Linha entre Porto e Vigo só para passageiros "seria perder oportunidades"
O especialista espanhol em ferrovia Miguel Rodríguez Bugarín, autor de vários estudos para o Eixo Atlântico, considerou, em entrevista à Lusa, que construir uma linha de alta velocidade entre Porto e Vigo só para passageiros "seria perder oportunidades".
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País Ferrovia
"É uma linha que está conectada com o que é o corredor atlântico, portanto seria perder oportunidades lançar uma via exclusiva para passageiros", disse o professor da Universidade da Corunha à Lusa, numa entrevista telefónica.
O académico recordou que quando se fala em alta velocidade ferroviária, "já se sabe que se fala de muitos produtos diferentes".
"Há desde uma alta velocidade ao estilo de França, com tráfego exclusivo de passageiros a velocidades de 300 km/h ou mais, e isso é, por exemplo, o que temos entre Santiago e Ourense" ou entre Madrid e Barcelona, frisou.
Em contraste, há uma alta velocidade que ronda os 250 km/h, que "é o estilo de grande parte das linhas alemãs", inclusive "com um tráfego misto, de passageiros e de mercadorias", mas com a particularidade de não se misturarem nas mesmas faixas horárias, disse Miguel Rodríguez Bugarín.
"Entre a Galiza e o Norte de Portugal, creio que o que se está a planear é mais este tipo de solução, uma solução de tráfego misto", disse o académico à Lusa, algo que já se fez na região espanhola.
Miguel Rodríguez Bugarín observa que hoje em dia, entre a Corunha e Vigo, "é um pouco a linha que existe", já que "não é totalmente nova na sua totalidade, mas aproveitou-se o traçado antigo onde se pôde, porque tem uma geometria relativamente boa", algo que também aproveita a pouca distância entre as principais cidades.
"Além de ser uma zona de litoral, é uma zona muito povoada, e já se sabe que as linhas de alta velocidade a 300 km/h têm uns requisitos geométricos que evidentemente originam um impacto já sobre o tecido urbano e urbanizado muito mais importante", argumenta o especialista.
Segundo Miguel Rodríguez Bugarín, "a peça que falta é a saída sul [de Vigo], o prolongamento até à fronteira com o Norte de Portugal", e depois a ligação até ao Porto.
Para o autor de estudos como o Mapa Ferroviário da Galiza ou o Segundo Pacote de Infraestruturas do Eixo Atlântico, a possibilidade de circularem mercadorias na linha de alta velocidade também se justifica por se tratar de um "itinerário costeiro" que abarca "os principais portos da Eurorregião Galiza -- Norte de Portugal", como Leixões, Vigo ou Corunha.
"Hoje em dia assume-se em toda a Europa que, basicamente, ferrovia e portos têm que ir de mãos dadas" disse à Lusa.
Por agora, as ligações entre o Norte de Portugal e a Galiza cingem-se a um tráfego de comboios de mercadorias "escasso" e, para passageiros, a duas frequências diárias do comboio Celta em cada sentido, que circula a gasóleo numa linha eletrificada com tensões diferentes dos dois lados da fronteira.
O especialista defende que a "solução mais simples" para utilizar a eletricidade seria fazer o serviço com uma locomotiva bitensão, mas assinalou que a Renfe está com falta de material.
O presidente da CP, Pedro Moreira, disse aos jornalistas na semana passada que a transportadora portuguesa aguarda uma resposta da Renfe sobre a possibilidade de comprar ou alugar locomotivas bitensão para operar o Celta.
Miguel Rodríguez Bugarín assinalou ainda que a linha existente entre o Norte e a Galiza corresponde aos "antigos traçados que se construíram, maioritariamente, na segunda metade do século XIX", notando que se foi "melhorando a via, mas sem melhorar o traçado".
Assim, "as velocidades estão limitadas, e isso faz com que os tempos de viagem, hoje em dia, não sejam competitivos" face a meios de transporte alternativos.
"Não é porque não exista uma procura potencial que o poderia utilizar, mas é porque quando se vai ver quanto tempo levam as deslocações, há outras alternativas mais competitivas", como "o transporte em veículo privado mas também o autocarro", porque "utilizam infraestruturas mais modernas".
Miguel Rodríguez Bugarín crê que o necessário é, em Portugal e nas ligações transfronteiriças, "levar a cabo a mesma modificação, modernização, que se levou a cabo na Galiza", onde "entre a Corunha e Vigo, aumentou muito o tráfego de passageiros" ferroviários, graças a maiores velocidades, tarifas adequadas, boas frequências e bons horários.
"Esse é, do meu ponto de vista, o grande objetivo estratégico que devemos marcar entre a Galiza e o Norte de Portugal", vincou.
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