Numa nota de imprensa enviada à agência Lusa, a comunidade entretanto estabelecida na zona da freguesia da Benfeita defende um apoio para as pessoas que perderam casas e meios de subsistência e uma mudança de estratégia na floresta, que priorize "a reflorestação com espécies nativas e a biodiversidade" e repense as "vastas monoculturas de eucalipto e pinheiro" que cobrem uma boa parte do concelho.
A Benfeita é uma freguesia que tem recebido ao longo das últimas décadas vários cidadãos estrangeiros, mas também nacionais, que procuram uma mudança de vida.
"Serão umas 200 pessoas ou mais que moram aqui e a comunidade está muito unida, com muitos dias de trabalho comunitário no pós-fogo", disse à agência Lusa Inês Moura, que se mudou para o concelho de Arganil há cerca de 11 anos e que participou no comunicado que diz expressar "uma vontade generalizada" da comunidade.
Além da prioridade com espécies nativas na reflorestação, aqueles cidadãos defendem um repensar da utilização de terrenos "que visa a obtenção de ganhos financeiros a curto prazo -- incluindo a plantação de monoculturas, a instalação de parques de painéis solares, projetos eólicos e mineração".
"A exploração do interior tem de parar nos moldes em que está a acontecer. O caminho está a ficar cada vez mais claro e fica cada vez mais claro que a monocultura do pinhal e do eucaliptal potenciam a expansão de incêndios de grandes dimensões", notou Inês Moura, que perdeu a sua casa nos incêndios de outubro de 2017.
Depois do incêndio que afetou a freguesia em outubro de 2017, aquela comunidade criou a ARBOR (Associação da Região de Benfeita para Objetivos Regenerativos), que, ao longo dos anos, avançou com ações de reflorestação e criou três equipas de autoproteção com carrinhas equipadas com tanques, entre outras iniciativas.
Bárbara Sá, presidente da ARBOR, disse à Lusa que essas mesmas equipas estiveram ativas agora em agosto, com a sua ação a ter sido importante para salvar algumas das casas ameaçadas pelas chamas na região.
"Estamos contentes por vermos que as equipas funcionaram. Além disso, a comunidade mobilizou-se no seu todo. Agora, temos de investir para melhorar essa ação", disse.
Após 2017, a ARBOR dinamizou várias ações de reflorestação com a plantação de milhares de árvores pela região, com alguns dos pontos a serem afetados agora com o incêndio de agosto.
Apesar de parte do esforço ter caído por terra -- as árvores eram demasiado jovens para poderem oferecer resistência às chamas -, a ARBOR pretende continuar o seu trabalho.
"Existem muitas ideias e muito boas", quer na reflorestação, quer na autoproteção dos residentes.
Segundo Bárbara Sá, apesar de uma certa divisão cultural entre os residentes locais e estrangeiros, o incêndio esbateu essa separação.
"As pessoas confiam mais em nós", notou.
Para o futuro, também Bárbara Sá espera que haja uma mudança de políticas a nível nacional no que toca à floresta.
"O interior é visto como recurso para alimentar um estilo de vida urbano. E é triste porque o interior é muito mais do que um amontoado de recursos", notou.
Mesmo com reflorestações afetadas, Bárbara Sá acredita que o grande incêndio de agosto reforça o caminho trilhado depois de 2017.
"Há pessoas com vontade de cuidar e proteger os vales e isso dá vontade de ficar. A resistência por parte das pessoas faz-me ter esperança e quero continuar aqui", vincou.
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