"A paz, que - nunca o esqueçamos, foi o fundamento e objetivo do próprio processo de integração europeia -, só será garantida se avançarmos, de facto, com a política de defesa comum, investindo substancial e inteligentemente em indústrias e capacidades", advertiu hoje Durão Barroso, que liderou o executivo comunitário durante dois mandatos (2004-2014).
A Europa "tem de deixar de ser um adolescente geopolítico e deverá assumir a dimensão político-diplomática e de defesa que a grave situação internacional urgentemente reclama", argumentou, ao intervir na cerimónia dos 40 anos da assinatura do Tratado de Adesão de Portugal às Comunidades Europeias, no Mosteiro dos Jerónimos.
"Cada um dos nossos países precisa da escala europeia. A simples dimensão nacional não chega, só a escala europeia permite e garante a proteção e projeção dos nossos valores e dos nossos interesses", considerou o também antigo primeiro-ministro português.
No seu discurso, Durão Barroso deixou um aviso e um apelo: "É na União Europeia que se joga o futuro de Portugal e dos portugueses, assim saibamos estar à altura dos desafios".
"Portugal reúne todas as condições para continuar no centro da construção europeia e poderá apoiar os esforços em curso para a prosperidade e para a paz na Europa", defendeu.
Durão Barroso sustentou que a prosperidade só poderá ser alcançada se os países "fizerem muito mais pelo aumento da competitividade, por exemplo, aprofundando o mercado interno, completando a União Bancária, efetivando a União do Mercado de Capitais e investindo devidamente na ciência e tecnologia".
Em particular, salientou, "aquelas tecnologias que já estão a transformar radicalmente a conceção, produção e distribuição de bens e serviços e que em breve poderão determinar o próprio futuro da humanidade".
O antigo primeiro-ministro português comparou a adesão de Portugal às Comunidades Europeias, em 01 de junho de 1986, a um "segundo 25 de Abril", garantindo que "o novo regime político se consolidasse no espaço da liberdade e democracia".
Além disso, prosseguiu, a integração europeia de Portugal "não diminuiu a sua capacidade de atuação internacional, bem pelo contrário, potenciou e ampliou a sua influência na dimensão atlântica e no espaço dos países de língua portuguesa".
"A nossa adesão contribuiria muito para promover os próprios interesses dos países de língua portuguesa e para fazer avançar a causa de Timor-Leste, que então estava ainda no meio de uma indiferença quase geral, esquecida no seu reconhecimento do direito à autodeterminação e à independência", referiu, antes de concluir que a integração europeia abriu "ainda mais espaço para a projeção e afirmação da própria personalidade político-diplomática portuguesa".
Portugal "beneficiou e beneficiou imenso, com o efeito geral de modernização, que a integração europeia representou e com os apoios comunitários recebidos", salientou.
Na cerimónia intervieram também o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, o primeiro-ministro, Luís Montenegro, o presidente do Conselho Europeu, António Costa, e o comissário das comemorações dos 40 anos da adesão, o ex-eurodeputado Carlos Coelho.
Nos Jerónimos, o evento foi marcado por momentos culturais como o fado e cante alentejano, tendo estado presentes o presidente da Assembleia da República, José Pedro Aguiar-Branco, muitos membros do Governo, eurodeputados atuais e antigos, a comissária europeia Maria Luís Albuquerque, representantes de vários partidos políticos, além do candidato presidencial Luís Marques Mendes ou antigos ministros como António Vitorino, Luis Amado e Nuno Severiano Teixeira.
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