O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, confirmou que foi "notificado" pelo Governo de Luís Montenegro de um "pedido formulado pelos Estados Unidos para a permanência na Base das Lajes", nos Açores, mas garantiu que Portugal não sabia que os norte-americanos planeavam atacar o Irão.
"O Governo comunicou-me o que se passava. Esse pedido foi formulado pelos Estados Unidos para a permanência na Base das Lajes, no quadro do acordo que existe já há muitos anos, de aeronaves abastecedoras, para abastecer a frota americana no Atlântico, quer a naval quer a aérea. Ponto final. É uma situação normal, que tem acontecido e pode acontecer", explicou Marcelo, em declarações aos jornalistas esta segunda-feira, em Luanda, Angola.
Essa notificação por parte dos Estados Unidos foi recebida "uns dias antes" do ataque ao Irão e não houve qualquer referência a essa investida.
"Não sei mais do que isso. Foi uns dias antes daquilo que aconteceu. Não só não tínhamos conhecimento como não havia nada na notificação que apontasse para isso", garantiu o Presidente da República.
Ainda em relação ao conflito no Médio Oriente, entre Israel e o Irão, Marcelo disse estar em sintonia com o Governo, mas também está em "linha com o secretário-geral da ONU" e com os vários "dirigentes e líderes europeus".
"O primeiro-ministro saiu com uma posição do Governo e eu fiz publicar uma nota sobre a posição do Presidente da República, que é muito simples. O Presidente naturalmente que esta em sintonia com o Governo, mas chama a atenção porque está também na linha do secretário-geral das Nações Unidas e de vários dirigentes e líderes europeus que se pronunciaram em três aspetos fundamentais: preocupação com a gravidade da situação, que é extremamente grave; apelo a contenção para evitar um agravamento da situação e que seja reaberta a via diplomática", sublinhou o chefe de Estado.
Já em relação ao aumento do investimento de Portugal na Defesa para 2%, o Presidente acredita que o país "está em condições" porque o "orçamento é muito flexível e permite acomodar essa subida".
"Acresce que muito recentemente esteve em debate no Parlamento Europeu a afetação de fundos não utilizados no quadro do Plano de Recuperação e Resiliência [PRR] que podem ser alocados a outros usos, eventualmente também em matéria de segurança. É um processo que está em curso na União Europeia, mas Portugal tem flexibilidade no orçamento para, até ao fim deste ano, preencher o requisito", acrescentou.
Israel lançou a 13 de junho uma ofensiva sobre o Irão, argumentando que o avanço do programa nuclear iraniano e o fabrico de mísseis balísticos por Teerão representam uma ameaça direta à sua segurança.
Desde então, aviões israelitas atacaram uma série de infraestruturas estratégicas, incluindo sistemas de defesa aérea, instalações de armazenamento de mísseis balísticos e as centrais nucleares de Natanz, Isfahan e Fordo, e foram também eliminados comandantes da Guarda Revolucionária, chefes dos serviços secretos e cientistas ligados ao programa nuclear iraniano.
As autoridades da República Islâmica indicaram que os bombardeamentos já fizeram pelo menos 400 mortos e 3.056 feridos, ao passo que o Governo israelita informou que os mísseis lançados pelo Irão em retaliação causaram a morte de 24 pessoas e ferimentos em 1.272, em território israelita.
Na madrugada de domingo, o conflito assumiu uma nova dimensão com a entrada dos Estados Unidos na guerra, bombardeando as três principais instalações envolvidas no programa nuclear do Irão, entre as quais a unidade de Fordo, com capacidade de enriquecimento de urânio a 60%, segundo os especialistas, e com o Presidente norte-americano, Donald Trump, a ameaçar o regime teocrático de Teerão de mais ataques, se "a paz não chegar rapidamente".
Teerão declarou na ONU que caberá às Forças Armadas iranianas decidir "o momento, a natureza e a escala da resposta proporcional do Irão" aos bombardeamentos norte-americanos, que terá, alertou, "consequências duradouras".
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