A Federação Nacional dos Professores (Fenprof) e a Federação Nacional de Educação (FNE) comentavam à Lusa os mais recentes dados do TALIS 2024 - Teaching and Learning International Survey, o maior inquérito internacional sobre professores, em que participaram mais de 280 mil docentes de 55 sistemas de educação.
Entre as conclusões, o TALIS indicou que os professores das escolas portuguesas são dos mais satisfeitos com o seu trabalho entre os da OCDE, apesar de mais de 20% dos docentes jovens ponderarem abandonar a profissão nos próximos cinco anos.
Para Francisco Gonçalves, um dos dois secretários-gerais da Fenprof, os resultados do inquérito da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) não são surpreendentes.
O "número significativo" de professores que pondera abandonar a profissão é comum a vários países europeus, mas em Portugal assume contornos maiores devido a um problema de "valorização material".
"Há um outro elemento que muitas vezes é colocado, que é uma aparente contradição entre os professores se sentirem bem com a profissão, mas mal com as condições de trabalho", apontou.
De acordo com o secretário-geral da Fenprof, os casos de cansaço e de 'burnout' têm vindo a aumentar de forma preocupante, sobretudo entre os docentes mais velhos.
"Se há muitos casos é porque de facto temos aqui um problema de saúde e, se olharmos com mais detalhe, verificamos que estamos perante uma profissão que está envelhecida. Vemos vários indicadores que nos mostram que os professores estão exaustos", afirmou.
A insatisfação, explicou Francisco Gonçalves, gera "um grande desencanto e um sentimento de impotência" que tem repercussões diretas na saúde mental e na motivação dos docentes.
Também o secretário-geral da FNE, Pedro Barreiros, considerou que os resultados do TALIS refletem o que já tinha sido identificado na consulta nacional realizada pela federação no final do último ano letivo.
"Há destaques que importa reter, nomeadamente no que concerne à indisciplina, também no que concerne ao trabalho burocrático que afeta o funcionamento das escolas e desvia os professores daquilo que é o seu principal papel, que é a relação pedagógica com os alunos", realçou.
O sindicalista referiu que a vontade de mais de 20% de jovens professores em abandonar a profissão nos primeiros anos de exercício confirma uma crise de recrutamento e de retenção.
"Há questões também daquilo que é a atratividade da profissão, mas também a manutenção dos professores ao longo da carreira na profissão. Há aqui um enfoque que é dado, não só no sentido de atrair professores, mas também mantê-los no início da carreira", salientou, sustentando que "a estabilidade profissional, o salário adequado à função e à formação inicial são critérios essenciais".
O dirigente da FNE alertou ainda para o impacto do envelhecimento do corpo docente.
A questão da indisciplina é outro ponto crítico.
De acordo com Pedro Barreiros, é um problema "relatado cada vez com maior frequência" e que "reina diariamente e coabita quer o espaço sala de aula, que parte já fora da sala de aula".
"É essencial e urgente que seja revisto o Estatuto do Aluno, porque é um documento que já tem uma vigência de cerca de 13 anos. Está completamente desatualizado daquilo que são as exigências do dia de hoje, e, portanto, importa tomar essas medidas para, mais do que fazer o diagnóstico, tomar as decisões que devem ser tomadas", sublinhou.
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