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Igreja para "todos, todos, todos", mas não é "tudo, tudo, tudo"

Uma das mais fortes mensagens deixadas pelo Papa Francisco na Jornada Mundial da Juventude de Lisboa foi a de uma Igreja para "todos, todos, todos", mas Américo Aguiar avisa que não se pode traduzir por "tudo, tudo, tudo".

Igreja para "todos, todos, todos", mas não é "tudo, tudo, tudo"
Notícias ao Minuto

07:11 - 28/09/23 por Lusa

País JMJ

"Isto é um caminho que estamos a fazer. Aliás, escusado será dizer que, quanto mais o Papa dizia 'todos', mais eu ficava feliz. E quando em Fátima, o Papa diz - e ele é magnífico, porque tem os textos que estão feitos e, a certa altura é capaz de ler a sua audiência e o contexto e rapidamente se focar - que a Igreja é como esta igreja [Santuário de Fátima], não tem portas, toda a gente entende. Nós não temos o direito de barrar a ninguém o acesso a Cristo", explica Américo Aguiar.

O homem que, a partir de sábado, passa a integrar o grupo de cardeais da Igreja Católica é, no entanto, perentório a alertar: "Agora, 'todos, todos, todos' não se traduz por 'tudo, tudo, tudo'. Quem ama, quem quer, quem cuida, sabe que o Pai ama, quer e cuida, [mas] isso não quer dizer tudo, tudo, tudo".

"Ou seja, o nós chamarmos a atenção, o nós corrigirmos, o nós termos considerações, não significa menos amor, menos entrega e menos dedicação, pelo contrário. Portanto, o 'todos, todos, todos', na minha interpretação, é que nós não temos o direito de vedar a ninguém o acesso a Cristo", diz Américo Aguiar, em entrevista conjunta à agência Lusa e à agência Ecclesia.

"A partir do momento em que a pessoa chegou a Cristo, o meu trabalho, a minha fé é que Cristo opere no coração dessa pessoa e a converta", acrescenta.

Recorde-se que o primeiro-ministro António Costa é recebido hoje pelo Papa, no Vaticano, para agradecer a escolha de Portugal para a realização da Jornada Mundial da Juventude e a visita de Francisco ao país realizada em agosto.

E, além das mensagens do Papa, no rescaldo da Jornada Mundial da Juventude, o que ficou para a Igreja em Portugal?

Para já, "vamos tendo notícias do país, das dioceses, no arranque, na retoma. Aliás, há dias, li uma coisa muito interessante, a diocese de Coimbra vai arrancar, ou anunciou, um Sínodo da Juventude. A diocese A, a diocese B, com outras atividades. Isso é fundamental, porque nós acordámos, nós abanámos, nós retirámos do sofá os jovens. Agora não podemos permitir que eles regressem ao sofá".

Recordando que o Papa na exortação apostólica 'Christus vivit' (Cristo Vive) defende que os jovens devem ser convidados para a missão, para arregaçar as mangas e trabalhar, ir ao encontro das periferias, ir ao encontro das pessoas, Américo Aguiar frisa que "os jovens gostam disso".

"Nós sabemos que qualquer jovem, se o convidarmos para a missão, para ajudar aqui, naquele bairro, naquela coisa, os jovens vão, querem limpar a praia, apanhar plásticos, apanhar beatas do chão, todos querem. [Mas], se convidarem: Ó meus amigos, amanhã temos terço às seis e meia na igreja de não sei de onde, bem, quer dizer, alguns não sabem o que é o terço, alguns nunca rezaram, alguns não sabem quem é Cristo. Isto coloca aqui um conjunto de limitações", afirma.

Neste contexto, Américo Aguiar advoga que "o convite à missão é urgente", mas avisa que "isso tem o lado do 'back office', e dá muito trabalho, é muito exigente".

"Vamos ter muito trabalho a fazer, naquilo que é, na realidade de cada diocese, o aproveitar a maior riqueza da Jornada Mundial da Juventude em Portugal, que foi descobrir em todo o país, norte, sul, litoral, interior, continente e ilhas, milhares de jovens portugueses que estiveram a preparar a Jornada e que estão em prontidão para corresponder ao que a igreja lhes proporcionar", afirma.

E para o conseguir é preciso continuar a "provocar" nos jovens o desejo de alcançar as metas, nomeadamente fazer com que não sejam "administradores de medos, mas empreendedores de sonhos", como o Papa pediu aos jovens no encontro na Universidade Católica Portuguesa.

"Se queremos inaugurar um tempo novo, os jovens têm de reconquistar o gosto, vontade e a coragem de sonhar, porque, quando nós falamos que os jovens não têm emprego, ganham pouco; não podem comprar casa; compraram casa, mas não têm como pagar; não podem ter filhos; têm filhos, mas não têm onde os deixar, vamos todos ficar um bocadinho deprimidos", sublinha.

Outro dos legados da JMJ foi a aplicação da lei da amnistia, que levou à libertação de mais de quatro centenas de jovens.

Américo Aguiar aponta a importância deste gesto na devolução de esperança a alguém.

"O importante da amnistia foi, humanamente, nós devolvermos esperança a alguém que cometeu uma falha na sua vida. Isto é profundamente humano e ultrapassa a questão religiosa. Quando eu disse ao Papa da possibilidade de amnistia, o Papa ficou felicíssimo exatamente neste registo. Um de nós comete um crime, a sociedade impõe uma pena, nós cumprimos essa pena, é humano termos a capacidade de devolver esperança a essa pessoa", acrescenta, lamentando as críticas que se ouvem sobre as libertações ao abrigo desta decisão extraordinária.

"Uma coisa é estar a falar com o presidiário ou a sua família, e outra coisa é estar a falar com a família das vítimas ou com a vítima. São totalmente diferentes. O sentimento é totalmente diferente e eu compreendo e conheço os dois. Agora, a grandeza de tudo isto (...) é que quem sofreu as consequências dos atos graves do que tem estado limitado na sua liberdade tem esta grandeza de aceitar que humanamente nós temos de ser maiores do que aquele que cometeu o crime e temos de lhe dizer: 'nós vamos-te devolver um pozinho de esperança'", afirma o futuro cardeal.

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