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Escolhas vocacionais? Segregação sexual perdura, alerta estudo do CES

As escolas não estão a conseguir contrariar estereótipos que levam à segregação sexual das escolhas vocacionais dos estudantes, que continua elevada, conclui estudo do Centro de Estudos Sociais (CES) de Coimbra.

Escolhas vocacionais? Segregação sexual perdura, alerta estudo do CES
Notícias ao Minuto

10:27 - 05/05/23 por Lusa

País Escolas

Faltam ações e políticas concretas, as boas práticas e exemplos de algumas escolas não são visibilizados nem replicados e muitos dos agentes educativos (professores e psicólogos) não reconhecem o problema, com as escolas a assumirem-se como espaços de reprodução de estereótipos, ao invés de os combater, disse à agência Lusa a investigadora do CES Lina Coelho e coordenadora do estudo "Fronteiras de Vidro - Custos e fatores da segregação profissional e educativa para homens e mulheres".

O estudo, que foi desenvolvido entre 2020 e 2023 e cujos resultados foram apresentados na quinta-feira, conclui que a segregação sexual se mantém, centrando-se no ensino secundário profissional, referiu Lina Coelho.

De acordo com o projeto de investigação, há cursos do ensino profissional público com mais de 90% de frequência masculina (onde se incluem áreas como veículos a motor, metalurgia, eletrónica ou tecnologias de informação), e outros com uma participação feminina inferior a 30%, como é o caso das áreas da agricultura, desporto ou construção civil.

Já as áreas de cabeleireiro e estética, educação ou saúde têm uma presença feminina maioritária (mais de 80%).

"O diagnóstico dessas estatísticas permite perceber que a formação profissional no ensino secundário pública é ainda mais segregada em termos de género do que o próprio mercado de trabalho", vincou a investigadora.

Para além do estudo quantitativo, o projeto realizou 'focus groups' e entrevistas a psicólogos escolares e professores, bem como a empregadores que acolhem estagiários das escolas, maioritariamente na região Centro.

"Desta análise mais qualitativa, resulta a conclusão de que as conceções estereotipadas continuam muito predominantes, não apenas nas empresas, mas também no próprio sistema de ensino. A sensibilidade à igualdade de género é muito reduzida no setor da educação", constatou Lina Coelho.

Apesar de haver exceções e "bons exemplos", esses não encontram "capacidade reprodutiva" e acabam por não ser replicados, vivendo do voluntarismo de dirigentes escolares ou professores, referiu.

"Há uma necessidade imperiosa de formar as pessoas para a igualdade de género e logo na formação básica na universidade, nas licenciaturas em psicologia e na formação de professores", defendeu.

Segundo a coordenadora do projeto, as escolas continuam "espaços de produção de estereótipos" e o problema não é reconhecido pelos agentes educativos.

"Quando professores e psicólogos não reconhecem o problema não se age sobre ele. Eu creio que o problema é reconhecido em termos políticos, mas depois, de facto, não há atuações efetivas que proporcionem esta sensibilização de forma generalizada", afirmou Lina Coelho.

Numa sociedade em que continua a persistir a ideia de profissões para homens ou para mulheres, os estereótipos são interiorizados pelas jovens e suas famílias, que não encontram nas escolas qualquer tentativa de os contrariar, aclarou.

Esse problema acaba por ter reflexos em perspetivas de carreira e de remuneração, com as jovens a acabarem por escolher áreas onde os salários são mais baixos, em detrimento de outras, como é o caso das tecnologias, onde há uma maioria de rapazes a ingressar nos cursos.

"Atendendo às tendências do mercado de trabalho e aos padrões de remuneração excecionalmente elevados nessas áreas e com muitas oportunidades de trabalho, é incompreensível, é irracional as mulheres não escolherem estas áreas", constatou.

Com um mercado de trabalho atual e futuro que valoriza a área das tecnologias, prevê-se que a desigualdade salarial se mantenha ou até possa ser acentuada face à segregação sexual que se continua a assistir na hora dos mais jovens escolherem os seus percursos de formação, alertou.

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