O maior estudo internacional realizado a professores mostra que os portugueses estão entre os que mais se queixam de indisciplina dentro da sala de aula: um em cada três docentes em Portugal (35,8%) queixa-se do ruído e desordem, revela o TALIS 2024 (Teaching and Learning International Survey), hoje divulgado.
O inquérito em que participaram mais de 280 mil docentes de 55 sistemas de educação, incluindo Portugal, mostrou que os professores perdem agora mais tempo a manter a disciplina do que em 2018, quando se realizou o estudo anterior. Em 2024, um em cada cinco professores dos países da OCDE admitiu haver problemas nas suas aulas.
O caso mais dramático vive-se no Brasil, com metade dos professores a relatar desafios, mas Portugal também aparece em destaque ao lado do Chile, Finlândia e África do Sul, onde mais de 33% dos docentes se queixam de indisciplina.
Questionado sobre estes dados, o ministro da Educação, Fernando Alexandre, disse estar a par do problema, sublinhando que a tutela já avançou com medidas, como a proibição do uso de 'smartphones', que arrancou este ano letivo em todas as escolas do 1.º e 2.º ciclos.
A medida foi tomada tendo por base um estudo nacional que revelou que nas escolas onde já estava a ser aplicada essa restrição "a socialização e bons comportamentos melhoraram face a comportamentos menos adequados", recordou.
O ministro acrescentou que existem outras medidas que também poderão combater o problema, como o anunciado reforço de técnicos especializados: "Vamos passar a ter um psicólogo por cada 700 alunos, é quase uma duplicação do que tínhamos".
Fernando Alexandre acrescentou ainda o projeto de reforma dos recreios, que só será anunciado formalmente depois das eleições autárquicas, uma vez que a mudança está dependente de negociações com as autarquias, devendo por isso arrancar em 2026.
"Os maus comportamentos nas aulas são muitas vezes gerados fora da sala", defendeu.
Segundo o TALIS, 35,8% dos professores em Portugal diz perder muito tempo de aula com interrupções de alunos, uma situação que se agrava quando os professores são mais novos.
Aos docentes menos experientes calham habitualmente os estudantes mais problemáticos, mais mal comportados, com mais dificuldades de aprendizagem ou de linguagem, refere o inquérito, alertando para o perigo de tal situação levar os mais jovens a desistir da profissão.
Em Portugal, por exemplo, 27% dos professores com menos de 30 anos admite vir a deixar o magistério nos próximos cinco anos. Hoje, foi também apresentado um novo estudo da Nova SBE que revela que será preciso contratar mais 39 mil docentes até 2035 para responder às aposentações.
Questionado também sobre a redução de alunos que este ano entraram no ensino superior, Fernando Alexandre revelou que esteve reunido com os reitores e presidentes dos politécnicos a quem foi apresentada a ideia de estudar como acabar com a grande instabilidade das notas nos exames nacionais.
"Estamos a pensar a forma como são feitas as classificações dos exames nacionais, que são muito voláteis. Dependem da correção e da dificuldade do exame e há anos e alguns exames em que a taxa de reprovação pode ser de 10% num momento e de 40% noutro. Isso introduz uma incerteza e instabilidade em relação ao número de candidatos ao ensino superior que não faz sentido", explicou, defendendo que "os alunos não sabem menos de um ano para o outro".
"É preciso normalizar essas classificações", disse, acrescentando que o "IAVE está a trabalhar" o tema e contará com o apoio de consultores internacionais para imaginar "uma metodologia que permita eliminar a instabilidade que resulta das notas nos exames".
Segundo o ministro, países como o Reino Unido e os Estados Unidos já têm mecanismos que permitem normalizar as classificações: "É uma mudança muito grande de paradigma, que foi muito bem recebida pelos reitores e politécnicos, e agora vamos explorar tecnicamente a forma de o fazer".
"A normalização das notas é algo que há muitos anos é discutida em Portugal e é um caminho que tem de ser explorado", defendeu, garantindo que qualquer solução terá de deixar "a sociedade tranquila e confiante".
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