Dois dos reclusos "entendiam-se bem" para fugir. "Já tinham tentado"
O antigo inspetor da Polícia Judiciária André Inácio apontou falhas na prisão em Alcoentre, Azambuja, de onde cinco reclusos fugiram no sábado. O responsável apontou ainda que a diminuição da segurança no estabelecimento prisional vem de medidas tomadas pelo Governo de António Costa, quando Eduardo Cabrita era ministro da Administração Interna.
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País Prisão
André Inácio, membro fundador do Observatório de Segurança, Criminalidade Organizada e Terrorismo (OSCOT) comentou, no sábado, a fuga dos cinco reclusos do Estabelecimento Prisional de Vale de Judeus.
"Importa apurar, sobretudo, as causas, para evitar que estas situações se repitam", começou por explicar o responsável, dando conta de que a cadeia da qual os homens fugiram com ajuda externa "era de alta segurança até que medidas implementadas pelo governo, em 2017, a tornaram numa prisão muito próxima das outras".
André Inácio, que também já passou pela Polícia Judiciária (PJ), explicou o que levou a esta caracterização. "Optou-se pelo videovigilância e anulou-se as torres de vigilância, que são, em todas as prisões do mundo, o elemento determinante para controlar o que se passa. Em vez se investir nos meios, optou-se por economizar. E isso tem custos. Desde 2017 que não há torres de vigilância nas prisões portuguesas", apontou.
O antigo inspetor revelou ainda que os reclusos Rodolf José Lohrmann e Fábio Santos Loureiro, que já tinham estado no mesmo estabelecimento prisional, "já tinham tentado uma fuga anteriormente" antes de seguirem para Alcoentre. "Foram transferidos, mas foram para o mesmo. Quando já estava demonstrado que tinham contactos cá fora para as fugas e entendiam-se muito bem para o fazer. Há aqui uma série de falhas do sistema", revelou.
O membro do OSCOT não hesitou quando questionado sobre a responsabilidade destas falhas e apontou para o Governo de António Costa, quando o ministro da Administração Interna era Eduardo Cabrita. "Decidiram que, por falta de meios, a melhor forma de se garantir a segurança nas prisões era eliminar as torres - porque isso implicava menos guardas - e substituir isso por videovigilância. As consequências são as que se veem", acusou.
André Inácio sublinhou ainda que a rede da prisão é "muito alta" e também um corredor que ronda os cinco metros, "que têm de atravessar e depois ainda tem o muro". Descrevendo que o muro que estes saltaram é chamado 'pescoço de cavalo', por ser "curvado para dentro, o ex-inspetor afirmou que era preciso saber se a corda que pode ter auxiliado "não estava já lá".
Foi também referida a escada que foi colocada com a "ajuda externa", segundo já era conhecido, e André Inácio aponta: "Tudo isto acontece nas barbas dos guardas prisionais, porque está tudo a trabalhar com câmaras de videovigilância [...]. Resta saber o que aconteceu da parte de dentro. Porque alguns deles estão na zona de alta segurança. Como é que conseguiram sair e chegar até ali? Além da responsabilidade institucional é preciso perceber que responsabilidades internas existem".
Recorde-se que cinco homens fugiram, no sábado, do estabelecimento prisional em questão, em Alcoentre, na Azambuja, distrito de Lisboa. Para além de dois portugueses, fugiu também um argentino, um georgiano e um britânico. As penas de prisão que cumpriam iam dos sete aos 25 anos de prisão - pelo 'meio', estão crimes estão tráfico de droga, associação criminosa, roubo, sequestro e branqueamento de capitais.
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