O atual coordenador científico do Geoparque de Arouca e também docente da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro tornou-se assim o primeiro português a liderar a estrutura internacional que, fundada em 2004, integra cerca de 230 parques de relevância geológica em 50 países.
Em declarações à Lusa, Artur Sá diz que encara o novo cargo com um "enorme sentido de responsabilidade", uma vez que, além de "uma honra", liderar a Rede Global de Geoparques "é, acima de tudo, um compromisso com as pessoas e os territórios que dão vida ao Programa Internacional de Geoparques da UNESCO".
Eleito por unanimidade em assembleia-geral para um mandato de quatro anos renovável por igual período, Artur Sá já integrava o conselho executivo da Rede Global sob a presidência do grego Nikolaos Zouros, ao qual agora sucede.
Quanto às suas prioridades até 2029, afirma que "são claras" e identifica-as: "Reforçar a cooperação entre os nossos membros, dar maior visibilidade ao trabalho dos geoparques mundiais da UNESCO junto da sociedade e dos decisores políticos, e apoiar o crescimento da rede em regiões que ainda estão pouco representadas, como África, a Ásia Central e o Médio Oriente, sem descurar o crescimento contínuo nas Américas e noutras áreas já consolidadas".
Nessa estratégia, Artur Sá diz-se apostado "numa liderança próxima, assente na escuta e no diálogo" e que facilite o trabalho coletivo face a desafios como "as alterações climáticas, o financiamento sustentável dos territórios ou a necessidade de conciliar conservação e desenvolvimento local".
Reconhecendo também a necessidade de "reforçar a comunicação e a visibilidade dos geoparques" da Rede Global "através de uma voz unificada e de parcerias com escolas, meios de comunicação, agentes culturais, turísticos e decisores políticos", o novo presidente afirma: "Tenho confiança de que, com solidariedade e visão partilhada, conseguiremos mostrar ao mundo que os geoparques da UNESCO são soluções concretas para os grandes desafios do nosso tempo".
Para a eleição em causa, o nome de Artur Sá foi proposto por diferentes entidades, entre as quais o próprio Geoparque de Arouca e também a Rede de Geoparques das Caraíbas e América Latina -- que lhe elogia a "liderança visionária e dedicação incansável na promoção do conceito de geoparques como territórios dinâmicos" -- e ainda o Geoparque da Ilha de Lesvos -- em que o próprio Nikolaos Zouros defende que "a sua longa experiência no desenvolvimento de geoparques será útil para o desenvolvimento e fortalecimento do trabalho da Rede Global".
Na escolha do português terá influído, portanto, não apenas o seu currículo académico como docente e investigador, mas também a sua experiência internacional no acompanhamento da atividade dos geoparques. Nesse contexto, aliás, ainda em 2024 Artur Sá recebeu o título de Doutor Honoris Causa pela Universidade Regional do Cariri, no Brasil, em reconhecimento do trabalho que desenvolveu com o Geoparque de Araripe. Além disso, integrou 19 comités de avaliação ou revalidação a geoparques da Rede Global, com missões na Bélgica, Bolívia, Brasil, Canadá, China, Equador, Indonésia, Japão, Países Baixos, Rússia, Tailândia e Vietname.
Artur Sá integra ainda os conselhos científicos de vários geoparques: em Portugal, os de Arouca, Açores e Estrela; no Brasil, o de Araripe; em Espanha, o de Molina y Alto Tajo e o de Cabo Ortegal; e, no México, o de Mixteca Alta.
Além de membro do Comité de Coordenação da Rede Europeia de Geoparques, da Associação Internacional para a Promoção da Geoética e da ProGEO -- Associação Internacional para a Conservação do Património Geológico, é ainda presidente do Comité Português para o Programa Internacional de Geociências (IGCP-UNESCO), investigador do Centro de Geociências da Universidade de Coimbra e fundador da Sociedade Portuguesa de Paleontologia.
Para Margarida Belém, que preside à Associação Geoparque Arouca (e também lidera a autarquia), a eleição de Artur Sá é assim motivo de particular satisfação nesse concelho: "A sua eleição é uma justa distinção para quem tanto contribuiu para a criação e consolidação do geoparque de Arouca como uma referência a nível mundial na área da geoeducação, do geoturismo e da geoconservação".
Recordando que esse território foi o segundo no país a obter a classificação de geoparque, a mesma responsável afirma que Artur Sá teve desde o início "um papel absolutamente estruturante" na condução do processo e antecipa que ele desempenhará com "eficiência e ambição" as suas novas funções. "Acredito que realizará no seu mandato trabalho tão ou mais relevante como o que desenvolveu para a afirmação de Arouca como um destino geoturístico de excelência a nível nacional e internacional", conclui.
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