção visual destes símbolos, entra numa fase confusional e pode começar a chamar ao B o D, ou ao F o T. Não associando bem, não tendo feito uma boa memorização, o grafema ligado ao seu fonema, a criança vai entrar numa constante troca, que é essencial que não aconteça", salientou sublinha Helena Serra.
A especialista lembrou que um treino específico e precoce destas competências pode minorar significativamente os efeitos negativos da dislexia ou até evitar dificuldades de leitura em casos de imaturidade.
"Mesmo tratando-se de um caso com a perturbação específica do neurodesenvolvimento, o treino atempado e precoce das ditas competências que são facilitadoras no momento em que estamos a desenvolver o ato da leitura, vai minorar todos os efeitos negativos que, normalmente decorrem dessa situação", sustentou.
Helena Serra defendeu ainda que o Ministério da Educação deveria implementar uma "pequena bateria de provas informais" nas escolas pré-escolares, com caráter obrigatório e lúdico, para avaliar as crianças antes da entrada no ensino básico.
"Isto pode tornar-se uma ferramenta fenomenal para a diminuição das dificuldades em leitura e escrita que estão a ser apontadas por imensos docentes e escolas que estão cada vez mais a ser notórias, mesmo já quando o aluno já está lá ou no segundo ciclo, no terceiro ciclo", disse.
Entre as atividades que ajudam a desenvolver as competências básicas de leitura, a presidente da Dislex destacou os jogos lúdicos, as canções ritmadas e os exercícios de rima e reconhecimento sonoro.
Helena Serra lembrou que nem todas as dificuldades de leitura indicam dislexia, mas que ambas as situações --- tanto a dislexia como a falta de estímulos --- requerem atenção precoce e uma resposta educativa adequada.
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