Baixa lisboeta é "segregacionista". "É demasiado exclusiva e é cara"

Presidente da Faculdade de Arquitetura da Universidade de Lisboa explica, no âmbito de um fórum internacional sobre urbanismo, que "as atividades que lá estão são muito especializadas só num sentido".

Baixa lisboeta, rossio, vista aérea de Lisboa, Teatro D. Maria II

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Lusa
26/06/2025 13:53 ‧ há 3 horas por Lusa

País

Faculdade de Arquitetura

A baixa lisboeta é, "neste momento, francamente segregacionista", constata o presidente da Faculdade de Arquitetura da Universidade de Lisboa, anfitriã de um fórum internacional sobre urbanismo entre os dias 1 e 4 de julho.

 

"Embora acessível a toda a gente, a Baixa [lisboeta] é, francamente, segregacionista. Toda a gente pode ir lá, de facto, mas grande parte do que acontece na Baixa não é atrativo ou exclui uma boa parte dos cidadãos da área metropolitana", analisa Jorge Mealha.

Em declarações à Lusa a propósito da realização do International Forum on Urbanism (IFoU25), que vai decorrer em Lisboa, o arquiteto e professor universitário justifica dizendo que a baixa da capital "é demasiado exclusiva, é cara" e "as atividades que lá estão são muito especializadas só num sentido".

A isto acrescem outros fatores de pressão, nomeadamente a concentração do alojamento local em algumas zonas da cidade.

"Se calhar, se estivesse distribuído equitativamente, até não produzia as distorções que produz, na desertificação, na especulação", estima.

Além disso, verifica-se uma "hiperconcentração" no centro histórico, que "introduz claramente uma brutal distorção no uso da cidade", acrescenta.

O IFoU25 vai dedicar um dia (3 de julho) à Área Metropolitana de Lisboa e aos desafios de planeamento, mobilidade e habitação que se lhe colocam, com as participações de responsáveis das câmaras municipais de Almada, Amadora, Barreiro, Cascais, Lisboa e Sintra.

Sob o tema 'Future living' (vivência do futuro), o fórum - organizado pelo Centro de Investigação em Arquitetura, Urbanismo e Design da Faculdade de Arquitetura da Universidade de Lisboa, em colaboração com a Academia de Escolas de Arquitetura e Urbanismo de Língua Portuguesa - reunirá especialistas, investigadores, decisores políticos e cidadãos para refletir sobre os desafios e as oportunidades que se colocam ao futuro da vida urbana.

A reunião da rede internacional, que junta universidades, centros de investigação e outros polos em torno da investigação e da criação de conhecimento em temas focados na cidade e no território, será acolhida no renovado Pavilhão de Portugal, que, depois das obras levadas a cabo pelo arquiteto Siza Vieira, foi transferido para a Universidade de Lisboa.

O congresso vai abordar as questões da habitação acessível e da justiça espacial, procurando "novas abordagens criativas aos problemas do presente", resume Jorge Mealha.

"Estamos numa fase de acelerar a mudança de paradigmas, onde as questões quanto à tipologia, quanto às políticas do território, (...) desde a economia à ecologia à justiça social levantam problemas novos todos os dias", aponta, defendendo estratégias colaborativas.

Um dos maiores desafios passa pela justiça espacial, ou seja, pelo "uso algo condicionado" da cidade provocado pela economia, que faz com que, "no fundo, haja zonas da cidade que segregam parte dos seus habitantes, seja num sentido, seja noutro".

Além disso há mudanças culturais nas vivências, em curso no mundo inteiro, decorrentes, desde logo, da transformação da "família tradicional" e do fim da casa onde "várias gerações coexistiam na mesma casa".

Atualmente, "começam a aparecer tipologias onde se fabricam casas maiores, com pequenos núcleos, onde as pessoas podem ter alguma autonomia, mas onde várias pessoas, que podem ser casais ou não, convivem no mesmo espaço e partilham algumas das áreas", exemplifica.

Sendo um congresso tradicional, com comunicações, também propõe uma série de atividades para o público mais geral, de conferências como a que o arquiteto Neil Leach fará sobre arquitetura e inteligência artificial (dia 02 de julho, às 19:30) a debates como o que vai acontecer a propósito do documentário "To build law", com Giovanna Borasi, diretora do Centro Canadiano para a Arquitetura, e Tiago Mota Saraiva, arquiteto e membro dos projetos Ateliermob e Trabalhar com os 99% (dia 04 de julho, às 19:30).

A sessão de abertura contará com a presença do ministro das Infraestruturas, Miguel Pinto Luz, e o encerramento oficial será feito pelo presidente da Área Metropolitana de Lisboa, Basílio Horta.

Leia Também: Base das Lajes "sempre foi muito importante" na relação com Portugal

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