"O Guia de Etiqueta na Saúde Mental vai pela primeira vez juntar o tema das regras de etiqueta com o tema da saúde mental, promovendo assim a desmistificação deste segundo tema e dando a conhecer uma ferramenta chamada primeiros socorros psicológicos", disse à agência Lusa a coautora do guia e psicóloga da CVP, Susana Gouveia.
O lançamento do guia surge na sequência do projeto #EU4Health, financiado pela Comissão Europeia, que desde 2023 realiza sessões para capacitar a comunidade em primeiros socorros psicológicos e intervém junto de populações vulneráveis.
O livro tem como objetivo "mostrar o impacto que as regras de etiqueta têm, muitas vezes, na saúde mental" e iniciar uma discussão para consciencializar e desmistificar estes assuntos.
"Desde cedo, condicionamos aquilo que sentimos e a forma como nos exprimimos sobre certas emoções, tentando manter a aparência de uma vida sem percalços" e "um bom exemplo disso é a pergunta que fazemos já em forma de resposta: Está tudo bem?", que já condiciona, à partida, o que a outra pessoa vai dizer, lê-se no guia.
A psicóloga explicou que muitas vezes se responde a esta questão "com um sim, porque a pergunta já está enviesada para o bem" e quando a resposta for "não, está tudo mal, a pessoa do outro lado provavelmente fica sem chão e sem saber o que dizer".
O que se pretende com o guia é que as pessoas percebam que há pequenos detalhes que não necessitam de grande esforço, mas que fazem a diferença na interação com outras pessoas, diminuindo a diferença entre aquilo que se sente e o que se diz.
O guia vai estar disponível gratuitamente nas formações de primeiros socorros psicológicos e 'online', através de um 'website' próprio, e é publicado em português, inglês e ucraniano, as três línguas exigidas no âmbito do projeto.
Sobre os primeiros socorros psicológicos, Susana Gouveia explicou que não são apenas para situações extremas como guerras ou desastres naturais, aplicando-se também a situações emocionais do dia-a-dia como o diagnóstico de uma doença ou uma situação de desemprego.
Cada pessoa reage de forma diferente, e o que pode ser trivial para um pode ser devastador para outro e, como tal, os primeiros socorros psicológicos devem ser universais, acessíveis e compreensíveis para toda a comunidade.
"O que nos interessa é que se quebrem barreiras para falar de saúde mental, se desmistifique a saúde mental, porque acabamos por não falar sobre as coisas, porque está tudo bem, e vamos colocando para baixo do tapete, quando na prática estão várias coisas mal", o que leva a que as pessoas "andem em tipo panela de pressão e rebentam em qualquer situação menos ajustada", salientou.
Susana Gouveia acrescentou que o guia está escrito de "uma forma bastante acessível, com um tom de humor q.b., tratando os assuntos de uma forma bastante simples, sem ser simplista, e de uma maneira bastante leve, apesar de os assuntos às vezes serem pesados do ponto de vista do conteúdo".
Na sessão de lançamento, a CVP vai juntar vozes conhecidas, partilhar histórias reais e lançar um debate sobre a importância de saber como apoiar o outro em situações difíceis, deixando de lado o que as normas sociais dizem.
Além do guia, o projeto, "que está a chegar ao fim", vai deixar a sua marca em quatro cidades portuguesas com murais de arte urbana que representam os três princípios de ação dos primeiros socorros psicológicos: Ver, ouvir e ligar.
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