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"MP entreteve-se com a devassa da minha vida privada", diz Sócrates

Em declarações aos jornalistas, Sócrates considerou que o que se passou na sala de audiências foi um "espetáculo absolutamente ridículo" e defendeu (como já tinha feito anteriormente) que nunca jantou com Ricardo Salgado, mantendo que não mantinha qualquer intimidade com o ex-presidente do BES.

"MP entreteve-se com a devassa da minha vida privada", diz Sócrates

© Horacio Villalobos#Corbis/Getty Images

Carolina Pereira Soares com Lusa
02/09/2025 17:17 ‧ há 13 horas por Carolina Pereira Soares com Lusa

À saída da sessão desta terça-feira no âmbito da Operação Marquês, no Campus da Justiça, em Lisboa, José Sócrates reiterou que "desmontou" a acusação do Ministério Público (MP) e que os procuradores não foram capazes de apresentar nenhuma prova concreta que o incriminasse.

 

Em declarações aos jornalistas, Sócrates considerou que o que se passou na sala de audiências foi um "espetáculo absolutamente ridículo" e defendeu (como já tinha feito anteriormente) que nunca jantou com Ricardo Salgado, mantendo que não tinha qualquer intimidade com o ex-presidente do BES. Aliás, garante que não tinha nem o número nem a morada de Salgado.

"O que é absolutamente caricato é que eu para ir a casa de Ricardo Salgado, a secretária dele teve de dar à minha secretária a morada", explicou, dizendo que "fui a casa, entreguei-lhe o livro que tinha acabado de publicar e depois fui a casa de uns amigos que vivem ali muito perto".

José Sócrates considerou ainda que nesta sessão demonstrou que "afinal de contas a indemnização milionária foi paga pelo governo" que lhe "sucedeu e que foi paga aos bancos", acrescentando que "a Lena perdeu dinheiro" com o acordo, referindo-se a uma das acusações do MP que alega que Sócrates foi corrompido pelo grupo empresarial, para que este tivesse direito a uma indemnização do Tribunal de Contas.

"Não ficou pedra sobre pedra na acusação da PT e na acusação da Lena e o MP não apresentou nada e entreteve-se aqui com aquilo que fez sempre: a devassa da minha vida privada", afirmou Sócrates.

Sócrates negou ter jantado com Salgado durante a sessão

Dentro da sala de audiências, a retórica do antigo primeiro-ministro não fugiu muito às palavras que deixou à saída.

Iniciados os trabalhos (com já quase duas horas  de atraso devido a problemas de gravação de vídeo) o Ministério Público pediu para serem ouvidas as escutas telefónicas sobre o suposto jantar de Sócrates na casa do ex-homem forte do BES, Ricardo Salgado, em abril de 2014.

O ex-chefe do governo português mantém a versão de que esteve lá apenas meia hora e que acabou por se vir embora, porque Henrique Granadeiro (à época presidente executivo da PT) não apareceu.

"Fui convidado para o jantar e o jantar não aconteceu, porque Henrique Granadeiro não apareceu e foi até um pouco embaraçante. Mas não quero contribuir para a devassa do MP à minha vida privada. Não é verdade que eu tenha jantado", garantiu, citado pelo Observador, dizendo que, de seguida, foi a casa de uns amigos, que viviam próximos de Salgado.

Questionado pelo procurador do MP Rómulo Mateus se não tinha regressado à casa do, na altura, presidente do BES, e confrontado com escutas em que Sócrates falava sobre o jantar, o ex-primeiro-ministro manteve a mesma versão dos eventos.

"Querem provar que estive lá das oito até às tantas da manhã. Não é verdade, estive meia hora lá e fui a outra casa que é muito perto. Deve ser a mesma antena, sei lá", explicou Sócrates, citado pela CNN.

A juíza Susana Seca questionou, então,  por que razão é que o ex-governante tinha dito a Manuel Pinho (antigo ministro da Economia) que tinha jantado com Salgado. Sócrates respondeu que "era o que estava combinado" e que "disse que fui lá jantar, mas não fui".

À saída do julgamento, e questionado sobre a mesma situação, Sócrates resumiu: "no fundo, o que eu queria dizer é que fui a casa dele para jantar, mas que não jantei".

Sócrates pediu empréstimo de 120 mil euros para um ano (e meio) sabático

Passando a outros temas, o MP questionou depois o antigo governante sobre o período sabático que Sócrates gozou em Paris, França, após se ter demitido do cargo de primeiro-ministro.

