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Revolução apanhou bispos reunidos em Fátima e causou preocupação

A revolução do 25 de Abril de 1974 aconteceu quando o episcopado português estava reunido em Fátima, sendo de preocupação a primeira reação perante "acontecimentos de caráter nacional" que "não deixarão de ter fundas repercussões na vida do povo".

Revolução apanhou bispos reunidos em Fátima e causou preocupação
Notícias ao Minuto

09:05 - 15/04/24 por Lusa

País 25 Abril

Perante a catadupa de notícias que iam surgindo sobre a evolução da revolta militar, a Conferência Episcopal da Metrópole -- assim se designava então o órgão que congrega os bispos católicos nacionais -- emitiu no final dos trabalhos da Assembleia Plenária um comunicado em que formulava "o voto de que tais acontecimentos contribuam para o bem da sociedade portuguesa, na justiça, na reconciliação e no respeito por todas as pessoas".

Apelava também "para as virtudes cívicas dos católicos e dos demais portugueses de boa vontade".

No livro "Memórias de um Bispo", Manuel de Almeida Trindade, à época bispo de Aveiro e presidente da Conferência Episcopal, escreveu que no momento em que o comunicado foi redigido, "não se podia dizer ou fazer mais".

Os prelados terão ficado "muito apreensivos" com as notícias do Telejornal do dia da revolução, e nos dias seguintes a Igreja não escondeu alguma incomodidade face ao primeiro embate, visível nas memórias de Manuel de Almeida Trindade que, perante a adesão popular às comemorações livres do 1.º de Maio, escrevia: "Uma autêntica embriaguez!".

E em 03 de maio de 1974, em Lisboa, realizou-se uma reunião do Conselho Permanente do episcopado, com as situações na Rádio Renascença - onde a administração se opusera a que se fizesse a reportagem em direto da chegada de Mário Soares e Álvaro Cunhal a Portugal -, e no diário católico Novidades, cuja publicação seria suspensa, a serem objeto de debate, a par da elaboração de uma nota pastoral sobre a atualidade política e social no país.

Nessa nota, a Igreja reconhecia que "não lhe são indiferentes as formas de estruturação da vida social, embora lhe não caiba propor modelos concretos e soluções técnicas para a sua efetivação".

"Estes modelos e soluções têm de ser encontrados pelo esforço conjugado de todos os cidadãos. Os leigos católicos, por vocação humana e cristã, devem participar generosamente neste esforço comum, garantindo aí a projeção do Evangelho", acrescentava o documento, onde os membros do clero eram encorajados a trabalhar "sem desânimo pela concórdia e pela paz", mas abstendo-se de "assumir cargos de direção ou militar ativamente em qualquer partido político".

Os efeitos da revolução iam chegar, também, ao interior da Igreja, com católicos a tomarem posições que colocavam em xeque a hierarquia e exigiam uma efetiva participação dos leigos nas decisões.

Manuel de Almeida Trindade lembra, no seu livro, uma proposta dirigida ao episcopado e aprovada numa reunião de cristãos em Lisboa: "Que esta assembleia envie aos bispos de Portugal um pedido de que, por espírito evangélico, se demitam voluntária e coletivamente das suas funções residenciais, dispondo nas mãos do povo cristão a sua continuidade ou não como bispos das dioceses a que presidam".

"A 'revolução dos cravos' tinha um mês. Este facto explica, só por si, ingenuidades deste quilate. Vivia-se num vulcão. Mas era apenas o princípio", escreveu o então presidente da Conferência Episcopal da Metrópole.

Mas, se a nova situação política no país causava apreensão no seio da Igreja, nos órgãos de informação essa situação não era muito vincada.

Assim, no próprio dia 25 de Abril, o jornal A Capital, numa breve na página 12, com o título "Conferência Episcopal da Metrópole", escrevia: "No Santuário de Fátima continuam os trabalhos da Conferência Episcopal da Metrópole. O Núncio Apostólico, mons. José Maria Sensi, participou nos trabalhos de ontem".

Dois dias depois, o mesmo vespertino, sob o título "Comentário da reunião plenária da Conferência Episcopal", dava conta do comunicado saído desta reunião e acrescentava também a informação sobre a posição da Conferência Episcopal sobre a situação da Igreja Católica em Moçambique, de onde foram expulsos o bispo de Nampula, Manuel Vieira Pinto, e 11 padres combonianos, na sequência da divulgação do documento "Imperativo de Consciência", no qual criticavam a "renúncia da Igreja em assumir a sua missão profética e libertadora" no meio da situação colonial que se vivia em Moçambique.

No mesmo dia, o Diário de Lisboa publicava a notícia "A Conferência Episcopal da Metrópole solidária com o bispo de Nampula", na qual dava também conta do comunicado saído da Assembleia Plenária dos bispos realizada em Fátima.

Já o Diário Popular, informava que "Os bispos da Metrópole formulam o voto de que os acontecimentos contribuam para o bem-estar da sociedade portuguesa", o mesmo acontecendo com o jornal República, apenas com pequenas alterações no título: "Que os acontecimentos ocorridos no país contribuam para o bem da sociedade portuguesa -- voto dos bispos portugueses".

Por sua vez, a Vida Mundial, de 03 de maio, numa notícia desenvolvida, revelava um "Episcopado solidário com o bispo de Nampula", na qual era feito eco também dos desejos dos prelados portugueses para a evolução da situação saída da revolução de 25 de Abril.

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