"Não houve só pressões. Houve ameaças físicas a mim e à minha família, que me vão fazer a folha. Chegou a este nível de mafiosice. Não estou a falar do ministro [da Educação]. Nunca mencionei o ministro. Ligam constantemente para a Reitoria a dizer que são pessoas que sabem bem quem eu sou, que vão destruir-me, que vão dar cabo da família e que sabem muito bem onde é que eu moro", declarou António de Sousa Pereira, durante a audição parlamentar com caráter de urgência.
António de Sousa Pereira reiterou que "não houve pressões do ministro da Educação".
"Se me perguntarem se houve pressões do ministro [da Educação]. Claro que não. Discutimos a situação, chegamos a um entendimento de que se ia pedir uma informação à Inspeção Geral da Educação e Ciência (IGEC). O senhor ministro cumpriu escrupulosamente (...)" disse o reitor.
António de Sousa Pereira lamentou, todavia, a "postura do professor António Sarmento", o primeiro médico a receber a vacina contra a Covid-19 em Portugal, por estar a criar expectativas aos 30 candidatos ao curso de Medicina, ao dar uma entrevista ao jornal Nascer do Sol e numa crónica no jornal Público.
O reitor disse que quando fala em "pessoas com influência no poder", não está a falar de pessoas com poder.
"Eu falo de pessoas com acesso ao poder. Não falo de deputados (...) Comigo nunca falou nenhum deputado e comigo o que aconteceu foi que o senhor ministro estava a ser contactado e como não teve a iniciativa de falar comigo para saber qual era a posição da U.Porto e o porquê de tomar eu a iniciativa de lhe ligar", disse.
O reitor disse ainda à comissão parlamentar que recebeu "telefonemas insistentes de uma senhora que se dizia advogada dos estudantes".
"Eu recebi telefonemas de mães que estavam à beira do suicídio. Eu não consigo identificar telefonemas anónimos, mas eu tenho cartas de alegados escritórios de advogados", declarou.
António de Sousa Pereira disse ainda que "a cereja em cima do bolo" nesta polémica na U. Porto aconteceu na semana passada quando uma "senhora professora" da Comissão de Seleção do concurso especial para o curso de Medicina da U.Porto disse que não participou nas atas da Comissão Científica da Faculdade de Medicina da U.Porto nem as assinou".
Segundo o reitor da U.Porto este caso "passou a ser um crime de falsificação de documentos".
Para o reitor, a solução "é manter a decisão que a Reitoria homologou no início de julho", ou seja manter o "direito dos sete alunos que tiveram mais de14 valores".
Sobre os outros 30 candidatos, o reitor defende que devem ir para os tribunais e sugere que "não andem a ameaçar o reitor e que sabem onde ele mora".
Em 5 de setembro o semanário Expresso deu conta de que António de Sousa Pereira denunciou ter recebido pressões de várias pessoas para deixar entrar na Faculdade de Medicina 30 candidatos que não tinham obtido a classificação mínima - 14 valores -, na prova exigida no curso especial de acesso.
Nesse dia, a Federação Académica do Porto exigiu um "inquérito interno" para apurar o porquê do diretor da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto informar 30 candidatos da entrada em Medicina sem autorização do reitor da universidade.
Os candidatos ao concurso especial de acesso ao Mestrado Integrado em Medicina da U.Porto confessam-se lesados pela universidade, referindo que mudaram de cidade, abandonaram empregos de anos, investiram em imóveis e desistiram de mestrados.
A 18 de setembro, a Procuradoria Geral da República confirmou à Lusa que existe um inquérito a correr no Ministério Público relacionado com o caso dos 30 candidatos ao curso de Medicina na U. Porto.
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