Na última sessão do julgamento, antes das férias judiciais, Sócrates terá dado a entender que os 18 meses que passou na capital francesa sem vencimento, foram um período curto.

"Honestamente, a pergunta é a seguinte: até quando vão abusar da nossa paciência? O MP não tem provas para apresentar?", questionou, respondendo apenas que "gostaria de ter tido apenas um ano de período sabático, em vez de um ano e meio".

O antigo governante ter-se-á começado a exaltar perante esta linha de interrogatório, sendo descrito pelo Observador com o tom de voz a subir e a gesticular intensamente.

"Claro que gostaria de ter começado a trabalhar para a Octapharma antes. Eu recebi vários convites, mas não aceitei, porque não queria trabalhar em Portugal", explicou. "Fiquei à espera que houvesse um convite para que pudesse exercer atividade numa outra área geográfica."

"O empréstimo de 120 mil euros [pedido à CGD] está justificado [como sendo] para o ano sabático. Quais as perspectivas de duração do ano sabático?", insistiu o procurador Rómulo Mateus.

"Oh Sra. juíza… a duração de um ano sabático é de um ano", disse o ex-governante, acrescentando apenas que o mestrado que tirou em ciência política teve a duração de três semestres, sendo que o último foi para a elaboração da tese "que o MP acha que foi feito por outro".

Sócrates é o principal arguido na Operação Marquês. É acusado de 22 crimes

O antigo primeiro-ministro José Sócrates é o principal arguido deste processo que conta com 21 acusados de 117 crimes de corrupção, branqueamento de capitais e fraude fiscal.

Sócrates está pronunciado (acusado após instrução) de 22 crimes, incluindo três de corrupção, por ter, alegadamente, recebido dinheiro para beneficiar em dossiês distintos o grupo Lena, o Grupo Espírito Santo (GES) - ligado ao BES, à data acionista da PT - e o empreendimento Vale do Lobo, no Algarve.

Ricardo Salgado, de 81 anos e doente de Alzheimer, e Henrique Granadeiro, da mesma idade, são outros dos 21 arguidos no processo.

O julgamento do caso Operação Marquês começou a 3 de julho e o coletivo liderado pela juíza Susana Seca ouviu as declarações iniciais do ex-primeiro-ministro socialista durante três das quatro sessões realizadas.

Anteriormente, em tribunal, Sócrates considerou que é absurdo estar acusado de ter sido corrompido pelo grupo Lena para que o projeto do TGV, ganho por um consórcio que incluía o grupo empresarial, fosse abandonado.

Em causa está uma alínea que previa que o vencedor do concurso para a construção do troço Poceirão-Caia da linha de alta velocidade, realizado há mais de 15 anos, fosse indemnizado, caso o Tribunal de Contas chumbasse o projeto - como acabaria por acontecer.

O grupo Lena era membro minoritário desse consórcio, e, portanto,  conseguiu o direito a ser indemnizado em mais de 150 milhões de euros.

Para José Sócrates, entre "os cinco absurdos" desta acusação, está a alegação de o grupo Lena ter feito em 2007 "pagamentos corruptos de grande volume" para "um projeto que nunca existiu" e que "se destinavam a obter indemnizações do Estado que até hoje não foram pagas".

A ideia de que o antigo primeiro-ministro (2005-2011) teria um "desejo secreto" de que o projeto do TGV - uma das bandeiras do seu Governo - não fosse concretizado é outro absurdo.

Assim como, a existência de "uma conspiração" com um outro arguido afastado pelo seu governo do projeto, ou a convicção de que foi uma empresa minoritária (e não o consórcio) a fazer os pagamentos e com o objetivo de perder o concurso.

"É já uma manobra de desespero [do Ministério Público]: não temos nada para acusar, vamos buscar uma alínea", defendeu, no quinto dia do julgamento da Operação Marquês e quarto de interrogatório, o ex-governante socialista, assegurando que só soube da existência da cláusula em 2017.

José Sócrates acrescentou que a consequência da suspeita lançada pelo Ministério Público de que "o concurso foi manipulado" foi que, enquanto em Espanha se construíram 1.500 quilómetros de alta velocidade, em Portugal nada se fez.

Leia Também: Sócrates diz que foi a banca que ganhou com chumbo do TGV: "Alucinação"

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