"No ano em que decorrem ainda as comemorações do cinquentenário do 25 de Abril, perdemos Eduardo Gageiro (1935-2025), que desde meados dos anos 1950 fotografou Lisboa, a perene e a extinta, a ditadura (incluindo Salazar), visitantes ilustres, artistas, celebridades, e, notavelmente, a revolução", escreve Marcelo Rebelo de Sousa, na mensagem publicada no 'site' da Presidência da República.
Marcelo Rebelo de Sousa lembra que "Salgueiro Maia, no dia 25 de Abril de 1974, reconheceu o fotojornalista de O Século Ilustrado, e deu-lhe acesso aos lugares onde decorriam os acontecimentos".
"A nossa memória visual do 25 de Abril deve assim muito às fotos de Gageiro, que também trabalhou para Associated Press, a Presidência da República e o Parlamento, tendo merecido distinções como o World Press Photo", prossegue o Presidente da República.
"Mais do que tudo", Eduardo Gageiro "ficou internacionalmente associado às imagens, e que imagens, do Portugal antigo e moderno".
"Presto-lhe a minha homenagem", conclui Marcelo Rebelo de Sousa.
Nascido em Sacavém, em 1935, Eduardo Gageiro deixa um vasto arquivo de uma obra de décadas que ilustra realidades políticas, sociais e culturais do país, modos de vida e personalidades diversas, num registo histórico desde a década de 1950 até à atualidade.
Durante a ditadura, captou imagens das condições precárias em que vivia grande parte da população portuguesa, tendo tido vários episódios em que foi preso pela PIDE, por causa das imagens 'inconvenientes' ao regime.
Empregado de escritório na Fábrica de Loiça de Sacavém, entre 1947 e 1957, "conviveu diariamente com pintores, escultores e operários fabris, que o influenciaram na sua decisão de fazer fotojornalismo", lê-se na biografia disponível no seu 'site' (http://www.eduardogageiro.com/).
Gageiro publicou a sua primeira fotografia aos 12 anos no Diário de Notícias, "com honras de primeira página", iniciando a atividade de repórter no Diário Ilustrado em 1957.
Ao longo da carreira trabalhou para as revistas O Século Ilustrado, Eva, Almanaque, Match Magazine, foi correspondente da agência Associated Press em Portugal, editor da revista Sábado e manteve uma longa atividade como 'freelancer'.
Eduardo Gageiro foi condecorado como comendador da Ordem do Infante D. Henrique e cavaleiro da Ordem de Leopoldo II, da Bélgica.
Entre as distinções da sua carreira, conta-se o World Press Photo em 1975, por uma imagem de António de Spínola, na clarividência da derrota iminente, com a passagem da História.
Foi nomeado "membro de honra" do Fotokluba Riga (ex-URSS), do Fotoclube Natron e da Novi Sad (ex-Jugoslávia), da Osterreichisdhe Fur Photographie, da Áustria, e recebeu o prémio de excelência da Fédération Internationale de l'art Photographique (FIAP), em Berna, na Suíça.
No II Congresso Internacional de Repórteres Fotográficos, realizado em S. Paulo, Brasil, em 1966, foi nomeado vice-presidente da organização.
Mestre Fotógrafo Honorário da Associação de Fotógrafos Profissionais desde 2009 é o único português com uma fotografia em exposição permanente na Casa da História Europeia, em Bruxelas, desde 2014, indica a sua biografia.
No início deste ano, a Câmara Municipal de Torres Vedras adquiriu o acervo do fotógrafo, que já se mantinha à sua guarda e conservação.
Até 13 de setembro está patente na Galeria Municipal de Torres Vedras a exposição 'Pela Lente da Liberdade', que parte desse acervo.
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