A falta de reações políticas ao caso de quatro funcionárias filmadas a agredir crianças numa creche de Rabo de Peixe, na ilha de São Miguel, na Região Autónoma dos Açores, está a gerar revolta entre os pais das vítimas e não só.
Basta uma rápida pesquisa nas redes sociais para perceber que muitas pessoas se questionam sobre o silêncio do Governo regional, liderado por Manuel Bolieiro, sobre o caso, assim como do principal partido da oposição, o PS.
Aliás, como recorda a TVI, o único partido que reagiu, até ao momento, foi o Chega, no Parlamento açoriano e no Facebook.
"Nesta primeira intervenção não podia estar calado. Eu não percebo o que se passou em Rabo de Peixe. Eu não percebo como é que o Estado falha desta maneira [...]. Onde é que está o Estado? Onde é que está esta fiscalização? É muito bonito falar da SATA, falar disto e daquilo. Mas nas nossas terras acontecem as coisas e há um silêncio absoluto sobre isto. Tenho vergonha do que vi, tenho vergonha do que está a acontecer. E tenho vergonha que nem o Estado nem o Governo Regional tenha dado um passo para resolver aquilo e resolver uma vez por todas este problema, que não é só nas creches. Há violência contra idosos, há violência contra mulheres. E não precisamos ser, mais uma vez, retratados negativamente numa televisão para podermos resolver os problemas da nossa casa. É para isso que estamos aqui e para isso que temos um Governo Regional", atirou o líder do Chega Açores, José Pacheco.
À TVI, o pai de um dos meninos agredidos admitiu ter ficado mais aliviado com o facto das imagens das agressões terem sido divulgadas.
"A sociedade não acreditava, foi bom as imagens terem sido divulgadas para verem que é verdade", afirmou.
Recorde-se que quatro funcionárias foram filmadas a agredir várias crianças no Centro de Apoio à Criança n.º 1 de Rabo de Peixe, na ilha de São Miguel, nos Açores.
As imagens chocantes, a que entretanto o Notícias ao Minuto teve acesso, são repugnantes. Nelas vê-se quatro das auxiliares de educação da creche a tratar as crianças com violência. Há palmadas nos braços e na testa, gritos e empurrões. A certa altura, uma das mulheres força mesmo um menino a engolir o seu próprio vómito e outra, com o cabo da colher, empurra a comida pela garganta de uma menina.
Depois de terem sido suspensas e reintegradas, as auxiliares de educação voltaram a ser suspensas, há cerca de duas semanas, depois de todos os trâmites que envolvem o processo disciplinar de que foram alvo.
As quatro funcionárias vão ficar assim afastadas da instituição até ao término do processo, que já está nas mãos no Ministério Público (MP).
Além disso, as auxiliares estão obrigadas - pelo tribunal - "a frequentar cursos, promovidos pela Direção Geral de Reinserção e Serviços Prisionais, destinados a agressores".
Ao Notícias ao Minuto uma mãe contou que as agressões não são de agora. Aliás, terão sido "abafadas" durante muitos anos, por medo.
"Já passaram 6 a 7 anos, o meu menino chorava imenso quando o deixava de manhã na creche, assim que via a 'M' era como ver o demónio, assisti a algumas situações, outras ele próprio contou depois de sair da creche e ir para a 'pré'. Ainda me queixei aos responsáveis [da altura], mas disseram-me ser impossível e agora é isso... temos esta notícia", revelou a mulher ao Notícias ao Minuto.
Questionada sobre as agressões das quais o filho terá sido alvo, a mesma descreveu um cenário de horror: "Ela punha fita adesiva na boca do meu filho para ele não chorar, quando estava a fazer o desfralde, se fizesse chichi no colchão ela levava-o do quente da cama para água gelada e, muitas vezes, deixava-o sozinho a chorar em cima do muda fraldas", garantiu.
O caso está, como confirmou a Procuradoria Geral da República (PGR) ao Notícias ao Minuto em segredo de justiça.
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