Cena-STE condena agressão a ator e apela à participação em concentrações

O Cena-STE condenou hoje a agressão, na terça-feira, a trabalhadores de A Barraca, sobretudo ao ator Adérito Lopes, considerando que todos "foram vítimas de uma cobarde e bárbara agressão por um grupo de indivíduos ligados à extrema-direita".

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© Shutter Stock

Lusa
12/06/2025 19:30 ‧ ontem por Lusa

Cultura

A Barraca

"Infelizmente estes atos de violência não são singulares, em particular neste dia, o 10 de Junho, basta lembrar o assassinato de Alcindo Monteiro", em 1995, lembra, em comunicado, o Sindicato dos Trabalhadores de Espectáculos, do Audiovisual e dos Músicos (Cena-STE).

 

A "normalização de discursos reacionários, racistas, xenófobos e fascistas, e a frequência destes atos nos últimos anos exige uma resposta firme do Governo, acionando todos os meios legais para a responsabilização dos agressores", defende a estrutura sindical, sustentando que "o Governo tem de optar se continua a normalizar este discurso ou se se afasta dele, não contribuindo para a sua desvalorização".

Para o Cena-STE, é "urgente" reforçar "a unidade dos trabalhadores em defesa dos valores de Abril, a começar no respeito pela Constituição da República Portuguesa, lei fundamental do país que consagra o princípio da não-discriminação".

"Num momento em que forças fascistas e xenófobas procuram impor uma agenda de ataque aos direitos dos trabalhadores e pôr em causa as liberdades e garantias, a Cultura é resistência e os trabalhadores do setor continuarão unidos em defesa dos valores da Solidariedade e da Liberdade", sublinha o sindicato, que apela à participação "de todos os trabalhadores da Cultura" na concentração a realizar, no domingo, em Lisboa, em frente à sede de A Barraca.

Também haverá protesto em Coimbra, na Praça 8 de Maio, e no Porto, na Praça da Batalha.

Na terça-feira, Dia de Portugal, um ator da companhia de teatro A Barraca, Adérito Lopes, foi agredido por um grupo de extrema-direita, em Lisboa, quando entrava para o espetáculo com entrada livre "Amor é fogo que arde sem se ver", de homenagem a Camões.

Em declarações à agência Lusa, a diretora da companhia, a atriz e encenadora Maria do Céu Guerra, contou que a agressão ocorreu cerca das 20:00, quando os atores estavam a chegar ao Cinearte, no Largo de Santos e, junto à porta, se cruzaram com "um grupo de neonazis com cartazes, programas", com várias frases xenófobas, que começaram por provocar uma das atrizes.

Na quarta-feira, o Ministério Público confirmou à agência Lusa a abertura de um inquérito para investigar a agressão contra o ator.

Hoje, o advogado de Adérito Lopes, Ricardo Sá Fernandes, em declarações ao jornal Público disse esperar que a investigação ao ocorrido perto das 20:00 de terça-feira, em frente ao teatro Cinearte, em Lisboa, "vá mais longe" do que uma "mera agressão" e inclua "incitamento ao ódio".

A agência Lusa contactou o ator e o seu advogado, sobre agressão e a investigação, e aguarda resposta.

Por seu lado, Adérito Lopes, com o antigo ministro da Educação João Costa, assina hoje um artigo de opinião no semanário Expresso com o titulo "Não viveremos no medo que nos querem impor".

No dia 10 de junho, em que "saboreámos as palavras desassombradas de Lídia Jorge e o alerta claro do Presidente da República", foi também o dia em que "um dos autores deste texto foi barbaramente agredido por um neonazi", escrevem Adérito Lopes e João Costa no artigo conjunto.

Adérito Lopes e João Costa sublinham que foi o mesmo dia em que David Munir foi insultado por ser líder da comunidade islâmica e em que um grupo impune da extrema-direita marchou afirmando o seu "orgulho heterossexual", que mais não é do que o orgulho em odiar os outros, escrevem.

Há 30 anos, lembram ainda, Alcindo Monteiro foi assassinado "apenas por ser negro, apenas por ser jovem, apenas por ser".

"Porque odeiam tanto? Porquê um ator? Porque é que ninguém os trava? Porque é que não regulamos o ódio nas redes sociais? Porque é que continuamos a relativizar e a ocultar? Porque é que o presidente da Câmara de Lisboa fala, como se fossem iguais, extremismos à direita e outros crimes?", questionam os dois atores do texto.

E perguntam: Por que motivo o mais recente "relatório RASI [Relatório Anual de Segurança Interna] omite os crimes de ódio, numa tentativa de os retirar do debate público?"

"Porque é que uns continuam a construir perceções erradas sobre a imigração, quando estes crimes hediondos são praticados por cidadãos nascidos e criados em Portugal?"

Enquanto professores, João Costa e Adérito Lopes afirmam sentir que "Portugal precisa de se mobilizar muito fortemente para contrariar, denunciar e rejeitar o crescimento desta violência".

Uma tarefa "que cabe a todos", "em cada bairro, em cada café", "a políticos e não políticos", "crentes e não crentes, jornalistas, trabalhadores e reformados, novos e velhos, homens e mulheres. Todos somos convocados à luta pela sã celebração da diversidade como bem maior", sustentam.

E concluem: "Querem-nos com medo. Mas nós não temos.".

Leia Também: Teatro D. Maria prepara "protocolo de tolerância zero à discriminação"

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