A violenta agressão de um bombeiro de Machico, na ilha da Madeira, à mulher em frente ao filho de 9 anos, na madrugada do passado domingo, está a chocar o país.
O espancamento foi filmado pelas câmaras de videovigilância e partilhado nas redes sociais. As imagens, que o Notícias ao Minuto optou por não reproduzir, são perturbadoras.
Vê-se o homem, de 35 anos, a aproximar-se da porta de uma casa e a tocar à campainha. A partir daí começa o terror. Ouvem-se gritos, de uma mulher e de uma criança.
Posteriormente, já no exterior da residência, vê-se o agressor e a vítima, de 34 anos, já no chão. No meio deles um menino, de apenas 9 anos, implora ao pai para parar e serve de escudo a vários golpes. "Pai, não batas, por favor", ouve-se a criança dizer, enquanto a mulher chora, prostrada no chão.
Quando o homem se retira do local, o menino pede à mãe para se levantar, enquanto a tenta ajudar. "Não consigo", responde-lhe a mulher, em lágrimas.
De acordo com a SIC Notícias, a violenta agressão ocorreu em casa de uma familiar da vítima e que a mulher abriu a porta quando pensava que essa mesma familiar, que tinha acabado de sair da residência, se tinha esquecido de alguma coisa. A partir daí foi brutalmente espancada pelo marido, que não teria conhecimento das câmaras de videovigilância.
A Polícia de Segurança Pública (PSP) foi chamada ao local e acabou por identificar o suspeito, tendo o caso sido encaminhado para o Ministério Público (MP), tal como confirmou na segunda-feira fonte da força de segurança ao Notícias ao Minuto.
No entanto, o bombeiro, que será também barbeiro, só viria a ser detido na terça-feira, dois dias depois da brutal agressão e um dia após as imagens se terem tornado públicas.
O suspeito está agora a aguardar "apresentação para interrogatório judicial nos quartos de detenção da PSP", o que deverá ocorrer "no prazo máximo de 48h", devendo, nesse sentido, ser presente a juiz hoje, quarta-feira, dia 27 de agosto.
A expetativa para o que virá a seguir é geral. Quais serão as medidas de coação? Servirão as imagens captadas pelas câmaras de videovigilância (que poderão não ter licenciamento) como prova do violento crime? Algumas das respostas a estas perguntas podem chegar já hoje.
Mulher ficou desfigurada e teve de ser operada
A mulher, que segundo a CNN Portugal, ficou desfigurada e teve de ser mesmo hospitalizada, foi submetida a uma primeira cirurgia.
Entretanto, teve alta e está agora a recuperar em casa de familiares, à espera de poder realizar uma segunda intervenção cirúrgica. Já a criança está à guarda da família próxima.
Crime era "público e recorrente"
Também segundo a CNN Portugal, as agressões eram conhecidas por várias pessoas, uma vez que o suspeito partilhava estes comportamentos em grupos. Aos amigos, o bombeiro descrevia mesmo o comportamento como "uma atitude de homem".
Conta ainda o mesmo canal de televisão que, em grupos privados no WhatsApp, amigos do suspeito disseram que a situação era "pública e recorrente" e que este tinha o hábito de partilhar as histórias, enquanto se ria, orgulhoso.
As amigas da vítima dizem que o suspeito ameaçava a mulher com a retirada do filho, de 9 anos, por auferir um salário superior. Apesar de a situação ser pública, nunca terá sido denunciada às autoridades.
Além disso, há vários anos que mantinha, alegadamente, uma relação extraconjugal com outra mulher, que também sofreria de maus-tratos por parte do suspeito.
"Vi umas mensagens e fiquei cego"
Em declarações ao Diário de Notícias da Madeira, o suspeito disse estar "profundamente arrependido". "Vi umas mensagens e fiquei cego. Foi isso que aconteceu e peço desculpa", afirmou.
O mesmo jornal revelou que a vítima está agora a ser acompanhada pela Segurança Social.
"Desde as primeiras horas da manhã, a Secretária, em articulação com o Instituto de Segurança Social da Madeira (ISSM), através da sua equipa de apoio à vítima, tem acompanhado de perto este caso, assegurando a adoção imediata de todas as diligências necessárias para garantir a proteção e o acompanhamento da vítima e do respetivo agregado familiar", indicou, em comunicado, a secretária regional da Inclusão, Juventude e Trabalho, Paula Margarido. confessando-se "profundamente chocada" com o sucedido.
"Trata-se de uma situação de extrema gravidade que exige uma resposta célere, firme e adequada", completou.
"Ato reprovável"
Nas redes sociais, o Comando dos Bombeiros Municipais de Machico apresentou “profunda consternação” perante o crime, cujo autor é um dos elementos daquela corporação. Diz ainda ser um "ato reprovável" que quer ver tratado pelas entidades responsáveis, apelando a que seja feita justiça.
"Protejam este menino"
Entretanto, nas redes sociais, muitos são os que se mostram solidários com a mulher e filho, vítimas deste crime de violência doméstica, e pedem que estes sejam devidamente acompanhados, uma vez que estas agressões podem vir a ter consequências para o futuro a nível psicológico e emocional.
Pedro Chagas Freitas é uma das caras conhecidas que já reagiu. "Protejam este menino, esta família. Dêem-lhes a possibilidade de viver. Dêem-nos a possibilidade de acreditar. A Justiça existe quando a justiça existe. Não conheço nada mais justo do que recuperar o coração desiludido, destroçado, em ruínas, de uma criança. Força, miúdo. Não te conheço e já te adoro", disse o escritor numa publicação que fez na rede social.
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