"Está muito confortável e até gosta, gostou", afirma em entrevista à Lusa no rescaldo das eleições no passado dia 14, acrescentando que a sua lista, Nova Esperança, "está a coordenar" um encontro com elementos do Governo de Macau "para poder dialogar e aprofundar mais as relações profissionais com essas entidades".
"Eu sempre me mantive equidistante, para poder desempenhar o papel de deputado na área de fiscalização da ação governativa, mas acho que sim", acrescenta, em jeito de ressalva.
O número de votos na lista de Pereira Coutinho tem vindo sempre a subir desde 2005, mas este ano quase duplicou, em termos percentuais, os registados há quatro anos.
A Nova Esperança, apoiada pela Associação dos Trabalhadores da Função Pública de Macau (ATFPM, da qual Coutinho é presidente desde 1998) obteve 43.367 votos (26,73% dos votos diretos apurados), contra 18.232 votos (13,8%) há quatro anos, permitindo a eleição de três deputados ao parlamento local.
A Associação dos Cidadãos Unidos, segunda lista mais votada, mas tradicionalmente a mais forte, apoiada pela comunidade Fujian e ligada ao empresário Chan Meng Kam, ficou a 13.903 votos, quase nove pontos percentuais atrás da lista vitoriosa, elegendo, ainda assim, também três deputados.
As restantes quatro listas elegeram, todas elas, dois deputados, perfazendo com as duas primeiras um total de 14 eleitos por via direta, a que se juntam 12 por eleição indireta e ainda sete deputados que serão nomeados pelo chefe do executivo e assumirão funções na VIII Assembleia Legislativa a partir do próximo dia 16 de outubro.
"Isto é um milagre. Eu, sendo português, poder falar chinês, eles aceitarem-me e derrubar todos os concorrentes é uma coisa que fica para a história de Macau", afirma.
À possibilidade doe resultado ter sido influenciado pela forte campanha do Governo e do seu líder, Sam Hou Fai, de apelo ao voto junto da função pública, que é a base eleitoral da Nova Esperança e vale quase dez por cento dos eleitores recenseados, Pereira Coutinho diz que "não tem nada a ver com o chefe do executivo".
O deputado sublinha, em alternativa, a importância das facilidades que foram este ano oferecidas aos funcionários públicos para votar, quer através da flexibilidade de horários quer por via da disponibilização de transportes, que no passado dia 14 foram gratuitos.
Coutinho reconhece que o feito da sua lista foi surpreendente, mas atribui-o à força das redes sociais, ao mérito do seu programa e ao trabalho desenvolvido junto de um eleitorado especial, os 68.600 trabalhadores das seis concessionárias do jogo em Macau.
"Eu tenho uma foto com 127 mil 'likes' no meu Facebook, 127 mil. E a partir daí comecei a pensar: 'afinal, podemos ter salvação, uma boia de salvação, que é as redes sociais', exemplifica.
A campanha trouxe uma nova urgência à lista de Pereira Coutinho: "estamos a investir agora na contratação de mais quadros de redes sociais para fazerem o 'editing' das peças, das intervenções na Assembleia Legislativa", anuncia.
Às redes sociais, José Pereira Coutinho associa outro fator que ajudou à vitória. Está convencido de que o trabalho desenvolvido nos últimos anos junto dos trabalhadores das concessionárias de jogo também deu frutos importantes.
"Tivemos muitos votos [de trabalhadores] das seis concessionárias de jogos. Porque as pessoas não sabem o que andámos a fazer nesses últimos anos", diz.
"Sabe que no último tufão, os trabalhadores dos casinos estiveram encurralados, sem descanso, 30 horas, sem horas extraordinárias, sem poder ir para casa? Então, eles não têm família? Tudo isto somado, é evidente que tinham que votar em nós, porque mostrámos trabalho", considera.
O resultado obtido há uma semana impõe "uma enorme responsabilidade", admite o deputado. "Ainda hoje estava a pensar, como é que nós vamos conseguir manter os 43 mil votos", confessa.
"Vai ser de facto uma tristeza, se não conseguirmos dar conta do recado. [...] O período de campanha [para as eleições de 2029] começou hoje. Hoje. Hoje temos que começar a trabalhar para daqui a quatro anos. E é assim que nós temos estes resultados", afirma.
Porém, admite também, "não vai ser fácil". "Satisfazer 43 mil pessoas, manter os altos índices de apoio da sociedade exige cada vez mais e milhões de serviços a serem prestados aos cidadãos e isto está do topo das nossas prioridades".
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