"O nosso grande objetivo ao lançar o livro não é atacar ninguém, não é fazer um ataque político. O objetivo é que as pessoas percebam que há coisas que [não] foram feitas e que, enquanto não falarmos todos, as coisas vão continuar assim. O objetivo, no fundo, é dar poder às pessoas para perceberem que o poder está nelas", resumiu Ivo Francisco, em declarações à agência Lusa.
Escrito a quatro mãos, "Municípios -- Inclusão na Governança", publicado a menos de um mês das eleições autárquicas de 12 de outubro, analisa a distância entre a decisão política local e as necessidades de pessoas com deficiência e idosos em Amarante, apontando barreiras à inclusão e propondo soluções.
"A minha esposa é uma pessoa com deficiência e eu sou cuidador dela, portanto sentimos na pele todas as dificuldades que são descritas no livro diariamente. Essa foi a primeira razão [para escrever]. E, depois, por todo um historial que temos, especialmente a minha esposa, de ativismo na cidade. Ela foi presidente da delegação de Amarante da Associação Portuguesa de Deficientes e, portanto, esteve sempre muito ligada ao ativismo social", explicou.
Para o autor, a qualidade de vida das pessoas com deficiência agravou-se nos últimos 12 anos, algo que justifica com "a falta de empatia da classe política com a questão".
"[Há] falta de sensibilidade porque, tal como dizemos no livro, desde 1982, que é quando começámos a receber fundos [europeus], praticamente não se canalizaram para estas franjas. Em particular nos últimos anos, os fundos destinam-se muito àquilo que é a convergência social, ou seja, a melhoria da qualidade de vida das pessoas, nomeadamente aqui nos meios mais pequenos", lembrou.
No entanto, depois essas verbas são gastas em coisas que as autarquias "consideram prioritárias", mas que deixam "a qualidade de vida das pessoas" para "segundo plano", defendeu.
No livro, Rosa Lemos e Ivo Francisco, que relatam as suas dificuldades numa página na rede social Facebook com o nome de ambos, põem "a nu" situações que acreditam que "a maior parte da população não faz a mínima ideia".
"Durante o programa Portugal2020, vieram 26,5 milhões de euros para Amarante de fundos europeus e não há um único projeto claro e unicamente destinado a apoio a pessoas com deficiência", exemplificou.
Questionado pela Lusa sobre se a ausência de medidas concretas direcionadas para pessoas com deficiência a nível autárquico se deve à pouca expressão de votos que o grupo tem no momento das eleições, Ivo Francisco considerou que a explicação "pode ser por aí".
"Muitas vezes comentamos isso, que as pessoas com deficiência deviam envolver-se mais, mas acho que também pode ter a ver com o facto de a população ser cada vez mais envelhecida", argumentou.
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