O capitão Daniel Matos, do Comando Territorial de Leiria da Guarda Nacional Republicana, disse à Lusa que "esta situação tem grave impacto na fauna e flora locais", havendo já "evidências desse impacto com fauna morta, sobretudo peixes".
Hoje, a Águas do Centro Litoral (AdCL) divulgou que a estação de Monte Real (Leiria), que eleva efluente para a estação de tratamento de águas residuais do Coimbrão, "encontra-se temporariamente inoperacional devido a uma avaria nas bombas que compõem o sistema de elevação".
Face à inoperacionalidade da estação elevatória, "foi acionado o sistema de descarga de emergência da estação, bem como da estação elevatória a montante (Serra de Porto do Urso)", explicou, adiantando que "estas descargas ocorrem, respetivamente, no rio Lis e numa vala de rega adjacente", informou a AdCL.
Segundo a AdCL, "estão a ser tomadas todas as medidas necessárias para resolver esta ocorrência, com a maior celeridade possível".
A situação levou à interdição de banhos na Praia da Vieira, concelho da Marinha Grande, onde desagua o rio Lis, e o Município de Leiria desaconselhou atividades no troço do rio Lis a jusante de Monte Real, incluindo captações para rega, banhos e pesca.
A GNR esclareceu que, através do Núcleo de Proteção Ambiental, deslocou-se na manhã de hoje à estação, "onde realizou diligências de investigação relacionadas com a fonte poluidora".
Além de testemunhos, a GNR recolheu "amostras de águas residuais e de águas superficiais, destinadas a avaliação do grau de degradação da qualidade da água".
"Estas diligências têm como finalidade a comunicação ao Ministério Público e a execução das respetivas ações de investigação criminal", revelou o Comando Territorial de Leiria.
Por outro lado, a GNR percorreu as margens do rio Lis após o ponto inicial da contaminação, "identificando e afastando pessoas que se encontravam a realizar atividades junto ao curso de água".
"No local esteve igualmente presente o Núcleo de Investigação de Crimes e Contraordenações Ambientais, em apoio às ações de investigação", referiu a GNR.
Já a Câmara de Leiria, em comunicado, sustentou que se está perante uma "grave ocorrência ambiental", que "levou à descarga direta de efluentes não tratados no rio Lis".
Exigindo à AdCL "a adoção imediata de medidas de contenção e reparação dos danos causados", o município, liderado por Gonçalo Lopes, pede também à empresa a "implementação de soluções que previnam a repetição de situações" idênticas.
A autarquia reclamou, igualmente, o "esclarecimento cabal" sobre o acidente, defendendo a criação de uma comissão de inquérito, além da garantia das "respetivas compensações ambientais e sociais causadas por este grave acidente".
Para o município, "este episódio expõe, mais uma vez, as fragilidades do sistema de tratamento de águas residuais" na região de Leiria, "tema que tem sido alvo de pedidos sucessivos de reforço de investimento por parte dos autarcas", mas que "tardam em ser atendidos".
No comunicado, a autarquia lamentou que, "ao longo de sucessivos governos, as questões ambientais que afetam cronicamente a região de Leiria, em particular a Bacia Hidrográfica do Rio Lis, não tenham merecido a prioridade, nem o compromisso que a sua gravidade impõe".
Perante isto, exige-se da AdCL, que tem a concessão da exploração e da gestão do Sistema Multimunicipal de Abastecimento de Água e de Saneamento do Centro Litoral de Portugal, e do Governo "um plano de investimento urgente, que assegure a modernização das infraestruturas, a redundância de equipamentos críticos e a criação de protocolos de resposta rápida a emergências ambientais", acrescentou o comunicado.
Leia Também: 184 países tentam acordo sobre plásticos (ainda sem resultado)