O ministro da Administração Interna, José Luís Carneiro, considerou, esta terça-feira, dia em que foram detidas 28 pessoas na sequência de uma megaoperação contra o tráfico de seres humanos no Alentejo, que haverá "muitas outras operações" semelhantes, tendo em conta os processos de inquérito em curso.

Em declarações aos jornalistas à margem da CNN Internacional Summit, no Porto, José Luís Carneiro começou por referir, após ser confrontado com o facto de, no ano passado, ter decorrido uma operação semelhante,  que o "problema não está nos imigrantes", mas sim "nas redes que se aproveitam das suas fragilidades".

"Há redes que se organizam, que são redes criminais, que atuam no auxilio à imigração ilegal. E, por vezes, em regra, o problema não está nos imigrantes, está nas redes que se aproveitam das suas fragilidades para os explorar. Aí as autoridades devem ser imperativas no exercício da sua autoridade e é isso que hoje, pela informação que disponho, a Polícia Judiciária fez", disse.

Lembrando que há vários inquéritos a decorrer e que, na transição do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras, deu "conta de que havia cerca de 800 processos de inquérito em curso", o ministro foi direto: "Portanto, muitas outras operações haverá".

"Temos de ser intransigentes no combate às redes de imigração ilegais", defendeu.

"O que hoje aconteceu mostra que as autoridades com competências de investigação estão a atuar. Neste caso foi o Ministério Público que, com o apoio da Polícia Judiciária, desenvolveu estas diligências, a par de outras operações que têm existido no país", considerou.

O governante admitiu ainda que os fluxos de migração são essenciais para "promover o rejuvenescimento demográfico da Europa", mas que esses "fluxos devem ser regulados" e "seguros".

Anteriormente, José Luís Carneiro havia notado que o quadro "muito complexo" a nível internacional exige da União Europeia uma "grande cooperação e uma voz firme".

"As ameaças à segurança nacional são grandes, na medida em que o quadro de guerra na Europa e no Médio Oriente, tem vindo a criar uma complexidade, nomeadamente nos fluxos irregulares de populações que procuram a paz, a segurança e o bem-estar", afirmou.

Além disso, outros riscos associados, considerou, são a "polarização política e radicalização das sociedades". "Muito particularmente a extrema-direita, que procura colocar em causa valores constitucionais fundamentais. É muito relevante que os partidos democráticos cooperem, dialoguem e que sejam capazes de estabelecer compromissos sobre o futuro coletivo", apontou.

Recorde-se que a PJ deteve 28 pessoas, esta manhã de terça-feira, na sequência de uma megaoperação contra o tráfico de seres humanos nas zonas de Évora e da vila de Cuba.

Segundo a PJ, os suspeitos, de nacionalidade portuguesa e estrangeira, "integram uma estrutura criminosa dedicada à exploração do trabalho de cidadãos imigrantes, na sua maioria aliciados nos seus países de origem, tais como Roménia, Moldávia, Ucrânia, Índia, Senegal, Paquistão, entre outros, para virem trabalhar em explorações agrícolas naquela região do nosso país".

Os indivíduos "encontram-se fortemente indiciados pela prática de crimes de associação criminosa, de tráfico de pessoas, de auxílio à imigração ilegal, de angariação de mão-de-obra ilegal, de extorsão, de branqueamento de capitais, fraude fiscal, ofensas à integridade física, posse de arma de fogo e falsificação de documentos".

Foi ainda possível apreender "vários elementos probatórios" e identificar "dezenas de vítimas".

[Notícia atualizada às 16h36]

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