José Sócrates: "A senhora juíza tem uma hostilidade latente contra mim"

A juíza Susana Seca avisou várias vezes o ex-primeiro-ministro para moderar o tom de voz durante a segunda sessão do julgamento do processo Operação Marquês.

José Sócrates

© Horacio Villalobos / Corbis/Getty Images

Carmen Guilherme com Lusa
08/07/2025 17:54 ‧ há 5 horas por Carmen Guilherme com Lusa

País

Operação Marquês

O antigo primeiro-ministro José Sócrates acusou, esta terça-feira, a juíza Susana Seca de ter "uma hostilidade latente" contra si, num comentário à tensão sentida durante a segunda sessão do julgamento do processo Operação Marquês.

 

"A senhora juíza tem uma hostilidade latente contra mim, que eu espero ter contribuído para pôr de lado, porque isso, realmente, é horrível", disse José Sócrates, em declarações aos jornalistas à saída do Campus da Justiça, em Lisboa.

Recorde-se que a juíza Susana Seca avisou várias vezes o ex-primeiro-ministro para moderar o tom de voz. "Temos todos o mesmo nível de inteligência, não tem de sugerir que eu tenho défice cognitivo. O senhor não vai continuar nesse tom e também não utiliza expressões irónicas", advertiu a juíza.

Ainda em declarações aos jornalistas, Sócrates insistiu que "não ficou pedra sobre pedra na questão da PT e da OPA da Sonae"

"Eu não tinha o número de Ricardo Salgado"

Posteriormente, fez referência às conversas telefónicas que manteve com Ricardo Salgado, tendo as mesmas sido reproduzidas pelo tribunal. Foram ouvidas cinco chamadas feitas entre Sócrates e Salgado, em 2013 e 2014. Para o ex-primeiro-ministro, as escutas "servem para tirar três conclusões".

"Eu não tinha o número de Ricardo Salgado", começou por apontar. Depois, defendeu ainda que as chamadas mostram também que Ricardo Salvado lhe ligou por engano e que não tinha uma relação de amizade com o ex-banqueiro. 

"Ele ligou-me por engano e eu tratei-o com a consideração que era necessário ser tratado alguém que estava a passar por um processo criminal muito severo", justificou, defendendo ainda que usa a expressão "caro amigo" "muitas vezes".

"Isso não significa amizade. É preciso estar de muito má fé para tirar essa conclusão", criticou. "O que se retira daqui é o seguinte: não ficou pedra sobre pedra", reiterou. 

Recorde-se que José Sócrates negou hoje, durante a segunda sessão do julgamento, qualquer relação de proximidade com o ex-presidente do Banco Espírito Santo.

Já durante a sessão da tarde, e depois de ter falado sobre a OPA da Sonae à PT durante a manhã, José Sócrates quis sublinhar, mais uma vez, que Ricardo Salgado não manipulou nem interferiu nas decisões do então governo socialista.

"É uma ofensa e eu tenho de a desmentir. Eu não conhecia o dr. Ricardo Salgado antes de ir para o Governo. Ele não indicou ninguém para o meu Governo. Isso é mentira, é falso", referiu José Sócrates perante o coletivo presidido pela juíza Susana Seca, acrescentando o que já tinha dito na primeira sessão sobre ter sido o também ex-primeiro-ministro António Costa a apresentar o antigo ministro Manuel Pinho e não Ricardo Salgado.

Sobre as chamadas, o antigo primeiro-ministro entendeu que as mesmas mostram que não existia proximidade, ainda que tenha sido ouvido durante as escutas vários convites para jantar e almoçar, cumprimentos à família, nomeadamente endereçados à mulher de Salgado, tratamentos entre ambos por "caro amigo" e Ricardo Salgado a tratar Sócrates por "Zé".

"Proximidade" com Ricardo Salgado? "Das mais extraordinárias fabricações"

O antigo primeiro-ministro José Sócrates negou hoje, durante a segunda sessão do julgamento do processo Operação Marquês, qualquer relação de proximidade com o ex-presidente do Banco Espírito Santo, Ricardo Salgado.

Lusa | 16:46 - 08/07/2025

Além da tensão entre José Sócrates e a juíza Susana Seca, os desentendimentos estenderam-se também aos procuradores do Ministério Público, tendo o procurador Rui Real sublinhado que não é o arguido que "dita as regras", depois de Sócrates ter contestado a sugestão do magistrado para que as escutas fossem reproduzidas. "Se o senhor procurador quer falar, pede autorização à juíza", respondeu Sócrates, irritado por ter sido interrompido pelo procurador.

Onze anos após a detenção de José Sócrates no aeroporto de Lisboa, arrancou na passada quinta-feira o julgamento da Operação Marquês, que leva a tribunal o ex-primeiro-ministro e mais 20 arguidos e conta com mais de 650 testemunhas.

Estão em causa 117 crimes, incluindo corrupção, branqueamento de capitais e fraude fiscal, pelos quais serão julgados os 21 arguidos neste processo. Para já, estão marcadas 53 sessões que se estendem até ao final deste ano, devendo no futuro ser feita a marcação das seguintes e, durante este julgamento serão ouvidas 225 testemunhas chamadas pelo Ministério Público e cerca de 20 chamadas pela defesa de cada um dos 21 arguidos.

[Notícia atualizada às 18h04]

Leia Também: Sócrates responsabiliza Passos Coelho pela "desgraça" da PT

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