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"Importante". Português deveria ser ensinado como língua na Guiné-Bissau

A linguista Margarita Correia defende que as crianças da Guiné-Bissau deveriam ser escolarizadas em crioulo e aprender português como língua estrangeira, ajudando a elevar o nível de literacia e a contribuir para o desenvolvimento pessoal e da sociedade guineense.

"Importante". Português deveria ser ensinado como língua na Guiné-Bissau
Notícias ao Minuto

09:12 - 13/11/23 por Lusa

País Margarita Correia

A professora da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e investigadora do Instituto de Linguística Teórica e Computacional (ILTEC), onde coordena o Portal da Língua Portuguesa, atribui à questão da linguística no ensino uma quota de responsabilidade na instabilidade política, pobreza e subdesenvolvimento que tem marcado a vida na Guiné-Bissau.

Cinquenta anos após a declaração unilateral da independência (25 de setembro de 1973), data que, por iniciativa do Presidente, Umaro Sissoco Embaló, vai ser assinalada na quinta-feira em Bissau - depois das comemorações promovidas pela Assembleia Nacional em setembro -, "o país tem muita instabilidade política e tem problemas de pobreza, sociais, etc.", tendo o ensino "sido completamente desprezado", salientou a especialista, em entrevista à Lusa.

"A Guiné-Bissau declarou o português como língua oficial, sendo que o português não é falado praticamente por ninguém. Só é falado pelas elites das cidades em situações formais ou quando precisam de falar com não guineenses", declarou.

Para Margarita Correia, afirmar que as crianças, quando entram para a escola, começam a ter aulas em português não passa de "teoria, porque na prática não é nada assim".

A linguista referiu o facto de a Guiné ser um país multiétnico e multilinguístico, com 30 etnias, cada uma com a sua língua própria, e de o crioulo ter sido desenvolvido para facilitar a comunicação entre as comunidades.

Na esmagadora maioria, as crianças chegam à escola sem conhecerem o português, com a agravante de os programas de português em vigor na Guiné-Bissau serem "muito semelhantes ao que se usava em Portugal no final da década de 70, início de 80, no pós 25 de abril, e são programas destinados ao português de língua materna, porque em Portugal o português é a língua materna da maioria das crianças que entram para a escola", afirmou.

Margarita Correia sublinhou que "o ensino de português como língua materna é feito de maneira diferente do português como língua estrangeira ou língua segunda", porque "a língua materna parte do pressuposto de que as crianças já falam português".

Ao contrário de Cabo Verde e de regiões de Angola e de Moçambique, onde o português surge como "língua segunda", ou seja, maioritária ou mesmo dominante, na Guiné-Bissau, "o português não chega a ser uma língua segunda, porque não é dominante na sociedade".

"O que defendo (...) é que se invista na formação de professores e que haja produção de materiais e investimento nas escolas, mas sobretudo que as crianças passem a ser alfabetizadas em crioulo, língua que eles conhecem - eventualmente para as minorias que não sabem crioulo, teria de ser arranjada outra solução -, e que depois comecem a introduzir a língua portuguesa no segundo ou no terceiro ano como língua estrangeira", declarou.

O importante é que "aprendam a ler e a escrever numa língua que elas conhecem", salientou.

"Imagine o que é aprender a ler e a escrever numa língua que não conhece", reforçou, insistindo na importância de o poder político reconhecer o crioulo, ou criol, como é designado na Guiné-Bissau, "como língua oficial ou como língua de escolaridade".

Margarita Correia insistiu na importância da escola para o desenvolvimento dos países, apontando os documentos das grandes organizações internacionais, como a ONU ou a OCDE, que destacam o papel de bons níveis de literacia para o exercício dos direitos de cidadania e o seu contributo "para o desenvolvimento pessoal e das sociedades".

A literacia "dá autonomia, permite resolver problemas", realçou.

Entre os líderes convidados para as cerimónias oficiais da independência, que coincidem com o dia das Forças Armadas, estão o Presidente e primeiro-ministro portugueses, Marcelo Rebelo de Sousa e António Costa, mas o programa oficial ainda não foi divulgado.

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