Investigadora pede mais literacia em relação ao assédio no trabalho

A coordenadora do Laboratório Português de Ambientes de Trabalho Saudáveis (LABPATS) defendeu hoje a necessidade de mais literacia em relação ao assédio no local de trabalho, lembrando que é um problema que afeta quase um em cada cinco trabalhadores.

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Lusa
16/05/2024 07:37 ‧ 16/05/2024 por Lusa

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LABPATS

"Custa muito dizer isto, mas ainda temos uma percentagem entre os 17% e os 19% de casos em que as pessoas dizem que foram alvo de ameaça ou de outra forma de abuso, físico ou psicológico, com insultos, ou que foram postas de lado. É muito", afirmou Tânia Gaspar de Matos, que coordenou o estudo que será hoje apresentado sobre ambientes de trabalho saudáveis.

A investigadora disse que falta literacia sobre o assédio no local de trabalho e exemplificou: "Quando devolvo estes dados às organizações, elas ficam sempre admiradas".

"Tem a ver também com literacia, é uma questão cultural. Às vezes as pessoas dizem: 'tem aquele feitio'. Mas não pode ser", constatou, referindo que, felizmente, as gerações mais novas "não estão para isto".

A psicóloga disse que as mulheres são mais afetadas pelo assédio no local de trabalho e afirmou que, muitas vezes, a vítima "ainda fica com dúvidas sobre se está a interpretar bem".

Insiste na importância de ensinar o que é o assédio, como se pode manifestar e que consequências tem para a saúde mental das pessoas.

"Nas escolas, começou a falar-se mais de bullying e a coisa melhorou (...). Se não tivéssemos feito esse caminho [de falar sobre bullying] isto não tinha acontecido", exemplificou.

Tânia Gaspar de Matos referiu que quem sofre de assédio, muitas vezes, "não faz queixa porque acha que [a queixa] vai ficar numa gaveta, ou que ainda ficará prejudicada" e defendeu a existência de um canal de denúncias, "transparente e externo à empresa", para que a pessoa "tenha segurança" no processo.

"Mesmo quando a queixa vai para a frente e a organização aceita, há outro problema jurídico: ou não há testemunhas, ou tem de se provar o assédio, o que não é fácil", acrescentou.

A psicóloga disse que "existe um perfil de vítima", sublinhando que as pessoas mais assertivas estão menos expostas ao risco.

"É preciso promover competências nas pessoas para serem mais assertivas e terem mais confiança, ganhando ferramentas para combater estas situações", defendeu.

O assédio pode envolver ações ou comentários intencionais, ofensivos e repetidos destinados a rebaixar deliberadamente a vítima ou a causar humilhação pessoal e, por vezes, também pode incluir isolamento social e exclusão intencional, críticas constantes e desproporcionais, controle excessivo ou até mesmo ameaças de demissão ou outras represálias, explicou.

Esclareceu que o assédio moral pode ser ascendente (do subordinado para o superior hierárquico) ou descendente, entre colegas ou organizacional, que é o que ocorre quando a cultura, as políticas e as práticas de uma organização promovem ou toleram comportamentos abusivos e discriminatórios.

O assédio moral no local de trabalho "afeta a saúde mental e o bem-estar dos profissionais numa perspetiva biopsicossocial", disse, referindo que pode provocar sentimentos de ansiedade excessiva e 'stress negativo' provocado por uma perceção de falta de controlo ou incapacidade de lidar com determinada situação.

Pode igualmente levar a situações de dificuldades de concentração e memória, distúrbios do sono, sintomas de tristeza ou depressão, mais ou menos graves, assim como de esgotamento físico e mental ('burnout') e, em casos extremos, pensamentos suicidas.

As mulheres, os trabalhadores com menor escolaridade, os profissionais com doença crónica, da função pública, pertencentes às gerações X (43 a 59 anos) e Y (29 aos 44 anos) e os que trabalham em organizações maiores são os que estão em maior risco.

Leia Também: Saúde mental dos profissionais deve preocupar empresas, diz estudo

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