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Recém-nascido reanimado devido a erro de anestesista. Bebé ficou bem

O incidente resultou numa queixa, feita pelo próprio pai da criança, que relata os momentos de confusão e angústia que viveu no dia do nascimento do filho: de medicamentos administrados na altura errada, a falhas de comunicação e potenciais ausências de profissionais de saúde.

Recém-nascido reanimado devido a erro de anestesista. Bebé ficou bem

© ShutterStock

Carolina Pereira Soares
06/10/2025 23:45 ‧ há 1 dia por Carolina Pereira Soares

País

Saúde

Um erro de uma anestesista na Unidade Local de Saúde (ULS) Póvoa de Varzim/Vila do Conde levou a que um recém-nascido tivesse de ser reanimado imediatamente após o parto.

 

A situação é dada a conhecer numa deliberação da Entidade Reguladora da Saúde (ERS), no seguimento da queixa do pai da criança após o incidente em dezembro de 2023.

"Vou passar a descrever tudo o que se passou desde o início, e que nos leva a afirmar que houve um erro grave por parte de algum profissional de saúde, que poderia ter tido consequências fatais", começa o queixoso. “Temos vários indícios de que houve negligência médica por parte de alguém”, acrescentou.

O homem começa por explicar que a esposa estava com algumas dificuldades durante o trabalho de parto, o que levou a médica a sugerir a realização de uma cesariana "para a segurança do bebé".

"Disse para decidirmos, pois não havia urgência e que podíamos ainda pensar (o bebé estava bem)", conta. "Optámos pela cesariana e foi-me dito que eu, pai, podia acompanhar a operação."

Assim sendo, começaram a ser feitas as preparações. A equipa de obstetrícia terá feito o pedido ao bloco operatório para que fossem reunidos os profissionais necessários, e o marido da grávida em questão trocou de roupa para poder acompanhar a mulher.

"Acompanhei a minha esposa com a equipa de obstetrícia até à entrada do bloco operatório e foi-me dito para aguardar nas cadeiras de entrada até ser chamado", diz, referindo que, nessa altura, os profissionais presentes começaram a ter uma conversa que o deixou indignado.

À frente da mulher, deitada e prestes a dar à luz, terão começado uma discussão sobre se a paciente deveria ou não estar algaliada. Ou seja, se deveria ou não ter um tubo inserido na uretra até à bexiga para permitir o esvaziamento da mesma.

"Coisas incompreensíveis e o mais grave: a paciente deitada na maca já estressada devido à situação da operação e com bebé. Foi de uma total falta de respeito", considerou o marido.

O momento passou e a grávida entrou para  bloco. Minutos depois, o pai foi chamado para entrar. Lá dentro a esposa "já estava de barriga aberta" - o bloco num “alvoroço”.

"De repente entra um profissional de saúde no bloco a pediatra 'onde está a pediatra?', 'onde está a pediatra?', 'chamem já a pediatra', 'não sabem que não se pode iniciar a operação sem a pediatra?'”

"Coloquem o marido imediatamente lá fora, ele já não pode estar presente!"

"Resumindo: fui expulso do bloco sem saber o que se estava a passar", sintetiza o pai da criança, que diz não ter tido qualquer tipo de informação sobre o que estaria a acontecer. "Nervos no máximo, quase em estado de parafuso."

Depois, "ouço alguém a fazer um telefonema para pedir uma incubadora com urgência - e eu ali sozinho sem qualquer apoio. Vejo a incubadora a passar para o bloco e questiono novamente a auxiliar, a qual me diz para aguardar, que, entretanto, o meu filho iria sair para neonatologia, com acompanhamento da pediatra, e que eu iria acompanhar até lá".

"Ele saiu do bloco na incubadora com duas enfermeiras e a pediatra (a pediatra que deveria estar presente no bloco talvez?). Pergunto-lhe imediatamente se estava tudo bem, ao qual ela me responde: ‘Não, não está. O seu filho teve que ser reanimado.’”

O pai da criança não descreve como se sentiu no momento, deixa à imaginação de quem recebe a queixa: "Imagine o meu estado".

Por fim, detalha "uma nota importante": a esposa "lembra-se de um pormenor que pode dar uma ajuda. Na altura que estava a ser passada a informação por parte da equipa de obstetrícia ao bloco operatório, ela apercebeu-se de que a anestesista aplicou mesmo ali no corredor a anestesia e que alguém questionou esse pormenor".

“É para adiantar”, terá respondido a profissional. E aqui terá acontecido o erro.

Medicamento só pode ser administrado após o parto

Nos relatórios médicos, está descrito que foram administrados 20 UI (unidade internacional, usada para quantificação de substâncias) de Ocitocina endovenosa direta com hipertonia consequente. O medicamento em si não está incorreto - deveria, de facto, ter sido administrado à paciente. Mas apenas após o parto.

“Todavia, este lapso foi rapidamente identificado pela enfermeira anestesista e pela própria médica”, garante a ULS em questão, em resposta ao queixoso, admitindo o erro.

Na mesma nota, a ULS garante ainda que "a pediatra estava presente desde o início da cesariana, e o recém-nascido foi corretamente reanimado e estabilizado, sem qualquer falha a esse nível".

“A informação da situação clínica pode ter sido mal interpretada, no contexto emocional”, alega ainda a unidade.

Quando à discussão sobre a algaliação, a ULS garante que se tratou "de uma conversa normal entre colegas, civilizada e urbana, não tendo havido excessos de linguagem ou de tom".

"É, no entanto, provável, e até aceitável, que para si e para a própria parturiente, devido ao seu estado de ansiedade, interpretassem este momento, como de uma discussão se tratasse", ressalva, admitindo que "devem ser evitadas conversas sobre aspetos técnicos, que podem ser geradores de stress e ansiedade, dos utentes, como se verificou, neste caso."

No fim, a unidade concluiu que “não se identificam quaisquer sinais de negligência ou má prática da parte dos profissionais”, contudo “penitenciando-se” pelas falhas que ocorreram.

ERS aponta falhas na administração da medicação

O casal não deverá ter ficado satisfeito com o esclarecimento da ULS, motivo pelo qual a queixa chegou à ERS. Após questionar a unidade de saúde, a entidade concluiu que se verificou "a existência de falha na preparação da medicação".

“A profissional médica que administrou a medicação não cumpriu o discriminado” num dos procedimentos de segurança que visam "garantir a segurança do utente em todo o seu processo de gestão da medicação deverão ser sempre confirmados por todos os profissionais intervenientes e de forma inequívoca: a identificação do utente (nome e data de nascimento); o nome do medicamento; a dose, via, hora/frequência de administração".

Para além disto, a ERS afirma ainda que "a administração dos fármacos deve ser rubricada por quem o faz, neste caso nenhuma das duas profissionais o fez" - notando-se aqui uma outra falha no processo, que levou a que um recém-nascido tivesse de ser reanimado assim que veio ao mundo.

Leia Também: Bebé nasce na receção do Hospital Santos Silva em Gaia (à 2.ª visita)

 

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