Atualmente a divulgar pelo país um documentário sobre as leis repressivas que afetaram a comunidade cigana ao longo dos séculos, o presidente da Associação Sílaba Dinâmica, de Elvas, disse à Lusa que faltam verbas para poder continuar a divulgar o projeto.
"Gostávamos de ter seguimento do projeto, o problema tem a ver com verbas, somos um grupo de pessoas que anda pelo país inteiro, mas quando nos falta verba para o gasóleo, quando falta verbas para pagar às pessoas que trabalham connosco" é difícil prosseguir, enumerou Luís Romão, que falava à margem da apresentação do documentário "500 anos de leis repressivas", em Torres Vedras.
Referindo que as associações ciganas "vivem de migalhas", ao contrário de "associações não ciganas que trabalham para as comunidades ciganas e que têm financiamento 10 e 20 vezes maiores", Luís Romão disse que a associação a que preside se resume "a pequenos projetos que concorre à AIMA [Agência para a Integração Migrações e Asilo] e os financiamentos da AIMA são muito curtinhos, dá para fazer projetos de um ano, ano e meio no máximo".
"Nunca pode ser um projeto que nos faça correr o país em três ou quatro anos", afirmou, exemplificando o caso do documentário que foi produzido em 2024 e que está a ser mostrado este ano.
Para o responsável, "as associações estão bloqueadas devido à ausência da Estratégia Nacional para as Comunidades Ciganas, ao não haver esta estratégia não há linhas de financiamento para apoiar este tipo de projetos. Existem apenas dois programas, mas estão relacionados com bolsas de estudo", prosseguiu.
Também o vice-presidente da Associação Sendas e Pontes, de Torres Vedras, Lindo Cambão, disse à Lusa que acabou o dinheiro para os projetos que tinha em curso: um desenvolvido num bairro social (a comunidade cuidava do bairro em troca de vales alimentares) e outro de tutoria de crianças.
"Neste momento não há projetos em curso porque o dinheiro está bloqueado por falta do plano estratégico, o que fazemos é ajudar as pessoas da comunidade, se for preciso, a preencher documentos", por exemplo.
Referindo que em Torres Vedras há mais de 400 ciganos, disse que "há o problema da habitação".
"Estamos sobrelotados, apesar de aqui não existirem barracas, há problemas de habitação e ainda mais na comunidade cigana, porque é difícil arranjar emprego. Para se trabalhar em Torres Vedras ou é alguém que o município deu trabalho, dois ou três que já tinham tido emprego numa fábrica, de resto é difícil arranjar trabalho para a comunidade cigana. Ou têm que esconder a identidade, se não esconderem a identidade é difícil", referiu.
A Estratégia Nacional para a Integração das Comunidades Ciganas aguarda há quase um ano por consulta pública, após a anterior ter terminado em 2023.
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