Incêndio. Representante da República para a Madeira pede "reflexão"
O representante da República para a Madeira defendeu hoje uma reflexão sobre o incêndio que deflagrou em 14 de agosto e correção dos erros, sob pena de as consequências serem piores no futuro.
© Global Imagens
País Madeira
"Se continuarmos a agir como até aqui, teremos fatalmente os mesmos resultados, e com consequências porventura muito mais graves do que as do último mês", alertou Ireneu Barreto, na cerimónia de comemoração do 523.º aniversário do município da Ponta do Sol.
No seu discurso, o juiz conselheiro deixou uma palavra de solidariedade às populações afetadas pelo incêndio que atingiu a Madeira em agosto, durante 13 dias, e agradeceu novamente às autoridades envolvidas na gestão e no combate, recordando que a Ponta do Sol "foi duramente atingida no seu património e nos terrenos e haveres de muitos dos seus munícipes".
"É imperioso que, a partir de agora, possamos refletir sobre o que sucedeu e sobre o que podemos fazer para no futuro não passarmos de novo por situações semelhantes", afirmou Ireneu Barreto, reforçando: "Se não corrigirmos aquilo que depende de nós corrigir, bem podemos recear não ter a mesma sorte do futuro".
O representante da República disse pouco entender de combate a incêndios, mas elencou "três certezas" que considera "evidentes".
"A primeira, se dúvidas ainda houvesse, é que as alterações climáticas vieram para ficar", realçou, acrescentando que a "segunda certeza" é que "neste como noutros assuntos o mais correto, o mais seguro e o mais barato é sempre apostar na prevenção".
"Pelo que é importante que os especialistas se pronunciem sobre formas de vigilância eficaz e permanente das nossas serras -- sejam torres de vigias, aumento de recursos humanos na vigilância da natureza, drones, meios aéreos tripulados, faixas corta-fogo e outros mecanismos que internacionalmente se recomendam", considerou.
Na opinião de Ireneu Barreto será também "importante que algumas práticas que, embora culturais, como engenhos pirotécnicos, queimadas agrícolas ou fogueiras na floresta sejam no atual contexto desaconselhadas e venham a ser estritamente controladas, com recurso a todos os mecanismos legais".
"Finalmente, a última certeza que vos deixo é que este debate é, tem de ser, mais técnico do que político", defendeu, apontando que, ainda que com divergências pontuais, "deve sempre prevalecer [...] o bem comum e o supremo interesse das populações".
"É imperioso que os poderes públicos, todos os poderes públicos, trabalhando em conjunto e cada vez mais próximos das populações que os elegeram, possam ouvir os técnicos e concertar estratégias de intervenção de longo prazo, que permitam dar solução aos problemas que envolvem os incêndios florestais", disse.
O presidente do parlamento regional, José Manuel Rodrigues, acrescentou que é preciso "repensar seriamente" o ordenamento do território, a expansão urbanística para zonas de risco, a gestão da floresta, a prevenção dos fogos rurais, o uso dos solos e a limpeza de terrenos.
"Do mesmo modo, é, ainda, importante repensar os meios terrestres e aéreos que devemos ter para combater a inevitabilidade de novos fogos face às nossas vulnerabilidades perante as alterações climáticas", apontou.
O incêndio rural na ilha da Madeira deflagrou em 14 de agosto nas serras do município da Ribeira Brava, propagando-se progressivamente aos concelhos de Câmara de Lobos, Ponta do Sol e Santana. No dia 26, ao fim de 13 dias, a Proteção Civil regional indicou que o fogo estava "totalmente extinto".
Dados do Sistema Europeu de Informação sobre Incêndios Florestais apontam para mais de 5.104 hectares de área ardida, embora as autoridades regionais tenham sinalizado 5.116.
Durante os dias em que o fogo lavrou, as autoridades deram indicação a perto de 200 pessoas para saírem das suas habitações por precaução e disponibilizaram equipamentos públicos de acolhimento, mas muitos moradores foram regressando a casa.
O combate às chamas foi dificultado pelo vento e pelas temperaturas elevadas, mas, segundo o Governo Regional, não há registo de feridos ou da destruição de casas e infraestruturas públicas essenciais, embora algumas pequenas produções agrícolas tenham sido atingidas, além de áreas florestais.
No âmbito da investigação judicial, foi já constituído um arguido.
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