Marcelo Rebelo de Sousa chegou hoje por volta das 16h30 a um hotel no centro de Berlim e, poucos minutos depois, quis fazer um passeio pelo centro da capital alemã, acompanhado pela embaixadora de Portugal na Alemanha, Madalena Fischer.
Em conversa com a diplomata, o Presidente da República recordou a primeira visita que fez a Berlim, em outubro de 1974, seis meses depois da Revolução do 25 de Abril e quando a cidade ainda era "uma ilha isolada", por só se poder chegar a Berlim Oeste de avião, tendo em conta que se encontrava no meio da então República Democrática Alemã (RDA).
"E então fazia lembrar muito aquele clima frenético -- dia e noite, dia e noite -- de quem está em claustrofobia, está fechado", frisou, salientando que, na altura, contactou vários líderes políticos e sociais para explicar "como estava a ser a revolução".
"Para mim, foi uma descoberta, foi verdadeiramente emocionante e, para eles, era uma aventura, como é uma revolução na Europa sem a paixão dos franceses, porque são muito mais racionais", recordou.
Entre conversas com a comitiva e declarações aos jornalistas, o Presidente da República foi lembrando as várias vezes que visitou a capital alemã, salientando contudo que "nenhuma teve a emoção da primeira", mas frisando que a última foi uma visita de Estado em 2019.
Pouco depois, com nuvens a ameaçarem chuva, que acabaria por cair torrencialmente minutos depois, Marcelo Rebelo de Sousa chegou a uma livraria, onde, logo à entrada, pegou num livro do politólogo alemão Carlo Masala com um título sugestivo: "Se a Rússia vencer: um cenário".
O livro em questão, de acordo com a sua sinopse, que o Presidente da República leu, cenariza uma incursão das Forças Armadas russas na cidade estoniana de Narva, e na ilha de Hiiuma no Mar Báltico, em março de 2028, o "preço que a Europa está a pagar por não se rearmar após o fim da guerra na Ucrânia e carecer de capacidades [militares] importantes".
"Estamos habituados a que tudo acabe por correr bem no fim. Mas e se isso não acontecer? E se a Rússia ganhar? É apenas um cenário hipotético do futuro que o politólogo Carlo Masala descreve -- mas ilustra, de uma forma particularmente dramática, o que está em jogo hoje", lê-se na sinopse.
Questionado sobre os motivos porque decidiu comprar este livro, Marcelo frisou que é um "tema atual" e um "cenário de que habitualmente não se fala".
"E ainda bem que não se fala -- porque espero que não aconteça -- mas queria ver como é que os alemães veem esse cenário e o que é que os preocupa", referiu.
Marcelo Rebelo de Sousa salientou que o cenário em questão lhe parece "implausível", mas frisou que "não há nada como ver o implausível também, para que ele seja implausível".
"Porque só é implausível se se fizer tudo para ser implausível. Senão, começa a enfraquecer a hipótese" de ser implausível, afirmou.
Percorrendo as estantes, Marcelo Rebelo de Sousa trocou palavras com um jovem que ficou admirado por cruzar-se com o Presidente da República de Portugal numa livraria de Berlim e foi folheando livros de temas tão distantes como o Papa Leão XVI ou romances policiais.
No entanto foram os temas internacionais que lhe pareceram despertar maior interesse: além do livro sobre a Rússia, comprou também outro sobre "a morte das democracias" e outro sobre política nacional alemã, com o título "A última chance", e uma imagem do atual chanceler alemão, Friedrich Merz, a líder do partido de extrema-direita AfD, Alice Weidel, e o Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
Aos jornalistas, Marcelo Rebelo de Sousa não se quis alongar sobre as razões para a compra do livro e destacou a importância que a Alemanha tem atualmente para a economia portuguesa, devido às trocas comerciais motivadas, por exemplo, pela fábrica da Autoeuropa.
"Hoje é um dos grandes parceiros de Portugal, oscila entre os primeiros quatro, sempre", referiu.
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