Ademir Moreno, natural da Praia, Cabo Verde, foi agredido à porta de uma discoteca na ilha do Faial, em março de 2024, tendo caído inanimado na via pública, com um hematoma craniano, acabando por vir a morrer no Hospital da Horta.
O julgamento iniciou-se no dia 05 de junho, no Tribunal de Angra do Heroísmo, na ilha Terceira, e hoje teve continuação, estando marcada uma nova sessão para 02 de julho.
Durante a tarde de hoje foram ouvidas sete testemunhas, faltando ainda ouvir outras nove.
A família pede que o agressor, de 24 anos, seja condenado por homicídio qualificado por ordem racial, mas o advogado de defesa rejeita que tenha havido uma motivação racial.
"O arguido assumiu ser o causador da morte, porque foi ele que desferiu o soco que veio a revelar-se fatídico. A única argumentação da defesa tem a ver com uma tentativa permanente de afastar o ódio racial, que não existe de facto", afirmou, em declarações aos jornalistas, o advogado de defesa, Elísio Lourenço, à saída da sessão.
"É uma situação de conflito e de briga, mesmo que haja componente de se tratar de brancos ou negros, não é o que provoca. É uma rivalidade apenas, mais nada", acrescentou.
A esposa do agredido considera, no entanto, que se tratou de um crime por ordem racial.
Em declarações aos jornalistas, Lurdes Ferreira disse ter ouvido testemunhas que relataram antecedentes do arguido e descreveram situações em que usou "palavras para pessoas de raça negra muito pouco agradáveis, com palavrões".
"Vou recorrer até à última instância, porque a morte do meu marido não pode ter sido em vão. Ele era uma excelente pessoa, um bom pai, um bom marido. Era um homem de bem com a vida, um excelente amigo, uma pessoa bem-disposta, inteligente e eu não posso deixar que ele tenha morrido impunemente só porque gostava de sair e de se divertir", salientou.
Trabalhador no ramo da construção civil, Ademir Moreno, de 49 anos, estava em trabalho na ilha do Faial, mas residia no continente.
A esposa disse que só conseguiu estar presente no julgamento, graças a uma doação anónima, para fazer face às despesas de deslocação e estadia.
Ao longo da tarde de hoje várias testemunhas, ouvidas por videoconferência, disseram ter assistido à agressão à porta da discoteca e relataram que o agressor deu um soco na vítima, que caiu inanimada no chão, tendo o arguido de seguida abandonado o local.
Nem todas as testemunhas confirmaram ter ouvido o arguido proferir palavras de teor racista, ainda que em alguns casos a Procuradora da República tenha alertado para discrepâncias entre o que foi dito em tribunal e o depoimento prestado à Polícia Judiciária e ao Ministério Público.
Segundo os relatos, antes da agressão houve uma briga entre a namorada do arguido e uma jovem de 17 anos com quem este trocou mensagens.
Foi ainda ouvida uma amiga do arguido, que tem familiares negros e que garantiu que o jovem lida com pessoas negras e nunca o viu ter atitudes racistas.
Já depois de terminar a sessão, foi organizada uma vigília à porta do tribunal, para exigir justiça e expressar solidariedade com a família da vítima.
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