Denominado Centro de Estudos Árabes, este organismo pioneiro no sistema de ensino superior nacional nasce na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra (FLUC), uma das mais antigas do mundo, e funcionará sob a supervisão da Sharjah Book Authority (SBA), entidade governamental dos Emirados Árabes Unidos dedicada à promoção da leitura, literatura e indústria editorial, informou a universidade.
Lançado com o alto patrocínio do chefe de Estado de Sharjah (um dos sete emirados que compõem os Emirados Árabes Unidos), Sultan bin Muhammad Al-Qasimi, este organismo vai dinamizar cursos de língua e cultura árabes já a partir do início de outubro.
Além do ensino de árabe, através de programas estruturados de língua, gramática e caligrafia, o centro vai também dinamizar conferências, aulas abertas, 'workshops', colóquios, exposições e concertos em torno da cultura árabe; promover o intercâmbio cultural e literário entre escritores, poetas e pensadores árabes e europeus; e apoiar traduções entre o árabe e línguas europeias.
O objetivo é desenvolver e fortalecer os laços de cooperação académica, científica e cultural entre a Universidade de Coimbra e instituições universitárias e culturais do mundo árabe (nomeadamente dinamizando o intercâmbio de estudantes, docentes e investigadores e a construção de parcerias para iniciativas conjuntas).
Este projeto tem ainda em vista o reforço do diálogo intercultural, através da aproximação do mundo árabe e Portugal, criando pontes entre as pessoas, por via da literatura, cultura, educação e línguas, promovendo a compreensão mútua e a valorização do que há em comum entre as duas culturas, nomeadamente o passado histórico.
Nas palavras do diretor da FLUC, Albano Figueiredo, "esta é uma iniciativa inovadora e diferenciadora" que será colocada "à disposição da comunidade universitária e de um público mais vasto".
O docente responsável pelo Centro será Abdeljelil Larbi, licenciado em Língua e Literatura Árabes pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas de Tunes, em 1999, mestre em Estudos Culturais Árabes e Islâmicos pela Faculdade de Letras de Manouba de Tunes, em 2003, e doutor em Estudos Literários Comparados, pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, em 2020.
Além de experiência como professor de língua e literatura árabes, é também investigador na área de estudos culturais e literários dos países árabes e assinou a tradução de diversas obras literárias de língua portuguesa para a língua árabe.
A tradução será, de resto, uma das principais valências do centro, com vista a aumentar a disponibilidade de obras traduzidas em ambas as línguas.
Outro dos objetivos traçados para a unidade hoje inaugurada é posicioná-la como parte de uma rede mais ampla de instituições estabelecidas com o apoio do chefe do governo do Emirado de Sharjah, na Europa, África e Ásia, e reforçar o estatuto de Sharjah como Capital Mundial do Livro da UNESCO (2019).
A cerimónia de inauguração, que contou com a presença de Sultan bin Muhammad Al-Qasimi, incluirá também o lançamento da biblioteca digital da Biblioteca Joanina de Coimbra, um património listado pela UNESCO e um dos marcos mais proeminentes da universidade.
O projeto Joanina Digital envolve a digitalização de cerca de 30.000 manuscritos e livros raros até 2030, tornando-os acessíveis a estudiosos e pesquisadores em todo o mundo por meio de plataformas digitais.
Um dos destaques deste projeto-piloto é a coleção digital dedicada ao Médio Oriente, "um recurso precioso para a investigação sobre a presença dos portugueses no Golfo e Península Arábica", destaca a universidade.
"Este projeto vai muito além da simples transposição do papel para o digital. Representa um esforço programático de valorização de um acervo único, recuperando exemplares que careçam de conservação e restauro, e constitui uma oportunidade para projetar, no universo digital, uma das mais belas bibliotecas do mundo", sublinhou o reitor da Universidade de Coimbra, Amílcar Falcão, citado num comunicado da instituição.
Segundo Sultan bin Mohammed Al Qasimi, que é também membro do Conselho Supremo dos Emirados Árabes Unidos, o apoio de Sharjah a este projeto reflete a sua crença de que "o desenvolvimento humano precede todas as instituições e a cultura é a base sobre a qual se erguem nações e civilizações".
"A Joanina Digital abre uma ponte entre a Europa e o mundo árabe, ligando gerações de académicos, investigadores e estudantes a um conhecimento raro que informa o presente e constrói o futuro", acrescenta.
No período piloto da Joanina Digital foram estruturados os processos técnicos e desenvolvida de raiz a arquitetura da plataforma, com a digitalização de cerca de 160 mil páginas e a catalogação de 3.343 volumes, preparando a publicação progressiva de novos conjuntos documentais.
Em paralelo com o lançamento do centro de estudos e com a apresentação da biblioteca digital, será inaugurada a exposição "Joanina Digital - Para além do ecrã", que dá a ver algumas das obras mais representativas em processo de digitalização, dando a conhecer os aspetos fundamentais do tratamento técnico e estudo deste acervo, como o da proveniência, ou da materialidade própria de cada exemplar.
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