O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, falou, este sábado, da "onda" do momento, que 'engloba' o medo em tempo de crise, e também da força que os portugueses têm no mundo.
"Em tempos de crise é fácil o apelo ao medo, à preocupação. Nuns casos por causa do emprego, noutros por causa de segurança. Noutros, apenas pelo envelhecimento", afirmou o chefe de Estado, em declarações aos jornalistas no 40.º aniversário da União das Cidades Capitais de Língua Portuguesa.
Durante as declarações, Marcelo disse que é preciso compatibilizar as ondas de cada momento - sendo a onda agora a do medo -, com o que é fundamental. "Se se criam problemas graves na comunidade que fala português, ou dúvidas, ou intolerâncias, ou outras formas que minimizam a projeção da língua, cultura e destes povos: isto é complicado", considerou.
Marcelo Rebelo de Sousa justificou ainda a declarações, apontando que "nós, portugueses, temos muita força no mundo, mas há países que falam português que têm - não diria mais força, mas - uma força diferente e essencial no mundo" -, do qual deu o exemplo o Brasil, não só pela dimensão "dos que falam português", mas também por ser uma potência regional.
E o Presidente não ficou 'apenas' pela América, dando o exemplo de Timor-leste na influência na Ásia e também de África: "Angola e Moçambique, por serem potências regionais. Cabo Verde, porque é uma ponte entre vários continentes."
"Nenhum destes povos pode perder isso, por causa de questões que sejam meramente de conjuntura", apontou.
Conseguimos consensos que mais ninguém consegue. Conseguimos fazer pontes entre pessoas que não se falam. Conseguimos por a falar à mesma mesa Estados que não dialogam
Questionado acerca de medidas que eventualmente serão legisladas, e confrontando sobre se pensa que deve haver uma prioridade para os países de língua oficial portuguesa, Marcelo disse que "não conhece os diplomas" neste âmbito ainda, mas afirmou: "Aparecendo nas minhas mãos até ao fim do mandato, naturalmente que vou acompanhar com muito interesse, porque passei toda a minha vida como estudante, professor, responsável na educação, ensinando nos países que falam português... a defender a importância desta comunidade que hoje aqui é celebrada. Era um bocadinho incompreensível que estando em pleno mandato Presidencial, que eu não fosse sensível à mesma prioridade e, portanto, a última coisa que posso conceber é que Portugal perdesse um trunfo fundamental por uma má gestão de um dossier que é fundamental para o país."
Marcelo salientou ainda a importância de Portugal como 'ponte', nomeadamente, na Europa, já que o país tem ligações com outros continentes e povos nesses mesmos continentes, o que é uma distinção. "[Ligações] Que muito países europeus, na maioria, não têm. Deitar isso pela janela não faz sentido. portugueses percebem isso, e responsáveis políticos também", considerou.
"Conseguimos consensos que mais ninguém consegue. Conseguimos fazer pontes entre pessoas que não se falam. Conseguimos por a falar à mesma mesa Estados que não dialogam", elogiou, referindo-se ao povo português.
Na sessão de hoje, foi inaugurado pelo Presidente da República um busto do poeta Luís Vaz Camões, da autoria do escultor de ascendência espanhola Diogo Munoz, que será replicado noutras capitais de língua portuguesa, e lançado um selo dos CTT alusivo à efeméride, a par da exposição "Retratos da Imigração", do fotógrafo Afredo Cunha.
Na presença de membros o Governo, incluindo o ministro da Coesão e da Economia, Manuel Castro Almeida, e membros do corpo diplomático, o presidente da Câmara de Lisboa, Carlos Moedas, salientou "um grande projeto que mudou, de certa forma, a relação com as cidades capitais, mas também com os países, porque ele é o precursor da CPLP".
Para o autarca lisboeta, o ADN da UCLA "é realmente esta relação entre as cidades da língua portuguesa, em que todas são iguais", prestando homenagem a Krus Abecasis, que descreveu como "um visionário".
As comemorações dos 40 anos da UCCLA coincidem com os 50 anos das independências de vários países africanos de língua oficial portuguesa. Neste âmbito, está prevista uma colaboração especial com a cidade de Luanda, onde será realizada uma conferência internacional dedicada a temáticas atuais, como cidades sustentáveis e alterações climáticas, de acordo com a organização.
Além das celebrações, a UCCLA reafirmou o compromisso com a cooperação para o desenvolvimento, tendo sido apresentados projetos em curso em Timor-Leste, Moçambique, Cabo Verde e São Tomé e Príncipe como exemplos da ação concreta da instituição em matéria de reconstrução urbana, formação profissional, educação e apoio à administração local.
[Notícia atualizada às 19h42]
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